Bruno Boghossian
Witzel bate mais um recorde de insensibilidade ao falar de violência
Governador faz propaganda turística em semana com mais uma morte de criança no Rio
Wilson Witzel foi a Lisboa e não gostou do que viu na TV. De volta ao Rio, o governador reclamou de uma emissora portuguesa que mostrou um tiroteio numa favela. "Não é a realidade do Rio. É a realidade, infelizmente, de algumas comunidades, mas isso não afeta a vinda do turista", disse, na terça (12).
A não ser que esteja pensando em transformar o Palácio Guanabara numa agência de viagens, Witzel deveria evitar o tom de propaganda na hora de falar sobre a violência no Rio. Na semana em que mais uma criança foi morta por bala perdida no estado, o governador bateu um novo recorde de insensibilidade.
O contraste entre áreas turísticas e bairros pobres não deveria ser motivo de celebração. No Brasil, a taxa de homicídios de pretos e pardos é quase três vezes maior do que o índice para a população branca. Segundo o IBGE, a distância entre os dois grupos cresceu nos últimos anos.
Witzel ignorou a desigualdade brutal embutida nesses dados. "Nas áreas turísticas, o índice de criminalidade violenta é praticamente zero", afirmou, ao anunciar um investimento de R$ 20 milhões para promover a imagem do Rio.
O governador voltou ao assunto dois dias depois. Em visita a Duque de Caixas, um dos municípios mais violentos do estado, elogiou a segurança na capital e acrescentou: "Estamos no mesmo patamar de Nova York, de Paris, de Madri. Essa é a realidade que precisa ser mostrada".
Nem o marqueteiro mais criativo conseguiria emplacar essa distorção. No ano passado, o índice de homicídios em Nova York foi de 3,4 por 100 mil habitantes. No Rio, essa taxa foi de 19,9 --sem contar as mortes em ações policiais.
Quando Kethellen Gomes, de 5 anos, morreu com um tiro disparado por um miliciano, na terça, Witzel acusou o governo Bolsonaro de ser leniente no patrulhamento das fronteiras. O ministro Sergio Moro disse que o governador tenta "transferir a responsabilidade" pelo problema. E a matança no Rio continua presa entre a propaganda e a politicagem.
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