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sábado, 17 de outubro de 2020

Por que os evangélicos fundamentalistas usam Jesus para justificar a brutalidade militar

Ilustração: The Intercept Brasil

Para o evangélico radical, Jesus não é da paz. É um líder militar apocalíptico, e ele é parte de seu Exército – junto com o Exército regular.


Vez por outra, meu velho chamava o moleque aqui para ir ao trabalho dele. Era representante de autopeças, negócio chato, mas que permitia andar de carro pela Grande São Paulo inteira. Em um dia como qualquer outro, na oficina de um cliente seu, fomos apresentados a uma figura excêntrica e exuberante. Era um homem baixinho, robusto, careca – na época, idos de 1988, me fazia pensar no Mestre dos Magos, da Caverna do Dragão. Mestre e mago, de certa forma, ele era.

Usando dos equipamentos da oficina, ele recarregava munição, preenchia cartuchos com pólvora, fixando as balas em cima. Erguendo uma de suas criações, me disse: “Isto é uma bala dum-dum. Ela é oca. Quando acerta, se divide em pedacinhos”, fazendo um gesto de guarda-chuva com mão. “Ninguém sobrevive. Já uma bala de fuzil bate e faz uma curva”, mostrou, inclinando o dedo para cima. “Se acertar na perna, tem que amputar”.

O homem fabricava munição, dessa forma precária, para seu negócio: um estande de tiro, que ficava atrás de sua casa. Mas o estande não era seu único negócio, nem o principal. Ele era um pastor pentecostal. Dizia ter sido capelão do Exército, vindo da Assembleia de Deus, mas agora estava lançando sua carreira solo, criando sua própria denominação, que ficava literalmente na garagem de casa.

Ele convidou meu pai a dar uns tiros e dar uma passada num culto. Fez os dois.

Sua igreja se chamava Exército Celestial. Usava uma batina, diferente de qualquer pastor que vi antes ou depois, mas adiantando a tendência da Igreja Universal em copiar símbolos católicos. Certamente ajudou a cravar a figura dele em minha memória como o Mestre dos Magos. E seria nessa igreja que me tornaria menino-pastor.

Costumava achar essa história apenas engraçada. O pastor Mestre dos Magos era um personagem de comédia policial, um maluco “durão” com fantasias violentas que não chegava a realizá-las – ou não na tela –, como o Tuckleberry de Loucademia de Polícia ou, hoje, Rosa e Pimento, de Brooklyn 99. Cheguei a ver ele atirando, quando um culto foi interrompido por assaltantes (vi, não; ouvi, porque me esconderam atrás dos bancos). Não acertou uma, os assaltantes correram, ninguém saiu ferido.

Pessoas distantes do pensamento fundamentalista costumam estranhar essa forma tão aparentemente violenta de cristianismo. Como pode o mesmo Jesus, que inaugurou a era do Deus do amor e do perdão, superando o Deus implacável do Velho Testamento, servir para justificar militarismo, armamentismo, brutalidade militar e policial, milícia?

Mas o “general Jesus” não é nem de longe uma excrescência ou invenção recente. É uma interpretação da Bíblia com raízes históricas profundas, que não está limitada a fundamentalistas evangélicos. Seu nome é milenarismo.

Comecemos pelo começo. Ou, melhor, o fim. O último livro da Bíblia. O Apocalipse. Uma igreja é milenarista quando acredita que a profecia do reino de mil anos do messias no Apocalipse é literal. Isto é, que vai haver, fisicamente, a batalha do Armagedom, na qual Jesus e seus exércitos vencerão as forças militares do Anticristo. Não em uma batalha etérea e incorpórea, mas física, entre pessoas, com tanques, drones, caças. Após o Armagedom, Jesus reinará por mil anos como líder planetário. Após esse período, o Milênio, chega o Juízo Final. Essa não é a visão do catolicismo nem das denominações protestantes históricas europeias, que ensinam que o milênio é alegórico – são amilenaristas.

“A dimensão de um apocalipse está em movimentos messiânicos e milenaristas [como os fundamentalistas evangélicos]”, afirma Jacqueline Moraes Teixeira, doutora em antropologia social e professora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, a USP, ela própria ex-evangélica. “O Messias que aparece nessas histórias não é o Messias conciliador dos Evangelhos, mas é o Messias que volta para constituir seu Exército para vencer a batalha que marca o fim dos tempos e a instauração de um novo mundo”, explica.

Veja então que o milenarista tem dois “Jesuses”: o do passado, o “hippie” da Judeia que todo mundo reconhece, e o do futuro, que está mais para Rambo. A belicosidade é resultado do foco que dão ao Jesus do futuro.

Para quem acredita que Jesus voltará para matar pessoas, passagens bíblicas brutais, que outros cristãos consideram ultrapassadas, ganham nova relevância e se tornam parte central da mensagem. Um hino bastante tradicional diz o seguinte:

Vem com Josué lutar em Jericó
Jericó, Jericó
Vem com Josué lutar em Jericó
E as muralhas ruirão

Suba os montes devagar
Que o senhor vai guerrear
Cerquem os muros para mim
Pois, Jericó chegou ao fim

O tema no caso é a (não comprovada historicamente) conquista de Canaã pelos hebreus. No Velho Testamento, Josué é o sucessor de Moisés como líder do povo escolhido. Mas diferentemente de Moisés, é um líder militar. Um general. O Livro de Josué narra a conquista de Canaã, território atual de Israel e Cisjordânia, mais partes da Jordânia, Síria e Líbano.

O Livro de Josué é basicamente a narrativa de um genocídio. Um por um, os povos cananeus são escravizados ou exterminados até a última criança. Às vezes, o próprio Deus dá uma mão, fazendo cair os muros da citada Jericó, fazendo chover pedras do Céu, fazendo o Sol e a Lua pararem no céu. Mas a maior parte do trabalho é mesmo pelas espadas e tochas dos hebreus.

“Velho Testamento”, dirão cristãos moderados. A era de um Deus furioso, antes de mandar a si próprio para ser sacrificado para perdoar nossos pecados. Os fundamentalistas acreditam na mesma coisa, que a vinda de Jesus tornou obsoleto o Velho Testamento. A diferença é que, para eles, o futuro será como o passado.

O antropólogo (e ex-pastor, hoje ateu) Vinícius Esperança, professor da Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro, lembra que o militarismo não está só na letra, mas no estilo. “É importante nessas igrejas a ideia de marchar com Cristo.”

É uma das muitas heranças de um movimento nascido nos Estados Unidos. Sua tradição musical é importada. Seu ritmo é o de marcha militar, um estilo pensado para unir a tropa. Marcha, não marchinha: assim como os fundamentalistas rejeitam Carnaval como um festim diabólico, e música brasileira tradicional por ser africanizada, ligada às religiões afro-brasileiras, vistas como coisa do Diabo.

O evangelismo fundamentalista é um movimento que nasce militarizado por conta do contexto em que nasceu: os EUA pós-Guerra Civil (1861-1865) e da expansão para o Oeste (1832-1912). Como afirma Jacqueline Teixeira: “Essa retórica teológica [fundamentalista] está relacionada à Guerra de Secessão. O imaginário que essa guerra vai produzir é recuperado pelo movimento missionário pentecostal”.

Há uma imensidão de fatores em como uma guerra civil massiva mexe com o imaginário de uma nação. Entre tantas coisas, a guerra enaltece a figura do militar, criando seus heróis e uma multidão de veteranos. E gera memórias violentas. É um caldo cultural onde o pensamento apocalíptico milenarista floresce.

E a outra parte desse caldo é o Velho Oeste. Uma situação na qual colonos civis cristãos enfrentavam, com violência, os indígenas pagãos e contavam com apoio dos militares. Os cristãos americanos tomando território indígena – numa missão sagrada de cumprir o Destino Manifesto do país – facilmente se reconheciam na figura de Josué conquistando Canaã, eliminando inimigos por ordem divina. “Isso estabelece o imaginário de um cristianismo que se pensa por violência e disputa territorial e política”, afirma a antropóloga.

E ela nota uma ponte importante: o catolicismo brasileiro tem uma história parecida. É também um cristianismo colonizador. Antes mesmo da colonização, os portugueses haviam se firmado tomando territórios islâmicos, na Reconquista Ibérica (711-1492). As Forças Armadas brasileiras se fundam nesse catolicismo colonial, reimaginando os símbolos de um Império oficialmente católico numa República supostamente secular, criada num golpe militar em 1889. “Dom Pedro I, em quadros republicanos, aparece não paramentado como um rei, mas como um militar”, lembra a Jacqueline Teixeira.

Assim já há um campo preparado para a aceitação de um protestantismo militarizado num país com um pensamento militar católico. E pouca coisa pode ser mais impactante em explicar essa aliança entre crentes fundamentalistas e militares – em sua maioria católicos, principalmente no comando – do que as histórias coletadas pelo antropólogo Vinícius Esperança em seu trabalho no Rio de Janeiro, que ele considera o tubo de ensaio do fundamentalismo evangélico que passou ao resto do país.

Esperança estudou as comunidades evangélicas nas favelas e em outras partes da cidade. “O Rio foi um experimento para o Brasil”, afirma. “Por dez anos, foi capital internacional em megaeventos [como megacultos]. O aumento das operações de GLO [Garantia da Lei e da Ordem], infelizmente nos governos de Lula e Dilma, as UPPs [Unidade de Polícia Pacificadora], a Ocupação da Favela da Maré, isso tudo aconteceu com um apoio muito próximo das redes evangélicas, especialmente pentecostais locais.”

Segundo o pesquisador, essas operações simplesmente excluíram todas as ONGs e todas as lideranças de igrejas afro-brasileiras: “Diziam: isso não pode, tem que ser cristão. Precisava de uma identificação ideológica, e eles detestavam as ONGs, que eram todas esquerdistas. Porque pastores e generais têm um projeto de cidadania em comum”.

No meio policial e militar, as metáforas bélicas dos fundamentalistas assumem uma forma bem literal. “Não passa pela cabeça do policial crente essa questão de laicidade; isso é coisa de intelectual”, diz Esperança. “Eles entendem ‘a gente está aqui porque Deus abriu essa porta para a gente’. Teve uma reunião entre pastores e militares que terminou com brados de ‘O Complexo [da Maré] para Jesus!’”. Um exemplo transparente do domínio territorial do cristianismo colonialista aludido por Jacqueline Teixeira.

E não, não são policiais que chegam perguntando se você já ouviu falar de Nosso Senhor Jesus Cristo, como testemunhas de Jeová no domingo de manhã. “Tem um grupo aqui no Rio chamado Tropa de Louvor”, lembra. “São policiais do Bope que fazem shows em igrejas, em espaços públicos. Eles vão de preto, todos de preto, e cantam músicas de batalha. Eles se veem como agentes divinos mesmo. Então, quando chega na favela atirando, matando, isso é plenamente justificado. É uma guerra santa mesmo. Deus colocou essa missão de limpeza da sociedade para ele. Quando ele mata o bandido, está matando satanás.”

“O cara mata e dorme com a consciência tranquila, vai pra igreja, não tem nenhuma análise”, afirma o antropólogo. E, para não dizer que não falamos em flores, nota: “Tem igreja no Rio, na Barra da Tijuca, um bairro novo, rico, que é igreja dos milicianos, notória por ter milicianos. Inclusive frequentada por sobrenomes Bolsonaro”.

Não é preciso muito esforço para ver como a simpatia pelo militarismo se estende à ditadura militar e justifica suas atrocidades. “O ideário militar defende que é preciso passar por um processo de crise para se obter a vitória”, afirma a antropóloga Jacqueline Teixeira. Guerra leva à paz. Guerra leva à liberdade. Guerra é um mal necessário para combater um mal maior. Foi assim na ditadura militar, o período “de crise” para “salvar a democracia”, como se prega nos quartéis. “É um imaginário que se estabelece sem fazer oposição entre militarismo e regime democrático. Então, as pessoas não sentem que estão com seus direitos civis em risco quando veem, por exemplo, uma gestão com 12 ministros militares entre 22.”

Como os militares, os fundamentalistas enxergam no projeto bolsonarista a mais pura democracia, bem melhor que a democracia corrupta da “esquerda” católica ou ateia. E essa é uma missão sagrada. A brutalidade policial ou militar se torna uma cruzada. E que Deus separe os mortos maus dos bons.

Essa quase literal bomba deixo no seu colo, cristão progressista: não será o ateu iconoclasta aqui a convencer fundamentalistas que não existe essa guerra. É preciso outro cristão para isso.

Você está pronto para essa batalha?

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

ÁUDIOS: Nova matéria da #VazaJato



Live com a nova matéria da #VazaJato, com Leandro Demori e Amanda Audi.

Áudios obtidos com exclusividade pelo The Intercept Brasil revelam como a corregedoria do MPF atuou para abafar confissão de procurador.

segunda-feira, 12 de agosto de 2019

YouTube é uma máquina de criar ódio no Brasil


O @nytimes publicou hoje uma matéria sobre como o YouTube fomenta a extrema direita no Brasil sugerindo constantemente vídeos de extrema direita. No @TheInterceptBR, @yaso escreveu sobre como isso funciona na prática: 

Em um experimento, @yaso abriu um vídeo sobre martelos e deixou a reprodução automática ligada para ver quais vídeos seriam sugeridos. As indicações chegaram em como fazer uma munição para uma arma semi-automática.
Tudo o que um usuário faz no youtube influência as indicações. E essas sugestões têm um único objetivo: fazer com que as pessoas passem mais tempo na plataforma. Os vídeos de extrema direita, mais provocativos e cheios de teorias da conspiração, alcançam esse objetivo.

Em outro texto, Marcelo Thompson mostrou como o Marco Civil da Internet, para impedir a censura, deixou as plataformas de internet isentas da responsabilidade sobre o conteúdo postado em seus meios. Mas qual é o custo dessa liberdade?

Sem o incentivo a práticas responsáveis de moderação de conteúdo, vídeos conspiracionistas recheados de fake news se espalham facilmente. E os vídeos se alimentam de algo viral: o ódio. Simbolicamente, diz Thompson, o marco elegeu @jairbolsonaro:

A reportagem do @nytimes trouxe ainda dois exemplos de canais de extrema direita sugeridos no Brasil: @moura_101, descrito como “o guitarrista que virou conspirador”, e o do bernardopkuster. Os dois canais já foram recomendados por @jairbolsonaro como “fonte de informação no YouTube”. O presidente já conheceu pessoalmente Nando Moura, e foi entrevistado por ele em mais de uma oportunidade. 

@jornalismowando escreveu para @TheInterceptBR sobre esses blogueiros, que são apoiados publicamente por @jairbolsonaro:

Os conspiracionistas do YouTube incentivam o ódio e linchamentos com raízes no submundo da internet, criando um ecossistema do ódio, como diz @Debora_D_Diniz. A @lolaescreva também foi vítima disso e contou sua história:

domingo, 21 de julho de 2019

Vaza Jato: Deltan Dallagnol sugeriu que Sergio Moro protegeria Flávio Bolsonaro para não desagradar ao presidente e não perder indicação ao STF

‘E AGORA, JOSÉ?’
Deltan Dallagnol, em chats secretos, sugeriu que Sergio Moro protegeria Flávio Bolsonaro para não desagradar ao presidente e não perder indicação ao STF
Glenn Greenwald, Victor Pougy
Procuradores concordaram não haver dúvidas de corrupção de Flávio Bolsonaro no caso Queiroz, mas Dallagnol só queria comentar caso de petista.
Em chats secretos, Deltan Dallagnol, coordenador da operação Lava Jato, concordou com a avaliação de procuradores do Ministério Público Federal de que Flávio Bolsonaro mantinha um esquema de corrupção em seu gabinete quando foi deputado estadual no Rio de Janeiro. Segundo os procuradores, o esquema, operado pelo assessor Fabrício Queiroz, seria similar a outros escândalos em que deputados estaduais foram acusados de empregar funcionários fantasmas e recolher parte do salário como contrapartida.

Dallagnol disse que o hoje senador pelo PSL Flávio Bolsonaro, filho do presidente da República, “certamente” seria implicado no esquema. O procurador, no entanto, demonstrou uma preocupação: ele temia que Moro não perseguisse a investigação por pressões políticas do então recém eleito presidente Jair Bolsonaro e pelo desejo do juiz de ser indicado para o Supremo Tribunal Federal, o STF. Até hoje, como presumia Dallagnol, não há indícios de que Moro, que na época das conversas já havia deixado a 13ª Vara Federal de Curitiba e aceitado o convite de Bolsonaro para assumir o Ministério da Justiça, tenha tomado qualquer medida para investigar o esquema de funcionários fantasmas que Flávio é acusado de manter e suas ligações com poderosas milícias do Rio de Janeiro.

O escândalo envolvendo Flávio, que vinha dominando as manchetes, desapareceu da mídia nos últimos meses. A investigação, nas mãos do Ministério Público do Rio, parece ter entrado em um ritmo bem mais lento do que o esperado para um caso dessa gravidade. Moro tampouco dá sinais de que está interessado nas ramificações federais do caso – como o suposto empréstimo de Queiroz para a primeira-dama, Michelle Bolsonaro. Nas poucas vezes em que respondeu a questionamentos sobre a situação do filho do presidente, ele repetiu que “não há nada conclusivo sobre o caso Queiroz” e que o governo não pretende interferir no trabalho dos promotores. Entretanto, o caso voltou aos noticiários na segunda-feira, 15 de julho, quando o presidente do STF, Dias Toffoli, atendeu ao pedido de Flávio Bolsonaro e suspendeu as investigações iniciadas sem aprovação judicial envolvendo o uso dos dados do Coaf, órgão do Ministério da Economia que monitora transações financeiras para prevenir crimes de lavagem de dinheiro.

No dia 8 de dezembro de 2018, Dallagnol postou num grupo de chat no Telegram chamado Filhos do Januario 3, composto de procuradores da Lava Jato, o link para um reportagem no UOL sobre um depósito de R$ 24 mil feito por Queiroz numa conta em nome da primeira-dama, Michelle Bolsonaro. Segundo o texto, a “transação foi apontada como “atípica” pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) e anexado a uma investigação do Ministério Público Federal, na Lava Jato”. “Queiroz movimentou R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017. A comunicação do Coaf não comprova irregularidades, mas indica que os valores movimentados são incompatíveis com o patrimônio e atividade econômica do ex-assessor”, escreve o UOL.

A notícia levou Dallagnol a pedir a opinião dos colegas sobre os desdobramentos do caso, e sobre como seria a reação de Moro. A procuradora Jerusa Viecilli, crítica da aproximação de Moro com o governo Bolsonaro, respondeu “Falo nada … Só observo 👀”. Dallagnol manifestou sérias preocupações com a forma que o ministro da Justiça conduziria o caso, sugerindo que o ex-juiz poderia ser leniente com Flávio, seja por limites impostos pelo presidente ou pela intenção de Moro de não pôr em risco sua indicação ao Supremo: “É óbvio o q aconteceu… E agora, José?”, digitou o procurador. “Seja como for, presidente não vai afastar o filho. E se isso tudo acontecer antes de aparecer vaga no supremo?”, escreveu. Dallagnol completou, sobre o presidente: “Agora, o quanto ele vai bancar a pauta Moro Anticorrupcao se o filho dele vai sentir a pauta na pele?”

8 de dezembro de 2018 – grupo Filhos do Januario 3 

Dallagnol – 00:58:15 – [imagem não encontrada]
Dallagnol – 00:58:15 – [imagem não encontrada]
Dallagnol – 00:58:38 – COAF com Moro
Dallagnol – 00:58:40 – Aiaiai

Julio Noronha – 00:59:34 – 🙈🙈🙈

Dallagnol – 01:04:40 – [imagem não encontrada]

Januário Paludo – 07:01:20 – Isso lembr

Paludo – 07:01:48 – Lembra algo Deltan?

Paludo – 07:03:08 – Aiaiai

Jerusa Viecilli – 07:05:24 – Falo nada ... Só observo 👀 

Dallagnol – 08:47:52 – Kkk

Dallagnol – 08:52:01 – É óbvio o q aconteceu... E agora, José?

Dallagnol – 08:53:37 – Moro deve aguardar a apuração e ver quem será implicado. Filho certamente. O problema é: o pai vai deixar? Ou pior, e se o pai estiver implicado, o que pode indicar o rolo dos empréstimos?

Dallagnol – 08:54:21 – Seja como for, presidente não vai afastar o filho. E se isso tudo acontecer antes de aparecer vaga no supremo?

Dallagnol – 08:58:11 – Agora, Bolso terá algum interesse em aparelhar a PGR, embora o Flávio tenha foro no TJRJ. Última saída seria dar um ministério e blindar ele na PGR. Pra isso, teria que achar um colega bem trampa

Athayde Ribeiro Costa – 08:59:41 – É so copiar e colar a ultima denuncia do Geddel

Roberson Pozzobon – 09:02:52 – Acho que Moro já devia contar com a possibilidade de que algo do gênero acontecesse

Pozzobon – 09:03:19 – A questão é quanto ele estará disposto a ficar no cargo com isso ou se mais disso vir

Dallagnol – 09:04:38 – Em entrevistas, certamente vão me perguntar sobre isso. Não vejo como desviar da pergunta, mas posso ir até diferentes graus de profundidade. 1) é algo que precisa ser investigado; 2) tem toda a cara de esquema de devolução de parte dos salários como o da Aline Correa que denunciamos ou, pior até, de fantasmas.

Dallagnol – 09:05:54 – Agora, o quanto ele vai bancar a pauta Moro Anticorrupcao se o filho dele vai sentir a pauta na pele?

Andrey Borges de Mendonça – 09:21:16 – Uma vez pedi no caso da custo brasil e o pt alegou q era impenhorável segundo a lei eleitoral. O juiz acabou desbloqueando sem ouvir a gente. Mas confesso q nao sei se procede.

Paludo – 09:37:52 – Tem que investigar. E isso que ele sempre diz. Na pior das hipóteses, Podem ir os anéis (filho e mulher), mas ficam os dedos. Seria muito traumático o general assumir no lugar dele.

Viecilli – 10:06:32 – [imagem não encontrada]
Viecilli – 10:06:51 – 😂😂😂 

Dallagnol – 10:22:31 Rsrsrs
Dallagnol – 10:39:47 – [imagem não encontrada]
Dallagnol – 10:41:04 – [imagem não encontrada]

Antonio Carlos Welter – 10:52:11 – O $$ termina na conta da esposa. Vao argumentar que alimentou a campanha. Periga terminar em AIME

A força-tarefa da Lava Jato e os procuradores citados no texto foram procurados para comentários, mas não responderam até a publicação da reportagem. Se o fizerem, atualizaremos o texto.

A situação de Moro – como investigar um caso de corrupção envolvendo o filho do presidente que o indicou ao cargo, ou, ainda corrupção envolvendo o próprio presidente e seus familiares? – levou Deltan a considerar evitar entrevistas sobre foro privilegiado por temer perguntas sobre o caso envolvendo Flávio.

No mesmo dia que o grupo conversou sobre o caso Queiroz, Dallagnol conversou com Roberson Pozzobon, também procurador na operação Lava Jato, em um chat privado. Eles aprofundaram a preocupação com entrevistas nas quais a situação de Flávio Bolsonaro poderia ser abordada.

Ao contrário de sua usual ânsia em falar publicamente sobre outros casos de corrupção, Deltan deu a entender que estava relutante em fazer uma condenação mais severa de Flávio por temer as consequências políticas de desagradar o presidente – exatamente como sugeriu que Moro pudesse agir.

8 de dezembro de 2018 – chat privado

Roberson Pozzobon – 09:12:41 – Em entrevistas, certamente vão me perguntar sobre isso. Não vejo como desviar da pergunta, mas posso ir até diferentes graus de profundidade. 1) é algo que precisa ser investigado; 2) tem toda a cara de esquema de devolução de parte dos salários como o da Aline Correa que denunciamos ou, pior até, de fantasmas.

Pozzobon – 09:13:05 – Tava escrevendo esse tuíte agora mesmo

Pozzobon – 09:13:11 – “Informação de que um ex-assessor do deputado estadual e senador eleito pelo PSL, Flávio Bolsonaro, movimentou 1,2 milhão de reais entre 2016 e 2017”. Se deve ser investigado? É certo que sim. É para isso que servem os relatórios de inteligência financeira do COAF. Pontuar as suspeitas no meio de bilhões de transações diárias 
https://www.terra.com.br/noticias/brasil/movimentacao-atipica-de-ex-assessor-de-flavio-bolsonaro-pode-levar-a-investigacao,8bb3ff45edd7744a4cad8dab9d014e87963u9zqu.html

Dallagnol – 10:04:00 – Não sei se convém o nível 2. Não podemos ficar quietos, mas é neste momento um pouco como com RD. Vamos depender dele pra reformas... Não sei se vale bater mais forte

Pozzobon –10:07:15 – Pois é
Pozzobon – 10:07:26 – To na msm dúvida

Depois de sugerir diferentes declarações que poderiam dar sobre o caso de Flávio, Dallagnol concluiu: “Só pode ser lido como chapa branca”. Pozzobon concordou e deu o seu veredito: “O silêncio no caso acho que é mais eloquente”.

Um mês e meio depois, no dia 21 de janeiro de 2019, no mesmo grupo, Dallagnol disse ter sido convidado pelo Fantástico, da rede Globo, para uma entrevista sobre foro privilegiado (a emissora preferiu não comentar o assunto). O procurador estava ansioso para falar do caso que a produção do programa indicou ser o foco da matéria – denúncias envolvendo o deputado federal Paulo Pimenta, do PT –, mas relutou em aceitar o convite por receio de que tivesse que falar também das tentativas de Flávio Bolsonaro de usar o foro privilegiado para barrar as investigações, mesmo que o caso tenha ocorrido quando ainda era deputado estadual, antes de sua posse como senador.

Dallagnol expressou sua relutância, calculando que o risco de ter que tratar do assunto era maior que os eventuais benefícios da entrevista: “Eu não vejo que tenhamos nada a ganhar porque a questão do foro já tá definida.” Os colegas da Lava Jato concordaram que a melhor opção era rejeitar o convite do Fantástico para evitar o que chamaram de um “bola dividida Flávio Bolsonaro” (a emissora preferiu não comentar o assunto).

21 de janeiro de 2019 – grupo Filhos do Januario 3

Dallagnol – 16:44:44 – [mensagem encaminhada] Pessoal, temos um pedido de entrevsita do fantástico sobre foro privilegiado. O caso central é bom, envolvendo o Paulo Pimenta, se isso for verdade rs. O risco é eles decidirem no fim focar no Flávio Bolsonaro eusarem nossas falas nesse outro contexto. De um modo ou de outro, o que temos pra falar é a mesma coisa. Além disso, algumas informações que buscam não temos (são da PGR). A questão é se é conveniente darmos entrevista para essa reportagem ou não. Eu não vejo que tenhamos nada a ganhar porque a questão do foro já tá definida. Diferente de uma matéria sobre prisão em segunda instância...

Dallagnol – 16:44:44 – [mensagem encaminhada] Dr., Geovani, da RBS vai mandar e-mail pedindo entrevista com vc para o Fantástico. Matéria ésobre foro privilegiado. Eles levantaram uma história sobre o Paulo Pimenta que responde a um processo que desceu do STF. E tb vão abordar a questão do caso do filho do Bolsonaro/Queiroz.

Dallagnol – 16:44:44 – [mensagem encaminhada] Ele pediu a entrevista para até quarta-feira. Assim que o e-mail chegar, colocamos aqui.

Dallagnol – 16:44:44 – [mensagem encaminhada] Prezados, boa tarde Domingo, iremos exibir, no Fantástico, uma reportagem na qual iremos abordar um processo por estelionato a que o deputado Paulo Pimenta responde no Supremo. Teremos uma entrevista exclusiva de um primo dele, laranja de um esquema envolvendo compra e venda de arroz, com envolvimento do ex-diretor do Dnit, Hideraldo Caron. Essa suspeita contra o Pimenta será nosso principal case numa reportagem sobre os casos em que políticos perderam o foro, devido ao entendimento do Supremo de que a prerrogativa só existe para crimes cometidos durante o mandato e que dizem respeito ao mandato. Assim, citaremos também o caso F. Bolsonaro, que surgiu após o início da nossa apuração. Iremos incluir, ainda, um levantamento do STF mostrando a quantidade de processos que baixaram para o primeiro grau, os políticos que possuem maior número de processos, etc. Assim, pergunto se o doutor Deltan poderia gravar conosco, para falar dos reflexos da restrição do foro para os envolvidos na Lava-Jato e também sobre a questão do foro, em si. Vocês tem um levantamento de quantos políticos investigados estão nessa situação, ou seja, já estão respondendo no primeiro grau? Já dá pra afirmar que esses processos estão tramitando de forma mais rápida? Quantos recorreram para manter os procedimentos no STF? No aguardo Muito obrigado

Dallagnol – 16:44:48 – O que acham?

Julio Noronha – 16:50:02 – Acho q não é uma boa; além da bola dividida Flávio Bolsonaro, e de ser pauta já definida pelo STF, Paulo Pimenta já nos representou algumas vezes

Antonio Carlos Welter – 16:59:18 – Pelo Pimenta não vejo problema. O ruim é a bola dividida. Mas não dividir pode ser pior. Fica seletivo

Welter – 17:03:00 – Se falar em tese, não vejo problema. Mas e a Raquel, não vai chiar de novo?

'Xiiiiiiiii'

Os diálogos fazem parte de um pacote de mensagens que o Intercept começou a revelar em 9 de junho – série conhecida como Vaza Jato. Os arquivos reúnem chats, fotos, áudios e documentos de procuradores da Lava Jato compartilhados em vários grupos e chats privados do aplicativo Telegram. A declaração conjunta dos editores do The Intercept e do Intercept Brasil (clique para ler o texto completo) explica os critérios editoriais usados para publicar esses materiais.

Em outras conversas privadas, procuradores do MPF também comentaram o escândalo envolvendo Flávio Bolsonaro e Queiroz. “Não tenho dúvida de que isso é mensalinho”, escreveu o procurador regional da República Danilo Dias, acrescentando em seguida “No mesmo esquema de Mato Grosso com Silval Barbosa”.

Uma discussão ocorreu no dia 11 de dezembro de 2018, quando, num grupo chamado Winter is Coming, a subprocuradora-geral da República Luiza Frischeisen compartilhou um link para uma matéria do Jornal Nacional sobre o caso. O telejornal explicou que “a análise do relatório do Coaf revela que a maior parte dos depósitos em espécie na conta do ex-motorista de Flávio Bolsonaro coincidem com as datas de pagamento na Assembleia Legislativa do Rio” e que “o Coaf apontou que Fabrício teve uma movimentação suspeita de R$ 1,2 milhão durante um ano.”
A subprocuradora, que havia enviado o link original, recapitulou o conhecido esquema de corrupção e previu os próximos passos da investigação: “Pessoas da mesma família empregá-la , depósito de parte dos salários de servidores em dias de pagamento, outros depósitos , resta saber quem recebia os saques . Agora vem a quebra do sigilo. Vamos aguardar a investigação geral do MPRJ quanto aos assessores”. Frischeisen está na lista tríplice escolhida pelos membros do MPF para substituir a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, cujo mandato se encerra em setembro.

Uma outra procuradora do MPF, Hayssa Kyrie Medeiros Jardim, explicou que o esquema praticado por Flávio se tratava de “Esquema equivalente ao descoberto na Dama de espadas”. Em seguida, a procuradora compartilhou um artigo da Tribuna do Norte, publicado no dia 12 de novembro de 2018, que revelava o funcionamento de um esquema similar na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte. No caso, uma organização criminosa formada por servidores e ex-presidentes da casa realizou desvios milionários por meio de um esquema com funcionários-fantasma.

Frischeisen comparou o caso de Flávio a um outro, também no Rio de Janeiro, envolvendo a deputada estadual Lucia Helena Pinto de Barros, conhecida como Lucinha, “acusada de desviar dinheiro público em contratação de funcionário fantasma”. Citando uma nota do MPRJ, a procuradora disse que “MPRJ já fez denúncia sobre caso semelhante envolvendo funcionário fantasma”, indicando que haveria precedente para uma denuncia contra Flávio. No decorrer da conversa, nenhum dos procuradores discordou da declaração enfática de que Flávio teria praticado corrupção.

Segundo a revista Veja, que teve acesso ao documento que embasou a quebra de sigilo de Flávio Bolsonaro, o Ministério Público do Rio de Janeiro vê indícios que sugerem a prática dos crimes de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa no gabinete do então deputado. O caso seria, então, ainda mais grave do que os outros casos citados pelos procuradores.

11 de dezembro de 2018 – grupo Winter is coming

Danilo Dias – 22:09:47 – Não tenho dúvida de que isso é mensalinho

Dias – 22:10:10 – No mesmo esquema de Mato Grosso com Silval Barbosa

Anna Carolina Resende – 22:10:48 –        
                                          
Hayssa Kyrie Medeiros Jardim – 22:11:18 – Xiiiiiiiii

Luiza Frischeisen – 22:13:46 – Pessoas da mesma família empregá-la , depósito de parte dos salários de servidores em dias de pagamento , outros depósitos , resta saber quem recebia os saques . Agora vem a quebra do sigilo . Vamos aguardar a investigação geral do MPRJ quanto aos assessores .

Roberto Dassié – 22:15:11 – [áudio não encontrado]

Jardim 22:15:12 – Esquema equivalente ao descoberto na Dama de espadas


Um mês depois, no dia 17 de janeiro, os assessores de imprensa de Dallagnol, num grupo de chat privado entre o procurador e os profissionais, trataram de uma solicitação enviada pelo então repórter do Intercept Rafael Moro Martins (hoje editor em Brasília), que cobrava um posicionamento oficial de Dallagnol sobre o caso envolvendo Flávio Bolsonaro e Queiroz. Na mensagem, o repórter observou que o procurador vinha sendo “ativo nas redes sociais em assuntos que não dizem respeito à atuação da FT e do MPF.”

Dallagnol comentou as repetidas cobranças nas redes sociais por um posicionamento mais contundente sobre o caso Queiroz: “vi mta cobança na rede social, mas achava que eram mais robos”. Sua assessoria, no entanto, disse que a cobrança era orgânica e previsível: “era previsível, sim”, “essa cobnrança não é só de robôs”, “os jornalistas tb estão atentos”.

Foi então que a assessoria elogiou Dallagnol por seu posicionamento firme em relação ao caso de Flávio. “isso reforça o apartidarismo”, escreveu um assessor em um chat. O assessor também criticou a posição de Moro: “saem contar que a fala de Moro sobre Queiroz foi muito ‘neutra’. não teve firmeza, sabe? para muita gente, pareceu que Moro quis sair pela tangente”. Ele, a assessoria disse, “ficou em cima do muro”.

A preocupação do assessor de Dallagnol sobre as motivações de Moro no caso envolvendo Flávio foi enviada no chat em janeiro, pouco mais de um mês depois do próprio procurador debater o caso com os colegas.

No chat, Dallagnol não disse nada em resposta às críticas e à aparente disposição de Moro – famoso por sua severidade contra corrupção – de proteger Flávio. Essa conversa, entretanto, ocorreu cerca de dois meses depois que o coordenador da força-tarefa da Lava Jato, como demonstrado previamente pelo Intercept, ter dito à procuradora Janice Ascari, num chat privado: “sobre a saída do Moro pro MJ, mas temos uma preocupação sobre alegações de parcialidade que virão . . . tenho medo do corpo que isso possa tomar na opiniã pública.”

Moro já foi questionado diversas vezes sobre sua aparente apatia diante não somente da investigação sobre a corrupção de Flávio, mas também de outros escândalos envolvendo o governo Bolsonaro, como as denúncias de que o PSL teria utilizado um esquema de laranjas nas eleições de 2018. Quando perguntado, Moro em geral alega não ter controle sobre a Polícia Federal, como fez novamente em entrevista concedida ao Correio Brasiliense no começo de julho: “A PF está apurando os fatos e deve chegar a conclusões. E à medida que estão sendo feitas as diligências, (elas) estão sendo informadas ao presidente”.

A afirmação de Moro de que ele não tem controle sobre a Polícia Federal – em resposta às críticas de que ele protegeu Bolsonaro e PSL – deveria ser vista com muito ceticismo. Durante anos, ele também insistiu que não desempenhou nenhum papel nas operações da Lava Jato, algo que as reportagem do Intercept, da Folha e da Veja provaram ser claramente falso.


quinta-feira, 18 de julho de 2019

Mais crimes da Lava Jato: Mensagens apontam que Moro interferiu em negociação de delações


Mensagens apontam que Moro interferiu em negociação de delações
Conversas mostram divergência entre procuradores da Lava Jato sobre condições apresentadas pelo então juiz para aceitar acordo

Ricardo Balthazar, da Folha
Paula Bianchi, do The Intercept Brasil

Mensagens privadas trocadas por procuradores da Operação Lava Jato em 2015 mostram que o então juiz federal Sergio Moro interferiu nas negociações das delações de dois executivos da construtora Camargo Corrêa, cruzando limites impostos pela legislação para manter juízes afastados de conversas com colaboradores.

As mensagens, obtidas pelo The Intercept Brasil e examinadas pela Folha e pelo site, revelam que Moro avisou aos procuradores que só homologaria as delações se a pena proposta aos executivos incluísse pelo menos um ano de prisão em regime fechado.

A Lei das Organizações Criminosas, de 2013, que definiu regras para os acordos de colaboração premiada, diz que juízes devem se manter distantes das negociações e têm como obrigação apenas a verificação da legalidade dos acordos após sua assinatura.

O objetivo é garantir que os magistrados tenham a imparcialidade necessária para avaliar as informações fornecidas pelos colaboradores e os benefícios oferecidos em troca no fim do processo judicial, quando cabe aos juízes aplicar as penas negociadas se julgarem os resultados da cooperação efetivos. 

As mensagens obtidas pelo Intercept mostram que Moro desprezou esses limites ao impor condições para aceitar as delações num estágio prematuro, em que seus advogados ainda estavam na mesa negociando com a Procuradoria.

Os diálogos revelam também que a interferência do juiz causou incômodo entre os integrantes da força-tarefa à frente do caso em Curitiba, que nessa época divergiam sobre a melhor maneira de usar as delações para dar impulso às investigações.

No dia 23 de fevereiro de 2015, o procurador Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa, escreveu a Carlos Fernando dos Santos Lima, que conduzia as negociações com a Camargo Corrêa, e sugeriu que aproveitasse uma reunião com Moro para consultá-lo sobre as penas a serem propostas aos delatores.

“A título de sugestão, seria bom sondar Moro quanto aos patamares estabelecidos”, disse Deltan.

As mensagens indicam que o procurador temia, além da reação do juiz, os danos que a Lava Jato sofreria se os benefícios concedidos aos executivos fossem vistos pela opinião pública como excessivos.

Na avaliação de Carlos Fernando, o mais importante naquele momento era que as informações obtidas com os delatores da Camargo Corrêa abririam frentes de investigação novas e promissoras, e isso justificava a proposta de redução das penas previstas para seus crimes. 

“O procedimento de delação virou um caos”, disse Carlos Fernando ao responder à mensagem de Deltan. “O que vejo agora é um tipo de barganha onde se quer jogar para a platéia, dobrar demasiado o colaborador, submeter o advogado, sem realmente ir em frente”, acrescentou. 

Para Carlos Fernando, era preciso pensar no longo prazo, além do acordo com a Camargo Corrêa. “Não sei fazer negociação como se fosse um turco”, disse. “Isso até é contrário à boa-fé que entendo um negociador deve ter. E é bom lembrar que bons resultados para os advogados são importantes para que sejam trazidos novos colaboradores.”

Embora a lei garanta ao Ministério Público autonomia para negociar, Deltan achava arriscado desprezar a opinião de Moro e queria que o colega desse mais atenção ao juiz. No dia 25, o chefe da força-tarefa voltou a manifestar sua preocupação.

“Vc quer fazer os acordos da Camargo mesmo com pena de que o Moro discorde?”, perguntou a Carlos Fernando. “Acho perigoso pro relacionamento fazer sem ir FALAR com ele, o que não significa que seguiremos.”

“Podemos até fazer fora do que ele colocou (quer que todos tenham pena de prisão de um ano), mas tem que falar com ele sob pena de ele dizer que ignoramos o que ele disse”, acrescentou.

As mensagens são reproduzidas tal qual aparecem nos arquivos obtidos pelo Intercept, mantendo eventuais erros de digitação e normas da língua portuguesa.

A opinião de Moro foi respeitada. Com a assinatura dos acordos, dois dias depois, ficou acertado que os dois executivos da Camargo Corrêa, Dalton Avancini e Eduardo Leite, que estavam presos em Curitiba em caráter preventivo havia quatro meses, sairiam da cadeia com tornozeleiras e ficariam mais um ano trancados em casa.

Os delatores deram informações sobre o cartel organizado pelas empreiteiras para fraudar licitações da Petrobras, admitiram o pagamento de propina a políticos e dirigentes da estatal e revelaram desvios na construção da usina nuclear Angra 3 e em outras obras do setor elétrico.

Foi a primeira vez que executivos de uma das maiores empreiteiras do país admitiram a prática de corrupção, abrindo caminho para que outros fizessem o mesmo nos meses seguintes. A Odebrecht e a Andrade Gutierrez decidiram colaborar com a Lava Jato em 2016.

A Camargo Corrêa também foi a primeira das grandes empreiteiras a assinar um acordo de leniência com os procuradores, em agosto de 2015. A empresa se comprometeu a pagar multa de R$ 700 milhões para se livrar de ações judiciais e poder voltar a fazer negócios com o setor público.

Na audiência em que homologou os termos da delação de Avancini, em fevereiro, Moro afirmou que seus depoimentos acrescentaram pouco ao que os investigadores já sabiam e foram omissos sobre casos que eram objeto de ações judiciais em outros estados. 

“É possível que o acusado em questão desconheça esses fatos”, afirmou o juiz, de acordo com o termo da audiência. “Entretanto, também é possível que não tenha sido totalmente verdadeiro.” Após ouvir apelos de Carlos Fernando e da defesa de Avancini, Moro decidiu homologar a delação.

Para dois advogados que acompanharam as negociações com a Camargo Corrêa e seus executivos nessa época, não há dúvida de que Moro ignorou os limites da lei ao impor pena mínima como condição para homologar os acordos dos delatores e, depois, ao questionar o conteúdo dos depoimentos de Avancini.

Os advogados consultados pela Folha disseram que dificilmente os executivos da Camargo Corrêa teriam aceitado cooperar com a Lava Jato sem ter alguma garantia de que os acordos receberiam o aval do juiz, segurança que só foi possível obter com as conversas que os procuradores tiveram com Moro durante as negociações.

Em julho de 2015, Moro condenou Avancini e Leite pelos crimes de corrupção ativa e lavagem de dinheiro, num processo que tratava da corrupção na Petrobras. Na sentença, reconheceu a relevância das informações fornecidas pelos delatores e aplicou as penas acertadas pelo Ministério Público com eles.

As mensagens analisadas pela Folha e pelo Intercept indicam que, com o tempo, a interferência do juiz passou a ser vista com naturalidade pelos procuradores. Isso ficou claro em agosto de 2015, quando o caso de Avancini foi lembrado num grupo do Telegram que reunia integrantes da força-tarefa de Curitiba e da Procuradoria-Geral da República.

“Moro tem reclamado bastante, mas ao final sempre concorda com a nossa proposta”, escreveu o procurador Paulo Roberto Galvão, de Curitiba, ao responder a um colega que perguntou sobre casos em que o juiz teria rejeitado acordos de delação por considerar fracas as provas apresentadas.

Galvão acrescentou que Moro tinha implicado recentemente com outro colaborador, o ex-gerente da Petrobras Eduardo Costa Vaz Musa, mas outro membro da força-tarefa, Orlando Martello, disse que o problema estava sendo resolvido. “Estão reforçando os depoimentos para superar a questão, mas ainda não foi homologado”, escreveu.

Seis meses depois, quando um terceiro executivo da Camargo Corrêa, João Ricardo Auler, fechou acordo de delação premiada e era preciso decidir em que instância ele seria submetido a homologação, Deltan consultou Moro.

“Vejo vantagens pragmáticas de homologar por aqui, mas não quisemos avançar sem sua concordância”, disse o procurador.

Moro respondeu que era indiferente à questão, mas queria saber os termos do acordo com o empreiteiro mesmo assim. “Para mim tanto faz aonde. Mas quai foram as condicoes e ganhos?”, perguntou ao chefe da força-tarefa no Telegram. “Vou checar e eu ou alguém informa”, respondeu Deltan.

Dalton Avancini e Eduardo Leite foram condenados por Moro a 16 anos e 4 meses de prisão. Graças aos benefícios obtidos com a delação, cumpriram um ano de prisão domiciliar em regime fechado e mais dois em regime semiaberto, com recolhimento obrigatório à noite e nos finais de semana.

Moro homologou o acordo de Eduardo Musa em setembro de 2015.

Reportagem
Esta é a quinta de uma série de reportagens que a Folha planeja produzir com base nas mensagens trocadas pelos procuradores da Operação Lava Jato nos últimos anos e obtidas pelo site The Intercept Brasil.

O site permitiu que a Folha tivesse acesso ao acervo, que diz ter recebido de uma fonte anônima há semanas.

Repórteres do jornal e do site trabalharam lado a lado, pesquisando as mensagens.

Ao examinar o material, a reportagem da Folha não detectou indícios de que ele possa ter sido adulterado.

A PF abriu inquéritos para apurar suspeitas de ataques de hackers a procuradores e ao ministro Sergio Moro (Justiça).


No início de 2015, a força-tarefa da Lava Jato em Curitiba negociava um acordo de leniência com a Camargo Corrêa e acordos de delação premiada com executivos da empreiteira que estavam presos desde novembro de 2014.

21.jan.2015

Deltan Dallagnol
16:15:15 Oi lindao

Carlos Fernando dos Santos Lima
16:16:42 Fechei o escopo ‘a princípio’ com a Camargo. Parece razoável. Petrobras, Belo Monte, Angra 3, Valec.

Deltan
16:27:37 Nós tínhamos que ser duros na negociação. Mas o sistema hoje não permite que eles digam tudo, e o que dirão é bem razoável. Agora temos que pensar na multa. Pede pro Roberto Leonel o faturamento e o lucro das empresas do grupo nos últimos 5 anos...

Carlos Fernando
21:29:50 Vou pedir 2 bilhões de dólares.

Deltan
22:10:24 Temos que ter os dados.... E calcular qto pagou de propina... Pra ter parâmetros. Sem prejuízo de pegar tudo que da

Carlos Fernando
22:19:56 Se tiver informações, sim. A reunião será na próxima semana.

CITAÇÕES
Roberto Leonel Auditor que chefiava a área de inteligência da Receita Federal em Curitiba
2 bilhões de dólares O acordo de leniência foi fechado em agosto, e a multa ficou em R$ 700 milhões


Na reta final das negociações com os executivos, Deltan sugeriu a Carlos Fernando que consultasse o então juiz Sergio Moro antes de definir os benefícios que seriam propostos aos colaboradores. Segundo Deltan, Moro disse que não aceitaria homologar as delações se a pena prevista não incluísse pelo menos um ano de prisão em regime fechado. Os dois procuradores divergiam sobre a estratégia a adotar nas negociações com os colaboradores

23.fev.2015

Deltan
23:57:09 Eu não estarei aqui na quarta, nem na reunião com o Moro, mas seria bom que houvesse uma conversa sobre os acordos dos três porquinhos. CF, Vc reclamou que me meti, mas podiamos ter problemas com a questão da Valec se o Helio Telho depois não concordasse ou criticasse nosso acordo, sendo ele o proc natural. A título de sugestão, seria bom sondar Moro quanto aos patamares estabelecidos ontem. Pensei sobre o que Vc disse de eles trazerem a CC. Pode acontecer, mas se eles não vão indicar um acionista, pegaríamos eventualmente outros diretores, torcendo para eles indicarem os acionistas. É possível que ocorra, mas temos que pensar em duas coisas: 1) vamos ter braço para tudo isso, ir atrás do diretor logo para que depois venha a CC? Há várias prioridades em andamento. 2) a meu ver, essa estratégia pode sim ser perseguida, mas as prioridades vivem mudando e o acordo deve ser justificável por si só. Colaborações são um flanco para críticas. Caminhamos com a força da opinião pública e não podemos perdê-la. Sei que Vc discorda do item 2, estou só colocando minha opinião. Estarei lá na quinta para sustentar isso; 3) uma crítica que virá é o do número de acordos de colaboração... não concordo com essa crítica se o acordo foi individualmente justificável, e não é minha maior preocupação, mas vi um ou dois de nós mencionarem essa preocupação.

24.fev.2015

Carlos Fernando
07:26:12 Deltan. Como disse ontem, não somos noviças virgens para ficar tão preocupados com o que vão pensar de nós. As críticas vem sempre, e ultimamente somos mais criticados pelo que não fazemos, como o PGR agora com o Pessoa. A minha crítica, e neste ponto falo pelo Januário, é que o procedimento de delação virou um caos. Creio que se a sua divisão de serviço pressupõe que eu e Januário estamos encarregados dos acordos, eles devem ser tratados por nós. Você é o Promotor natural e pode discordar, e eu sempre ouço todos, mas o que vejo agora é um tipo de barganha onde se quer jogar para a platéia, dobrar demasiado o colaborador, submeter o advogado, sem realmente ir em frente. Não sei fazer negociação como se fosse um turco. Isso até é contrário à boa-fé que entendo um negociador deve ter. E é bom lembrar que bons resultados para os advogados são importantes para que sejam trazidos novos colaboradores. Eu desejo que sejam estabelecidas pautas razoáveis, e que eu e Januário possamos trabalhar com mais liberdade. Os últimos acordos que fizemos foi por exclusiva vontade minha. E não vejo a reclamação generalizada contra eles. Muito pelo contrário. Agora o acordo com o Rafael foi bom para aplacar a insegurança de Brasília. Vamos pensar a longo prazo. Se falta de mãos fosse um argumento, não estaríamos aqui hoje.

Deltan
08:29:16 Carlos, eu apoiei todos os acordos que Vc fez. Essa autonomia não está existindo em nenhum setor. Todos estão opinando em AIAs, nas denúncias, no relacionamento com a imprensa, com a PGR, até no uso do meu tempo rs. Quanto mais sensível é o tema, mais todos querem contribuir para que o resultado seja melhor. O que acho que faltou no caso dos acordos, na minha opinião, foi conversarmos antes e pensarmos na estratégia. Reconheço que falhei em não organizar reuniões de coordenação. Devem existir mesmo. Como todos são Barbados e experientes, e não queria ficar me metendo, estava deixando rolar e que cada um marcasse reunião Qdo queria. Mas vejo agora que não é o ideal, e que tenho que estar mais perto de todos. Mas até isso não é unânime rs. Os acordos são sensíveis por diversas razões. Uma é opinião pública e precisamos dela meu amigo. Outra é o fato de que nossa e minha reputação estão ligados ao caso. Estamos numa era tecnológica e como promotores não ganhamos mas dependemos de nossas reputações. Isso me leva a ser mais conservador do que arrojado, mas te entendo também. Enfim, acho que devemos conversar mais e vamos fazer isso para trabalharmos como um time mais entrosado.

Carlos Fernando
09:37:52 Vou discordar de muitas das suas premissas, mas não aqui. Quero essa reunião com a presença de Januário e Orlando, ao menos.

25.fev.2015

Deltan
01:53:47 Carlos Vc quer fazer os acordos da Camargo mesmo com pena de que o Moro discorde? Acho perigoso pro relacionamento fazer sem ir FALAR com ele, o que não significa que seguiremos. Podemos até fazer fora do que ele colocou (quer que todos tenham pena de prisão de um ano), mas tem que falar com ele sob pena de ele dizer que ignoramos o que ele disse. Vc pode até dizer que ouve e considera , mas conveniência é nossa e ele fica à vontade pra não homologar, se quiser chegar a esse ponto. Minha sugestão é apenas falar.

CITAÇÕES
Helio Telho Procurador que investigava a corrupção na construção de ferrovias da estatal Valec, em Goiás
CC Camargo Corrêa
PGR Procuradoria-Geral da República
Pessoa O dono da UTC, Ricardo Pessoa, que fechou acordo com a PGR em maio
Januário O procurador Januário Paludo
Rafael Rafael Angulo Lopez, funcionário do doleiro Alberto Youssef que fechou acordo em dezembro de 2014
AIAs Ações de improbidade administrativa movidas no início da Lava Jato para buscar reparação de danos causados pela corrupção
Orlando O procurador Orlando Martello



Meses depois de concluídas as negociações com a Camargo Corrêa e seus executivos, os procuradores da força-tarefa de Curitiba tratavam com naturalidade da interferência de Moro ao discutir o assunto com colegas de Brasília num grupo de mensagens do qual participavam no Telegram.

26.ago.2015

Douglas Fischer
11:35:24 Galera. O paulo disse ontem en passant aqui em Bsb que teria havia dois casos em que o Moro não aceitou proposta de acordos por falta de originalidade nas provas apresentadas. Vocês tem estas decisões dele ? Obrigado

Paulo Roberto Galvão
19:59:58 Douglas, o Moro tem reclamado bastante, mas ao final sempre concorda com a nossa proposta. No caso do Dalton Avancini, ele inclusive consignou a discordância (acho que em ata de audiência) e deu cinco dias para justificar, mas depois aceitou. Mais recentemente ele também implicou com o acordo do Musa, mas não sei se constou por escrito (Diogo sabe?)

Orlando Martello
20:02:52 Januario estão reforçando os depoimentos para superar a questão, mas ainda não foi homologado o do Musa.

CITAÇÕES
Dalton Avancini Um dos executivos da Camargo Corrêa que fechou acordo de delação premiada em fevereiro
“cinco dias para justificar” Moro deu 45 dias para que Avancini apresentasse novos depoimentos
Musa O ex-gerente da Petrobras Eduardo Costa Vaz Musa, que fechou acordo em setembro
Diogo O procurador Diogo Castor de Mattos


Em fevereiro de 2016, Deltan procurou Moro para discutir o caso de outro executivo da Camargo Corrêa, João Ricardo Auler, que estava fechando acordo de delação premiada. Era preciso decidir em que instância ele seria homologado, com Moro ou o juiz João Pedro Gebran Neto, relator da Lava Jato no Tribunal Regional Federal da 4ª Região.

5.fev.2016

Deltan
23:36:36 Caro: Gebran e colegas da regional entenderam que não seria o caso de homologar o acordo do Auler lá, por não haver pessoas indicadas que tenham prerrogativa de foro. Ainda que discordando tecnicamente, vejo vantagens pragmáticas de homologar por aqui, mas não quisemos avançar sem sua concordância quanto à análise dessa questão por aqui... Podemos prosseguir? Se preferir, vou à JF conversar pessoalmente

6.fev.2016

Sergio Moro
01:20:08 Para mim tanto faz aonde. Mas quai foram as condicoes e ganhos?

Deltan
08:06:36 Ok. Não sei, quem fez, creio, foi CF. Vou checar e eu ou alguém informa

CITAÇÕES
JF Justiça Federal, onde Moro atuava
CF O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima


A transcrição das mensagens manteve a grafia original dos arquivos obtidos pelo The Intercept Brasil