sábado, 28 de dezembro de 2019

Mais Pessimismo da Razão, menos Otimismo da Vontade

Analyse this!

Vinícius Carvalho

Para 2020: mais Pessimismo da Razão, menos Otimismo da Vontade.

Um texto pessimista de final de ano e porque o ano de 2020 tende a ser pior que o ano de 2019, que já foi o pior de todos os tempos para a minha geração.

Porque ser otimista é ser, muitas vezes, inocente. É como tentar jogar FreeCô no esgoto ou Bom Ar na caixa de gordura. E não tem nada de errado em ser pessimista. Sou por Gramsci, é o "Pessimismo da Razão" que nos faz compreender com realismo o processo histórico e com isso pensar em mecanismos (ou não) para superar as dificuldades ou, pelo menos, manter-se vivo em meio ao caos. O que não quer dizer que não devamos de cultivar o "Otimismo da Vontade".

Por exemplo, muita gente me cobra que o volume das minhas postagens diminui muito no decorrer deste ano, e isso ocorreu por uma série de motivos.

Esse semestre foi completamente insano, muita coisa acumulada, uma viagem em cima da outra, a ponto de que muitas vezes eu nem desfazia as malas, apenas esperava uns 3 dias para a próxima, e eu simplesmente não tinha tempo. Mal vejo as solicitações, seja aqui, no Instagram e no Whatsapp ganhar um vácuo meu já virou o padrão. Responder mensagens virou artigo de luxo.

Outra coisa foi aquilo que o intelectual e economista grego Yanis Varoufakis escreveu e - na minha perspectiva - acertou miseravelmente no artigo "Como me tornei um marxista errático" e irei pinçar um excerto abaixo. Portanto, é complicado continuar tendo ânimo para falar de política de forma simples. Era engraçado e tragicômico apontar os absurdos da direita chucra nos textos, só que vai cansando.

É muito mais fácil para as pessoas ser oposição, porque é muito mais fácil jogar pedra do que proteger o próprio telhado. Mas no meu caso, por incrível que pareça, eu tinha mais tesão para escrever quando tinha que defender o Governo PT, Lula e Dilma, mesmo apontando seus erros. Acho que isso decorre devido a um senso de dever e responsabilidade histórica que é inerente a mim, ao ver milhões de pessoas saindo da miséria. Eu sabia que o Brasil era um país brutalizado, e que aquele governo social-liberal, recuado economicamente, cheio de defeitos, ainda assim foi o que de mais humano e avançado já tivemos. E que, com o discurso de ódio que se avolumava na sociedade, o perderíamos para um governo protofascista e assassino.

E vai cansando, porque você vê uma completa apatia social.

Se com a narrativa contra o PT você via caminhoneiros revoltados com aumentos ínfimos no diesel, pessoas prometendo quebra-quebra com aumentos ridículos no combustível (tipo, gasolina quando aumentou para 2,89 o litro), nos 0,20 centavos do ônibus, gás subsidiado custando metade do valor que custa hoje, carne custando praticamente 1/3 do valor, pessoas se revoltando com o dólar a R$ 2, 80. Hoje está todo mundo com a língua socada no orifício retofuricular e achando que "é assim mesmo".

É tudo narrativa. Portanto, como eu sempre apontei, a disputa é por hegemonia, não dá pra ficar fazendo papel de Dom Quixote o tempo todo lutando contra moinhos de vento.

E isso porque acredito no artigo que citei do Varoufakis, onde ele dizia que:
"Mesmo como o desemprego tendo duplicado e, em seguida, triplicado, sob as intervenções neoliberais radicais de Thatcher, eu continuei a abrigar a esperança de que Lenin tinha razão: “As coisas têm que piorar antes de melhorarem”. Ao passo que a vida se tornava mais desagradável, mais brutal e, para muitos, mais curta, ocorreu-me que eu estava tragicamente equivocado: as coisas poderiam piorar perpetuamente, sem nunca melhorar. A esperança de que a deterioração dos bens públicos, a diminuição da vida da maioria, a propagação da privação em todos os cantos da terra levaria, automaticamente, a um renascimento da esquerda era apenas isso: esperança. 
A realidade, contudo, foi dolorosamente diferente. A cada volta do parafuso da recessão, a esquerda ficava mais introvertida, menos capaz de produzir uma agenda progressista convincente e, enquanto isso, a classe operária estava sendo dividida entre aqueles que desistiram da sociedade e aqueles cooptados para a mentalidade neoliberal. Minha esperança de que Thatcher iria inadvertidamente trazer uma nova revolução política era bem e verdadeiramente falsa.Tudo o que resultou do thatcherismo foram a extrema financeirização, o triunfo do shopping sobre a loja da esquina, a fetichização da habitação e Tony Blair." (VAROUFAKIS, 2013)
Por outro lado, enquanto a direita nada de braçada nas estratégias, existe uma bateção de cabeça (e punheta) na esquerda. A que não se reinventa desde os anos 70 pelo lado materialista, e se mantém congelada no tempo, sem nenhum diálogo social; e uma completa despirocação beirando a doença, jogando todo o campo da esquerda no gueto, na perspetiva daquilo que erradamente chamam de "pós-modernos". E para ambos os campos falta esse pessimismo da razão. Ambos veem o povo como cordeirinho, como se o pobre não pudesse ser conservador ou fascista, só porque ele elegeu o Lula em 2006. Como se a história ou as perspectivas fossem estáticas e não dinâmicas, como se não fosse a tiazinha de saião, analfabeta mas com bíblia debaixo do braço que - mesmo sem saber o que era fascismo - delatou os vizinhos e parentes para os camisas negras na Itália fascista e para os Freikorps na Alemanha nazista.

Para essas duas esquerdas reinantes no contexto atual, é só levar a sagrada palavra de Marx ou de Beyoncé e MC Carol, que o povo "uma tábula rasa" na visão deles, está lá para cerrar fileiras no campo da revolução ou da lacração.

É cansativo, não porque eu ache que tenha as respostas, é justamente porque não tenho, mas porque é nítido que de tanto apanhar e de ter vindo da merda, eu to vendo o que não está dando certo.

Essa coisa de frequentar boteco em subida de comunidade repleto de bolsominion de classe C e D, de andar de ônibus lotado, ao mesmo tempo, de frequentar direção de partido, e bares mais ricos um pouco, de dividir a vida entre o estado mais maluco do Brasil, o Rio de Janeiro, e o mais conservador, Santa Catarina, te faz sim ter uma visão um pouco maior da gravidade que vivemos.

Da minha parte, para 2020, acho que devo tentar dar uma de Luiz Antonio Simas (sem obviamente ter 0,1% do talento dele), falar sobre a vida cotidiana de forma mais leve, sem deixar ali contido nas entrelinhas a minha visão de mundo.

E claro, defender aqui novamente a importância de se fechar em bolhas ideológicas e dar afeto aos seus. Aliás, só isso para salvar a nossa sanidade mental.

Nenhum comentário:

Postar um comentário