O Brasil é a Flórida dos cancelados, uma espécie de resort pra psicopatas
Somos um Eldorado escravocrata, destino final de todos os dejetos do norte, do Dr. Rey ao glifosato à cloroquina
Escrevo de um lugar estranho: o dia de ontem. Por aqui, ainda não fazemos ideia do que terá dado na telha do famigerado eleitor da Pensilvânia, esse enigma que o mundo há meses tenta decifrar.
Tudo indica, daqui de ontem, que Trump vai perder. Mas não significa que nossos problemas acabaram. Temos, no Brasil, longa tradição em receber, de braços abertos, ditadores, genocidas e escravocratas.
O Brasil é a Flórida dos cancelados, um resort pra psicopatas. Mengele, o nazista conhecido como anjo da morte, morreu velho, na praia de Bertioga, nadando tranquilamente.
Stroessner, ditador sanguinário do Paraguai, veio curtir uma aposentadoria tranquila, onde morreu de velho.
Somos uma espécie de Xanadu dos psicopatas, uma Shangri-lá dos genocidas, um Eldorado escravocrata, destino final de todos os dejetos do norte, do Dr. Rey ao glifosato à cloroquina.
Tudo que o americano considera lixo tóxico tem brasileiro que vai considerar ouro.
Quando o norte venceu o sul na Guerra de Secessão, muitos confederados não se adaptaram ao fato de que não poderiam mais ter escravos.
“Agora eu vou ter que pagar pela mão de obra? E em quem vou bater? Somente nos meus filhos? Desculpem, não tem a mesma graça.”
Vieram, então, pro Brasil, onde ainda podiam ter escravos à vontade.
Convidados pelo imperador dom Pedro 2º, milhares deles se mudaram pro Brasil —entre eles Robert e Mary McIntyre, bisavós do meu avô— sim, se não fôssemos tão receptivos ao refugo, eu não estaria aqui.
O imperador não só lhes deu incentivos fiscais como foi recebê-los no porto. Criaram a cidade de Americana, onde viviam a realidade paralela em que o sul tinha vencido. Promoveram linchamentos, pra não perder o hábito. Espancaram até a morte Joaquim Firmino, delegado que se recusava a prender escravos fugidos.
Tenho medo de que Trump, impopular e ameaçado de prisão, não tenha outro lugar senão o Brasil pra se refugiar. E que junto dele venha uma corja.
Já vejo o Brasil invadido por estupradores de cabelo laranja, policiais sanguinários, fazendeiros armados até os dentes, todos à procura de um país onde violência policial, assédio sexual e combustível fóssil ainda estejam na moda.
Imagino as ruas com zumbis de boné vermelho, dando cloroquina pras nossas crianças, linchando ativistas, tomando Lysoform até morrer. E o pior, tendo filhos, que terão filhos, e seus bisnetos vão ter que fazer terapia duas vezes por semana pra tentar expiar a culpa herdada dos seus ancestrais.
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