sábado, 27 de fevereiro de 2021

O 1% que nem está aí para pandemias


É revoltante ver 'formadores de opinião' posando em ilhas paradisíacas, hotéis de luxo, fazendas aconchegantes, 'a salvo do vírus' 
Preso em um confinamento compulsório, tenho sido quase que obrigado a viajar diariamente pelas internets da vida.

Isto tem me ajudado a compreender por que milhares de seres humanos têm sido sacrificados sem dó nem piedade.

Cálculos de autoridades americanas e internacionais relativamente sérias estimam em milhares as vidas que poderiam ter sido poupadas caso medidas de prevenção estivessem sido adotadas.

Aqui no Brasil, a mesma coisa –ou pior.

O negacionismo transformado em política pública pelo governo Bolsonaro enterrou milhares de brasileiros que não precisavam morrer de forma precoce.

Além dos escândalos de cloroquina, declarações e aparições genocidas, o capitão expulso do Exército deixou apodrecer milhares de testes que poderiam evitar a agonia de tantos outros.

Mas não quero me ater a isso.

Para mim, quase tão revoltante quanto isto é ver "formadores de opinião" posando em ilhas paradisíacas, hotéis de luxo, fazendas aconchegantes.

Geralmente é gente de dinheiro farto conquistado à custa de fãs capturados com a ajuda de mídia e TVs (e sabe-se lá de mais o quê), truques em rede sociais e relacionamentos selecionados.

As descrições são assustadoras. Um passeio pelos instagrams da vida nos brinda com coisas como: "A salvo do vírus"; "aqui estou fora de perigo"; "obrigado pelo carinho"; "vamos sair desta".

Cínicos. Fingem não saber que enriqueceram à custa daqueles que são obrigados a viver em cômodos lotados e a morrer dentro de casa por falta de leitos.

Eu me pergunto: quanto tais milionários doaram do dinheiro que ganham do povo para amenizar a pandemia de suas "galinhas de ovos de ouro"?

Lemann, o brasileiro rico que mora na Suíça (!), chegou a dizer que as crises criam oportunidades. Portanto, dá-lhes pandemia. Justiça seja feita, ele doou algum para fornecer álcool gel. Menos mal.

O mais patético, porém, são os "artistas", "celebrities" e "influencers" exibindo-se em mansões de luxo, piscinas, resorts e refúgios onde ficar a salvo. Cercados de funcionárias e funcionários que arriscam a própria vida.

Pergunto: com quantos centavos esta gente contribuiu para ajudar o povo de Manaus, por exemplo, a não morrer de falta de ar? Por que não declaram o que fazem para ajudar a combater a pandemia que assola o Brasil e não apenas a eles mesmos?

Apenas uma diária de um hotel chique onde eles se resfestelam teria salvo dezenas de pessoas. E não faria nenhuma falta a eles.

Não, não tenho nenhum preconceito contra quem ganha dinheiro com seu próprio trabalho. Não sou a favor da socialização da miséria, mas sim da distribuição mais justa da renda.

Tampouco deixo de admitir que o principal responsável pela tragédia que vive o Brasil chama-se Jair Bolsonaro.

Mas um pouco de decoro pega bem.

Há algum tempo isso se chamava sociedade civil.

Hoje chama-se de cumplicidade. Numa ilha, mansão ou boa piscina de dezenas de mil dólares diários.

Nenhum comentário:

Postar um comentário