terça-feira, 6 de abril de 2021

Que religião é essa?


Que tipo de líder religioso quer aglomerar no auge da pandemia? Só o tipo que trata a fé como mercadoria e não se importa com a vida humana. 


Certos temas têm de ser enfrentados na sua plenitude. É falso dizer que não se trata de um debate religioso manter o fechamento de igrejas e templos para missas e cultos no auge da pandemia de coronavírus no Brasil.

Esta não deve ser apenas uma discussão jurídica ou sanitária. Do ponto de vista sanitário, tem de fechar porque as pessoas se infectam, adoecem e morrem ao se aglomerar. É consenso entre os especialistas que missas e cultos presenciais são bons para o coronavírus e perigosos para as pessoas.

Juridicamente, é certo apoiar governadores e prefeitos que querem igrejas e templos fechados em benefício da saúde pública. Apesar do grau de impopularidade da medida, é a coisa politicamente correta a ser feita neste momento.

Mas este também é um debate sobre religiosidade.

A liberdade religiosa não está ameaçada. As pessoas podem continuar a exercê-la sem precisar se aglomerar numa hora de tragédia sanitária.

Que crença é essa que se sente tolhida pelo impedimento temporário de frequentar um culto presencial?

Que tipo de líder religioso quer arregimentar fiéis no pior momento da pandemia?

Só o tipo que trata a fé como mercadoria e não se importa com a vida humana. Na sua maioria, são bispos e pastores preocupados em arrecadar o dízimo sem se preocupar se seus fiéis correrão o risco de morrer.

É injusto generalizar. Mas é evangélica a maioria dos religiosos que deseja manter os templos abertos. Nesse segmento, há forte apoio ao presidente Jair Bolsonaro, que implementa uma política sanitária genocida ao adotar uma estratégia irresponsável de imunidade de rebanho.

Nas últimas décadas, cresceu no Brasil o número de bispos e pastores que transformou a fé num modo de vida, enriquecendo, sobretudo, à custa dos mais pobres. Há igrejas evangélicas que montaram verdadeiras franquias para fazer dinheiro Brasil afora. Todas as igrejas contam com imunidade tributária. Ou seja, não pagam impostos, o que é injusto com o conjunto da sociedade.

Cada vez mais enfraquecido politicamente devido ao desastre do seu governo, Bolsonaro se agarra a quem pode. No caso, ele tem tido ótima aliança com líderes de igrejas evangélicas que vão se vacinar nos Estados Unidos mas, uma vez no Brasil, pregam a aglomeração de fiéis sem imunização.

A fé de Bolsonaro está mais para fake news do que para uma religiosidade autêntica. Trata-se de um presidente que dá provas reiteradas de não se importar com a vida das pessoas, comportamento semelhante ao da parcela de bispos e pastores que quer fazer cultos presenciais quando o Brasil bate recorde de mortes por covid-19.

Uma religiosidade verdadeira e empática não agiria com a irresponsabilidade de Bolsonaro e de seus mercadores da fé. Para piorar a situação, essa gente tem no Supremo Tribunal Federal um ministro como Nunes Marques, que, no sábado, decidiu liberar missas e cultos nacionalmente.

Entre os danos que Bolsonaro causa ao Brasil, a indicação de dois ministros para o Supremo será um dos mais prejudiciais, porque terá longa duração a presença na corte de figuras sem preparo para a função. Outro malefício de Bolsonaro é usar e abusar da religiosidade para manipular politicamente eleitores.

Que ninguém se engane. Bolsonaro, Nunes Marques e esses bispos e pastores oferecem a paz dos cemitérios aos brasileiros.

O Supremo Tribunal Federal tem o dever de derrubar a decisão de Nunes Marques nesta quarta-feira. É imperativo corrigir uma irresponsabilidade negligentemente homicida de quem se submete aos cálculos eleitorais do genocida e sacrifica o interesse maior da saúde pública.

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