Dois criminosos
Na contramão do entusiasmo generalizado com a prisão do deputado Daniel Silveira (indubitavelmente um pulha cuja canalhice está além de qualquer descrição), gostaria de pontuar algumas coisas.
É preocupante ver o Supremo invocando a Lei de Segurança Nacional e apelando para chicanas (o tal flagrante com mandado).
O vídeo que despertou a reação de Alexandre de Moraes é mesmo repulsivo. Mas, das duas uma: ou é parte de uma trama maior (e aí outros acima de Silveira deveriam ter sido implicados) ou é só mais um combo de bravata + grosseria tão ao gosto dos bolsonaristas.
Pior: a provocação de Silveira no vídeo foi confirmada pela prisão. Moraes o prendeu por ato com “claro intuito visando [sic] a impedir o exercício da judicatura”. Se é assim, o general Villas-Boas devia estar na cadeia. Parece que o STF canta de galo diante do Congresso, mas fica pianinho com os milicos.
Vi um meme que mostra a placa de Marielle quebrando o Daniel Silveira. Antes fosse. O que o Supremo fez para garantir que os responsáveis pela morte de Marielle fossem encontrados e punidos? Nada.
A ação de Moraes e do Supremo é timorata e seletiva. Mostra menos amor à democracia e mais orgulho ferido.
A prisão da noite de ontem é melhor entendida como um novo round da conflituosa acomodação entre o bolsonarismo e as famosas “instituições” que já mostraram muito bem a quem servem.
Em suma: comemoremos a prisão de Silveira, torcendo por sua cassação – já que tudo indica que o governo vai jogá-lo às feras para evitar uma escalada da tensão. Mas sem ilusões sobre o que move Alexandre de Moraes e seus colegas de toga.
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