quarta-feira, 13 de maio de 2020

Controle do coronavírus pode levar 5 anos, diz cientista-chefe da OMS

Para diretor do órgão, fracasso no uso de vacinas que já existem para doenças já conhecidas evidencia dificuldades
Folha de S. Paulo

Ana Estela de Sousa Pinto
BRUXELAS
Ainda serão necessários quatro ou cinco anos até que o novo coronavírus esteja sob controle, disse nesta quarta (13) a cientista-chefe da OMS (Organização Mundial da Saúde), Soumya Swaminathan.

Segundo ela, o tempo pelo qual o vírus continuará representando uma ameaça vai depender das mutações que ele possa sofrer, da eficácia de medidas de restrição do contágio implantadas pelos países e do desenvolvimento de uma vacina viável.

Em uma conferência digital promovida pelo jornal britânico Financial Times, Soumya disse que “não há bola de cristal” para essa previsão, e que a pandemia pode até “potencialmente piorar”.

Além disso, o fracasso de governos e famílias em aplicar as vacinas já comprovadas para doenças já conhecidas mostra que é um erro apostar todas as fichas em uma descoberta científica no caso do coronavírus, disse em entrevista em Genebra o diretor-executivo da OMS, Michael Ryan.

“Desculpem se pareço cínico, mas vejam quantas doenças poderíamos ter eliminado com vacinas perfeitamente eficazes, como a do sarampo, e não o fizemos. Podemos até descobrir, produzir e entregar, mas as pessoas precisam também tomar as vacinas”, disse Ryan.

Segundo ele, o mais provável é que o coronavírus fique endêmico e a humanidade precise conviver com ele, como ocorre com o HIV. “Com tratamentos corretos, pode se tornar um vírus que não provoca mais pânico. Mas no momento é um patógeno novo, chegando aos humanos pela primeira vez, e é impossível estimar por quanto tempo ele ficará entre nós”, disse.​

Mesmo sem uma vacina, os governos podem controlar a pandemia com medidas básicas de epidemiologia e saúde, afirmou Maria van Kerkhove, líder técnica da OMS: “Vários países já comprovaram que com as medidas corretas para impedir o contágio e tratar os doentes é possível dominar a Covid-19”.

Para Peter Piot, diretor da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres que também participou do evento do Financial Times, eliminar o coronavírus vai exigir “muito mais” do que desenvolver uma vacina viável.

"A única doença humana erradicada foi a varíola”, disse Piot, que se recupera depois de ter contraído o coronavírus e ter sido internado durante uma semana. Segundo ele, as sociedades terão que encontrar formas de conviver com o vírus com intervenções mais focalizadas, em vez de amplas e gerais.

Piot afirmou que "não há opção a não ser investir mais em testes", nos setores público e privado. Os sistemas de vigilância também foram apontados como fundamentais pelo diretor-executivo da OMS, Michael Ryan, em entrevista pela internet: “A melhor maneira de saber se a doença está voltando com o relaxamento de medidas não pode ser contando doentes nas UTIs ou corpos no cemitério”.


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