Presidente, filhocracia e militância tentam criar ambiente propício ao autoritarismo
Congresso e Justiça serão capazes de conter as tentações autoritárias de Jair Bolsonaro, como já o fizeram no caso das decretações ilegais do presidente e das injúrias antidemocráticas, a mais recente delas contra o Supremo.
É a opinião otimista dos adeptos da tese de que “as instituições estão funcionando”. Seja lá o que esse juízo signifique, é uma opinião que tem de lidar com o fato de que o país passou a discutir a hipótese de uma ditadura, sugestão do líder do partido do governo na Câmara, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
Apregoar violência contra direitos civis e, agora, políticos torna-se conversa corrente no Brasil, assunto promovido pelo presidente, seus filhos e seus ideólogos, além de reverberado pela militância. Junta-se à pregação da política plebiscitária (na conversa do AI-5, Eduardo também sugeriu “consultas populares” para mudar a lei). Soma-se à adoração do líder, “mito”, que vai “quebrar o sistema”, “nós contra eles”, nem o “isentão” escapa. É um ideário que deseja descartar partidos, saltar a mediação institucional e manipular órgãos de controle, da polícia ao fisco.
Antes aberração e extravagância marginal, as ideias autoritárias do bolsonarismo começam a fazer parte do ambiente e, pela reincidência, tendem à normalização.
Nos últimos dias, a familiocracia e seus ideólogos chamaram de hienas boa parte da sociedade civil organizada e também o Supremo. Bolsonaro pai se desculpou, mas apenas porque não viu que o vídeo do insulto incluía o STF.
O surto mais recente de disparate não para por aí. Coincide com a reemergência do passado de amizades milicianas da família. É temperado por outros desvarios, como a sucessão de conflitos e atritos com países amigos (Argentina, Uruguai, Chile etc.)
Bolsonaro também ameaçou acabar com a concessão de TV das Organizações Globo, entre outros ataques à imprensa: o presidente e seus militantes ameaçam anunciantes de meios de comunicação. Eduardo Bolsonaro fez reiteradas defesas de medidas de exceção para conter manifestações de que venha a não gostar, a exemplo das chilenas.
Como o pai, Eduardo também se desculpou caso, “porventura”, tenha ofendido alguém por sugerir a hipótese de “um AI-5” (ou seja: acredita que muita gente não se ofende com o chorrilho de autoritarismos). Mordem como um rottweiler, assopram como um colibri. Não importa se cometem disparates autoritários de propósito ou por descuido revelador de uma disposição fundamental de espírito. Agora, dada a recorrência dos insultos à democracia, tanto faz a diferença.
Não se trata de dizer que, pelo que se saiba, já organizem uma tentativa de “ruptura institucional”, o que pode vir a ser o caso, segundo um entendedor da família, Gustavo Bebianno. Mas isso não é motivo para tranquilidade incauta e acomodações com as ameaças.
O bolsonarismo não tem escrúpulos de defender tortura e ditadura, ontem e amanhã, aqui e alhures. Acomoda-se às limitações temporárias do entorno, como uma geleia autoritária que vai encontrando espaços e fissuras para se expandir, espaçosa, causando também erosões. Desde o início do ano houve manifestações da militância bolsonarista, na rua ou virtuais, pelo fechamento do Supremo, pois não?
As instituições, que funcionam mal, podem começar a ruir se a conversa antidemocrática for também normalizada. É preciso haver uma reação prática. Um deputado que defende o fechamento do Congresso não pode ser mais um deputado.
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