terça-feira, 4 de agosto de 2020

O "centro democrático" não tem nenhum apreço pela democracia



Sobre as ilusões do "centro democrático": absurdos vão se dando em uma velocidade tão grande que logo esquecemos fatos graves que levaram o país ao estado atual. Um deles foi o atentado à caravana do ex-presidente Lula no Paraná, em 2018.

Pra quem não lembra, foram dois disparos de arma de fogo atingindo um dos 3 ônibus da caravana que deixava Quedas do Iguaçu e ia para Laranjeiras do Sul, cidades do Paraná. O veículo levava jornalistas.

Era o ápice de diversas agressões feitas por grupos organizados durante a viagem feita no sul do Brasil. Tentativas de intimidação com rojões, pedras e ovos em diversas ocasiões. As autoridades locais pouco ou nada faziam.

Os efeitos do discurso do ódio na esfera política eram evidentes. Mesmo assim, figuras de proa naquele cenário, como a senadora Ana Amélia (PP-RS), pareciam "apreciar" o clima, até porque era voltado contra adversários.

“Atirar ovo, levantar o relho, levantar o rebenque para mostrar o Rio Grande, para mostrar onde estão os gaúchos", disse a senadora em uma convenção no dia 24 de março, 3 dias antes do atentado contra o ônibus

Após o episódio dos disparos, o candidato e futuro presidente da República ironizou e sugeriu que integrantes da comitiva teriam feito os disparos. "Está na cara que alguém deles deu os tiros", acusou, sem provas (pra variar).
 
O tucano e também presidenciável Geraldo Alckmin foi quase na mesma linha, com a declaração: "Acho que eles estão colhendo o que plantaram". No dia seguinte, tentou remediar fazendo uma condenação da violência
Outro representante tucano, o então prefeito de São Paulo João Doria, também deu de ombros para a gravidade do episódio. "O PT sempre utilizou da violência, agora sofreu da própria violência", declarou.

Isso sem contar a falta de reação de entidades de forma geral, como algumas que representam jornalistas, sendo que profissionais de comunicação estavam no veículo atingido. Representantes do "centro democrático" não se indignaram com um episódio gravíssimo, emudeceram.

O delegado que cuidou do caso primeiramente tratou o episódio como tentativa de homicídio. Depois foi substituído por outro que reduziu o atentado a um "disparo de arma de fogo". A reação em relação à mudança também foi quase nula.

Esse caso serve pra ilustrar que a extrema-direita não cresceu em um "vácuo". Foi legitimidade por parte do que alguns chamam de "centro democrático", que estimulou o ódio e a violência política. Será que não cabe a eles o exercício da famosa autocrítica?

É possível confiar em um segmento que tem tão pouco apreço de fato à democracia e se move conforma a própria conveniência?

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