quarta-feira, 20 de maio de 2020

Não há Paraíso, mas há um Inferno - e seu nome é Brasil


‪Pablo Villaça

Tenho visto um desenho na minha timeline em redes sociais mostrando o jovem João Pedro sendo recebido no céu por Ágatha e por milhares de outras crianças negras assassinadas pela PM. Sei que a intenção é positiva, mas... me provoca apenas antipatia. ‬
Eu entendo o impulso de publicar algo assim; entendo mesmo. Diante de uma brutalidade tão grande, de uma tragédia tão enorme quanto estas, é preciso buscar algum tipo de consolo, de apoio - mesmo que mágico - para suportar a falta de sentido no fim de uma vida tão jovem. Mas acho também que talvez seja importante confrontarmos a realidade sem qualquer artifício, por mais bem intencionado que este seja. 

E a realidade é que essas crianças simplesmente deixaram de existir. Suas vidas chegaram ao fim por motivo algum além da miséria, do preconceito e de um Estado cruel, sociopático e que encara a falta de poder destas pessoas como autorização para exterminá-las sistematicamente. 

Estas crianças lindas não estão no céu, no paraíso; estão debaixo da terra, se decompondo, quando deveriam estar correndo sem medo sobre ela e desabrochando. Não há um consolo de pós-vida assim como não houve segurança e respeito pré-morte. 

Meu coração se parte por estes pequenos; não há nada mais trágico do que a morte de uma criança - especialmente quando é tão violenta e tão evitável. 

Não há Paraíso, mas há um Inferno - e seu nome é Brasil. ‬

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