O que fez me reapaixonar pela teoria marxista não foi a universidade, foi um programa BESTEIROL sobre tunagem de carros da Discovery Home & Health ou da TLC, sei lá que canal era aquele, gravado em Los Angeles. Explicarei o motivo.
Eu curtia Marx desde novo, mas depois foi se esvaindo. Continuei achando que o conjunto de sua produção filosófica fundamentou o tratado social mais importante já escrito na história da humanidade. Porém, após ler alguns livros, principalmente o do filósofo húngaro, István Mészáros, "Para Além do Capital", eu passei a crer que existia uma necessidade de adaptar as teorias do Marx para a realidade, todavia, essas coisas jamais ocorreriam.
Mas quando vi aquele programa, não era mais uma questão de "as ideias de Marx tem espaço, mas não ocorrerão". Não, bicho, ou elas ocorrem, na marra, (óbvio, adaptando a cada realidade e cultura) ou então a humanidade tá RALADA. E a crise econômica que vai surgir no mundo por causa do coronavírus deveria ser esse ponto de inflexão.
No programa de carros, dois patetas visitavam uma comunidade muito pobre e majoritariamente negra da periferia de Los Angeles.
- Los Angeles, a cidade mais rica da Califórnia, o estado mais rico dos Estados Unidos, o país mais rico do mundo. Se a Califórnia fosse um país, seria a 6° maior economia do mundo, só pra vocês terem uma ideia. -
Nesse oásis de riqueza e ostentação, o cenário daquela comunidade era uma desigualdade do caralho, milhares de moradores de rua, criminalidade, prostituição e etc. O personagem do episódio, dizia jactante que havia gastado mais de 40 mil dólares em tuning no seu carro. Eram aqueles carros tipo "gangsta" que ficam quicando e etc. Porém, a sua casa era uma verdadeira pocilga, um dos seus filhos perambulando pelo quintal com fralda suja, outro com uma notória necessidade de cuidados médicos, goteira dentro da cozinha, lixarada pelo terreno e etc.
Os apresentadores até questionaram a pobreza do local, porém, emocionado, o personagem dizia sobre a importância que aquele carro tinha na autoestima da família e etc.
Aquilo me deixou mal. Quando eu fico nervoso a primeira coisa que me acontece é ficar com vontade de vomitar. Me deu uma azia forte na hora, seguida de uma queimação no estômago e vontade de vomitar imediata. A ponto de eu pegar um omeprazol do meu coroa. É sério.
Eu continuei assistindo aquilo não porque estava legal, mas porque estava assustado com o grau de estupidez, alienação, ignorância e fetichização que a sociedade capitalista opera na cabeça da rapaziada e eu queria ver até que ponto aquela alucinação chegaria. Quando a autoestima está atrelada a bem de consumo, e isso passa a ter protagonismo e respaldo sociológico, a ponto de um cara que nitidamente não tinha acesso a saúde, a moradia digna, mas se emocionava com o próprio carro, e as condições precárias da vida dele mesmo e da sua família eram apenas uma paisagem rotineira, um fatalismo, é porque fudeu.
E nem o estou culpando por isso. É, de fato, uma vítima.
Meus amigos, vocês podem me falar o que for. Mas o valor social do carro é limitado. Uma Ferrari te leva ao mesmo lugar que um Fiat Uno. E isso é uma alteridade absoluta, quer vocês se esperneiem ou não. Se com a Ferrari o cara vai conseguir mais sexo, vai abrir portas e etc, isso só demonstra o grau de demência que predomina numa sociedade de consumo.
Ali eu pensei "BICHO, ESSA HUMANIDADE VAI BABAR RAPIDÃO. NÃO TEM COMO UM SISTEMA DESSES DAR CERTO".
Depois do choque, porém ainda no desconforto, no mesmo dia, voltei a ler algumas coisas do velho barbudo. Meio que como uma auto-ajuda mesmo, um apoio moral. E na boa, o velho manjava é muito!
O que dizer? A gente topa com trabalhadores que se sentem honrados por trabalhar em uma firma de renome. Não importa que seja explorado. A gente encontra gente que põe nos bens de consumo a realização da vida. Não importa que lhe custe sacrifícios. Na cabeça dele, será sempre um vencedor.
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