Bolsonaro é a revanche do homem comum
Por Luis Nassif
A grande questão: existe bolsonarismo sem Bolsonaro?
O bolsonarismo é um agregado de grupos fundamentalistas, de evangélicos fundamentalistas, ultradireita terraplanista, lavajatistas, milícias do Rio de Janeiro, milícias digitais, uma massa disforme juntada apenas pelo cimento do antiesquerdismo e do antipetismo.
Está infiltrado nos Ministérios Públicos, na administração pública, nas polícias e na base das Forças Armadas, no meio empresarial, no Judiciário, especialmente entre juízes criminais, mas provavelmente não de forma orgânica.
Tem pontos em comum, que caracterizam como movimento:
– Crença de que não apenas o PT é comunista-revolucionário, como qualquer pauta identitária ou qualquer laivo de modernidade nos costumes.
– Crença em todas as fake news disseminadas, do Foro de São Paulo ao comunismo do Papa.
– Desconfiança absoluta nas instituições, especialmente no Supremo Tribunal Federal e na mídia.
Anos atrás, bem antes da campanha do impeachment, quando o jornalismo de esgoto estava a pleno vapor, ouvi, em uma mesa de juízes estaduais de São Paulo, que Veja e Jornal Nacional eram dominados pelos comunistas.
Bolsonaro foi a expressão máxima desse estado de espírito, não por qualidade intrínsecas a Estadistas, mas pelo fato de representar a barbárie em estado puro.
A história do mito foi aceita sim. Bem antes da facada, tive a oportunidade de estar em alguns locais do interior que receberam ou receberiam sua visita. E o clima era de entusiasmo próximo ao paroxismo.
Lula era visto como o pai dos pobres. Bolsonaro é a própria personificação da estupidez do homem comum. Essa identificação direta de Bolsonaro com estúpidos de todas as classes sociais produz fenômenos de solidariedade inéditos. Quando seu despreparo é destacado, o bolsonaristas comum se sente pessoalmente atingido. Quando um ignorante bolsonarista é desqualificado por um especialista, todos os ignorantes bolsonaristas se sentem atingidos, o ignorante empresário, o ignorante motorista de táxi, o ignorante classe média do interior. A ignorância gera o complexo de inferioridade mais universal que existe, porque pega todo tipo de pessoa, independentemente de sua classe social.
Quando Bolsonaro mostra saídas simples (e falsas) para os problemas nacionais, todos os ignorantes se sentem contemplados: não falei? É isso o que penso.
Esse simplismo mistificador é praticado, revestido do manto diáfano da fantasia, pelos procuradores da Lava Jato, por Sérgio Moro, pelo Ministro Luis Roberto Barroso, e por uma legião de oportunistas que valem-se do desmonte das instituições para lançar fórmulas salvadoras.
Aqui em Montreal, conheci pesquisadores de porte investigando o fenômeno do “regressismo” no mundo e, particularmente, no Brasil. Não será difícil mostrar as relações de causa e efeito entre o “novo iluminismo” pregado por Barroso, e o seu resultado final, o “regressismo” atual no Brasil.
Por todos esses fatores, minha opinião é que o bolsonarismo não sobrevive sem Bolsonaro.
Quem seria o substituto? Dória, o almofadinha, cuja representação pública da violência são os chiliques e o menosprezo a tudo o que não seja Avenida Faria Lima? Wilson Witzel, que só conseguirá atrair sociopatas com seu o discurso da morte e da violência?
A única liderança capaz de substituir Jair Bolsonaro é Eduardo Bolsonaro. Mas Bolsonaro sem presidência será apenas uma milícia no Rio, com órfãos pelo Brasil.
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