Desânimo aumenta no setor da construção civil, um dos mais devastados na depressão
Depois da eleição até março, nenhuma empresa fabricante de material de construção era "pessimista sobre as ações do governo", segundo o Termômetro da Abramat, associação do setor.
Em maio, o pessimismo era a opinião de 38% das empresas. O otimismo, que havia chegado a 56% em janeiro, nível mais alto no último ano, agora é de 8%, soube-se nesta quarta-feira (5). Bom dia, Jair Bolsonaro. Hora de acordar.
Também nesta quarta, a Caixa Econômica Federal anunciou o corte de taxa de juros de suas linhas de financiamento de imóveis com dinheiro da poupança. A mais em conta caiu de 8,5% para 8,25%; a mais alta, de 11% para 9,75%.
É claro que o banco não tem condições de fazer mágicas e milagres a fim de levantar o descontruído setor de construção civil. A notícia em tese boa não faz coceira no desânimo.
Obviamente, o problema não está aí. O problema é medo, falta de investimento público, falta de concessões de obras de infraestrutura para a iniciativa privada.
Poucos consumidores extras irão aos gerentes da Caixa à procura de crédito por causa do financiamento algo mais barato.
Faz algum tempo, as taxas de juros médias já estão nos níveis mais baixos da história de que se tem registro. O movimento melhorou um tico, mas o povo está com medo do futuro, tanto quanto os empresários do setor. O medo está crescendo. Boa tarde, Jair Bolsonaro. Hora de acordar.
A confiança da construção civil medida pela FGV (Fundação Getulio Vargas) caiu em maio, voltando ao menor nível desde setembro do ano passado. No início do ano, o Sindicato da Indústria da Construção Civil de São Paulo previa que o setor contrataria 100 mil trabalhadores extras em 2019 (no país inteiro). Agora, cortou a previsão para um quarto disso.
O número de empregados com carteira assinada na construção civil do Brasil crescia ao ritmo de 3.400 por ano, em abril. Desde o início da recessão, em 2014, o setor perdeu um terço de seus trabalhadores formais, baixa de 1 milhão.
O investimento público federal em obras caiu um terço em relação ao que era em 2013. É uma perda de R$ 34 bilhões. Cerca de 42% dessa redução deveu-se ao corte da despesa no Minha Casa Minha Vida (MCMV), que impulsionava diretamente ainda mais investimento privado.
O MCMV tinha e tem um monte de problemas, dos urbanísticos ao do financiamento, decerto. O que se aponta aqui é o tamanho do talho, que aumentou o buraco de um setor devastado.
Outras obras públicas pararam, federais, estaduais e municipais. O ciclo de investimentos anterior minguou, o que incluía desperdícios, ineficiências e bandalheiras como as obras associadas à Copa do Mundo, à Olimpíada e aos elefantes de branco sujo das refinarias e petroquímicas dos anos petistas. A corrupção causou desordem no mercado das grandes empreiteiras. Etc. É um desastre multidimensional.
Concessões de infraestrutura, paradas no governo, e a abertura do saneamento, parada no Congresso, poderiam dar um alívio. Com sorte e competência, também em falta, fariam alguma diferença no ano que vem. Mas nem isso está à vista.
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