Por Kiko Nogueira, 11 de abril de 2019
Platão fez Sócrates zombar de Tales de Mileto, considerado o primeiro filósofo do Ocidente.
Tales olhava para as estrelas e caiu num poço.
“Uma decidida e espirituosa rapariga da Trácia zombou dele, dizendo que procurava conhecer o que passava no céu, mas não via o que estava à sua frente, junto dos próprios pés”, diverte-se Sócrates.
Quando você depara com um nefelibata rico como Leandro Karnal, entende como um Olavo de Carvalho acabou ocupando espaço no Brasil.
Karnal tem lugar amplo e garantido na mídia, é best seller, dá conferências em universidades, empresas, batizados, tem aquela careca e o sorriso alvo que lhe conferem um certo carisma.
Sucesso. Poderia ser um contraponto à barbárie de Olavo no campo, digamos, intelectual.
Prefere esvaziar a mente de um público quer tem preguiça de ler livro.
E cabeça vazia é oficina do Olavo.
Dia desses, a convite de Sergio Moro, palestrou no Ministério da Justiça sobre o artigo 37 da Constituição e “o patrimonialismo do Estado”.
“Compartilhei espaço de fala com o deputado Marcelo Callero e seu enfrentamento no governo Temer”, escreveu.
“Espaço de fala” é de chorar sentado, mas sigamos.
Karnal serviu de papagaio de pirata para Moro — a quem tietou num jantar famoso em 2017 —, cujo projeto anticrime contém abjeções morais.
O que o professor acha do “excludente de ilicitude”?
E da ideia de reduzir a pena do policial até a metade ou deixar de aplicá-la caso “o excesso decorrer de escusável medo, surpresa ou violenta emoção”?
Provavelmente acha muita coisa, mas não vai revelar.
Está mais preocupado com o “pensamento cetáceo”, tema de sua coluna no Estadão de ontem.
É uma das coisas mais pernósticas jamais publicadas em qualquer lugar desde o início dos tempos.
Resumindo um blábláblá idiota, trata-se de um conceito que Karnal inventou, o “costume de voltar a um foco já largado em oceano passado e sem nenhuma introdução”.
Toma Fosfosol, amigo.
Eu vou reproduzir um trecho porque não quero sofrer rindo sozinho:
As baleias são mamíferos que podem mergulhar a profundidades abissais. Porém, o apelo da respiração acaba chegando. Como os golfinhos, podem morrer afogadas nas águas em que nasceram.
Boas nadadoras e exímias mergulhadoras, porém, continuam mamíferas e dependentes dos pulmões. Na superfície, só as vemos quando respiram. A superfície é a conversa audível. Ali, estamos nos vendo, baleias, golfinhos, navegadores e flutuadores em geral.
O tema submerge na vastidão dos oceanos. Em graciosos movimentos ondulatórios, o tópico volta mais adiante, quando, para quem está na superfície, ninguém mais pensa nele.
Talquei?
Enquanto o Brasil afunda, Leandro Karnal, como Roberto Carlos, conversa com as baleias.
Que lixo esse carnal, tudo a ver com o estúpido do Olavo.
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