As 250 mil mortes por Covid são resultado de escolha consciente da gestão federal
Temos menos de 3% da população mundial, mas 1 em cada 10 pessoas que reconhecidamente morreram de Covid no mundo morreu no Brasil, país que teve um dos dez maiores PIBs do mundo.
Temos outros problemas clamando por atenção entre dólar alto, preço do combustível, ameaças crescentes à democracia, participantes do BBB… Estamos cansados de ficar em casa, longe uns dos outros, cansados dessa rotina imposta. Mas já perdemos pelo menos um quarto de milhão de brasileiros para um pandemicídio. Uma pandemia que resulta de uma escolha consciente de gestão federal, segundo a pesquisa “Direitos na Pandemia”, coordenada pela professora Deisy Ventura, da Faculdade de Saúde Pública da USP. E nem sinal dos milhões de vacinas que farão falta nos próximos meses.
Pelo monitoramento de profissionais do basquete nos EUA, aqueles infectados pela variante B.1.1.7 parecem passar até mais de oito dias nessa fase transmissível da doença, em vez de transmitirem o vírus por quatro ou cinco dias, como a Covid regular. Esse é um dos fatores que parece tornar essa variante mais transmissível. E segundo diferentes grupos científicos ingleses, essa variante também parece aumentar o risco de hospitalização e morte. A variante P.1, que asfixiou Manaus e explode em casos no Brasil, tem as mesmas mudanças que a B.1.1.7 e outras.
Os 9 milhões e tantos de “casos recuperados” que o Ministério da Saúde promove não querem dizer absolutamente nada agora. Até o final do ano passado, poderiam significar que parte dessas pessoas não pegaria Covid novamente. Mas depois de faltar oxigênio em Manaus, a capital onde se estima que até 75% da população teve Covid no ano passado, essa ilusão acabou.
E a região Norte é só o começo. No ano passado, tivemos um surto do coronavírus regular, que começou em capitais e se interiorizou aos poucos. Passamos por momentos terríveis, mas tivemos tempo de remanejar pacientes das capitais para o interior e vice-versa. Agora a doença já está no país todo. É mais transmissível e possivelmente mais letal. Mais infectados precisam de hospital e passam mais tempo internados. E quem pegou pode pegar de novo.
Na Escócia, os vacinados estão sendo menos hospitalizados. Nos EUA, a mortalidade cai entre residentes de casas de repouso vacinados. Em Israel, os casos caíram com o “lockdown” e as hospitalizações estão caindo entre idosos vacinados. Nada de spray milagroso. E para cada “especialista” bradando que “lockdown” não funciona, tem Austrália, Nova Zelândia, Tailândia, Vietnã, Senegal, Uruguai, China, Finlândia e outros países que seguraram o vírus na base do teste, rastreio de contatos e fechamento estratégico. Nada de tratamento precoce.
Aqui, o Ministério da Saúde não se mobiliza para comprarmos vacinas como um país. Somos no máximo um apanhado sem cabeça de municípios e estados fazendo o que podem para se salvar. A familiaridade com a Covid gera indiferença, mas os leitos estão acabando e a realidade grita. Já vemos cidades menores, como Araraquara, com 100% de ocupação de UTIs. Segurar a Covid dessa forma é a saída mais cara, em termos financeiros e de vidas. E praticamente garante que o maior número possível de pacientes vai ter o pior atendimento possível, pois as unidades e os profissionais de saúde trabalham no limite e qualquer erro vira catástrofe.
Ainda não chegamos na temporada de vírus respiratórios. Variantes ainda não dominam os casos no país. O ano de 2021 mal começou. Mas já registramos mais de mil mortes por dia. Quando teremos um plano nacional de combate à Covid? Quando vamos tratar fechamento estratégico e vacinas como prioridade nacional?
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