O dono.
Quem é Pierre Omidyar
Pierre Omidyar é o fundador do eBay, maior empresa da área de comércio eletrônico do mundo, sendo que também é considerada a pioneira do setor. Após anos à frente da governança corporativa da empresa, deixou sua posição de liderança, mas seguiu na função de conselheiro.
O empresário ainda é conhecido por sua atuação em outras áreas. Pierre Omidyar tem um negócio direcionado a realizar investimentos de risco, além de possuir uma holding que trabalha na área de comunicação e entretenimento.
Pierre Omidyar também está entre as pessoas mais ricas do mundo. Com uma fortuna estimada em US$ 11,4 bilhões, ele ocupa a 120ª posição do ranking da Forbes 2019.
Formado em ciências da computação, também é conhecido por ter fundado a First Look Media, empresa que comporta sites como o Intercept e Topic Estudio.
Ganhou um Oscar. |
O que quer a Vaza a Jato?
Desde o rebuliço envolvendo Manuela D’Avila, Glenn Greenwald, Moro, Dallagnol e supostos “hackers” que, como sempre, foram os que levaram a pior, o Brasil respira esperança nas matérias do The Intercept. O próprio Glenn, em diversas entrevistas, aumentou as apostas dizendo ter “áudios”, “vídeos” e até que “sabia o que Moro tinha feito” e ia contar tudo.
A verdade é que toda a esquerda sabe o que Moro fez. A esquerda e o centro político com alguma inteligência. Eu diria que até a direita sabe o que Moro fez, e aí não está o valor do que o The Intercept tem. Entre o “sabemos o que Moro fez” e o véu da hipocrisia das instituições brasileiras vai uma imensa distância. Contudo, todos acreditamos no The Intercept. De posse das provas, um jornalista que recebeu um Pullitzer… nada poderia dar errado, não é?
Ocorre que eu, e muitas outras pessoas nesta esquerda brasileira, estamos tendo a sensação de que Bolsonaro e Moro estão ganhando a parada. Em inglês, se diz que Bolsonaro e Moro têm “the upper-hand”. Os “vazamentos” da Vaza a Jato parecem não obedecer a qualquer cronograma e isto, por si só, é um imenso problema. Além, algumas das matérias trazem “mais do mesmo”. São os mesmos crimes de Moro e Dallagnol em outros exemplos. Não digo que não são importantes, mas faz com que os vazamentos percam contundência.
A sacada de abrir o trabalho para a Veja, Folha e alguns outros veículos parecia genial. Tirava dos bolsonaristas o tosco argumento ideológico, aumentava o número de pessoas tratando o “material”, e isto significava aumentar a imparcialidade e, ainda, aumentava a capacidade de processamento dos vazamentos. Havia, contudo, um porém. Estes veículos têm as suas pautas, seus interesses. Como todo agente político, respondem a lógicas próprias em suas ações políticas. Ninguém acredita mais na Disney para dizer que “eles fazem pela Justiça” ou “pelo Brasil” ou “pelo sentimento de obrigação profissional”. Mesmo os advogados só defendem a “Justiça” por saberem que é a condição de existência deles próprios que ela seja imparcial, equidistante e o mais neutra possível. Lição que os juízes brasileiros parecem ter esquecido.
Voltando à Vaza a Jato, se olhamos com algum receio a entrada da Veja e a Folha para o grupo com acesso ao material vazado, ninguém perguntou qual seria o objetivo do The Intercept. E isto é crucial. Normalmente pode-se depreender o objetivo de agente político vendo a materialidade de suas ações. Assim ensina toda a tradição materialista e funcionalista de teorias científicas da ciência política, sociologia e história. Analisando os vazamentos dos últimos meses, contudo, não se consegue entender o que quer o The Intercept.
Em primeiro lugar, não me parece lógico que uma pessoa da competência de Glenn Greenwald tenha dado início ao processo de publicização dos vazamentos sem ter analisado boa parte do material e montado um cronograma que sustentasse empiricamente a sua narrativa. Ninguém cutuca uma cobra venenosa sem saber exatamente para onde vai correr ou com o que vai acertá-la na cabeça caso ela queira vir para “os finalmentes”. Parece-me óbvio que assim que os vazamentos vieram à público, Moro, Bolsonaro e seus mentecaptos teleguiados se voltariam contra o pessoal do The Intercept. O que, de fato, ocorreu, como quando vimos deputados e deputadas, agindo como cães de guarda, latindo idiotices nas audiências de Glenn no Parlamento.
Em segundo lugar, não se está falando de um livro de um jornalista ou de uma história menor no país. Fala-se do coração dos absurdos que envenenam o Brasil desde antes de 2013. Fala-se do empobrecimento de toda uma nação, da prisão de pessoas inocentes, das instituições democráticas em risco, de toda uma eleição fraudada … fala-se, a rigor, do Brasil recente. Nu. Daí que a responsabilidade por estes vazamentos é muito grande. O que Glenn e o The Intercept fizeram foi adiantar em cinquenta anos (ou mais) as pesquisas sobre História no Brasil recente. Poucas coisas ficam escondidas da História, a questão é que o tempo é crucial para a política (e para o jornalismo).
Por último, tenho para mim que Glenn conhece o conceito de “narrativa” e como ele não é diferente no caso de um filme, um livro ou das narrativas políticas que o The Intercept criou. Toda narrativa é uma forma lógica de encadeamento da realidade que junta os tempos (passado, presente e futuro) numa noção contínua pela reafirmação de pontos cognitivos comuns entre o narrador e os que compartilham a narrativa. Veja que não falo “forma racional” porque existem narrativas irracionais, mas que, ainda, são governadas por uma lógica interna, que é compartilhada entre quem narra e quem se apropria da narração. Tampouco digo que a ideia de “apropriação” de uma narrativa é uma cópia dos entendimentos do narrador. Muita tinta já foi gasta na História, linguística, literatura, antropologia, filosofia e etc. para mostrar que toda narrativa é apropriada pelos sujeitos com base em suas próprias capacidades e entendimentos. E assim tudo é “ressignificado”, para usar a feliz expressão de Paul Ricoeur.
Estamos, pois, falando de narrativas. E narrativas precisam de um “timing” para acontecerem. Nenhum filme, peça de teatro, aula, música e etc. pode prescindir de entender o seu objetivo para poder captar o seu leitor/ouvinte. Isto é lição velha já na Poética de Platão! A Vaza a Jato, portanto, obedece a alguma lógica interna que dita o seu caminho, o seu andamento, a sua linguagem, o seu tom, a quem ela se destina e com isto transforma aquele material hackeado em algo com significado.
Ocorre que ela parece ter perdido o timing da fraqueza atual de Bolsonaro. Nos momentos mais críticos, em que há um esforço conjunto na tentativa de tirar do transe demencial os eleitores da família miliciana que nos governa, o The Intercept não surgiu com a sua contribuição. E não foram apenas uma, mas várias oportunidades perdidas. Tanto Moro, Dallagnol como o próprio Bolsonaro tiveram momentos de estarem “nas cordas” e sempre se dá tempo para que eles reajam.
Afinal, o que quer a Vaza a Jato?
Descartadas as respostas infantis como “fazer justiça”, “ajudar o Brasil” e outras coisas semelhantes proponho algumas respostas.
O The Intercept quer prêmios jornalísticos?
Creio que eles virão. Pela própria competência deles, mas também acho que seria algo demasiado pequeno para o que eles têm nas mãos. Especialmente por ser brasileiro e estando sofrendo os crimes deste governo.
O The Intercept quer combater o autoritarismo brasileiro em suas versões eleitorais e institucionais?
Se for isto, estão com o timing errado. Estão permitindo tempo a quem estão combatendo, e este erro, na política, costuma ser fatal.
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O que quer que a Vaza a Jato queira, algumas perguntas permanecem estranhamente sem resposta:
1) Por que veículos como o GGN, a Carta Capital, a Carta Maior a TVT, o DCM e pessoas gabaritadas como Luís Nassif, o Luiz Carlos Azenha, Juca Kfouri, e tantos outros que me perdoem a falta de menção, não foram contatados para participar do “esforço”? Por que apenas a Folha, a Veja, o Reinaldo Azevedo? O critério foi financeiro?
2) Por que parecem erráticos e sem planejamento estratégico os vazamentos? Imaginando aí o conceito de “trama” de Ricoeur? Tinham os jornalistas do The Intercept noção do material que tinham nas mãos? Reconheceram e planejaram os “big shots” ou apenas se debruçaram sobre o material como um aluno lambão de primeiro semestre de História num arquivo público?
3) As ameaças e intimidações do governo fascista de Bolsonaro fizeram o The Intercept “amainar”? Se isto é verdade, por que Glenn ainda não usou seus canais internacionais para processar o Brasil em cortes internacionais? Há chance de se chegar a um “grande acordão” com o governo e o The Intercept?
É claro que não se pode culpar o The Intercept pelo “povo” brasileiro não ir às ruas como o chileno, por exemplo. Nem culpar o The Intercept pela oposição brasileira viver em um eterno desarranjo verbal (como Ciro Gomes) e não conseguir se organizar como fizeram na Argentina. Porém, não se pode deixar de dizer que os objetivos do The Intercept não estão claros e, dadas as suas ações (ou a falta delas), tampouco podemos inferir nada neste sentido. Já se disse que não há obrigação alguma de Glenn e o pessoal do The Intercept de publicarem nada. Eles fazem ou não fazem o que bem entender com o “seu” material. E, mesmo concordando com isto, apenas acrescento que se este for o argumento, muito está explicado.
Concordo com o texto e seu autor. Semana passada pedi o cancelamento da contribuição que fazia para o Intercept. Assim como alguns blogs que, tentam se passar por esquerdistas, também o Intercept atuam como se todos os eleitores fossem estúpidos.
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