quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

O delírio paranoico de Pondé contra a Democracia


Réplica: Coluna de Pondé é delírio paranoico de acusações gratuitas ao PT 
Nem como ficção serve. Arrogante, irresponsável em suas afirmações, desrespeitoso com os que pensam diferente.
Juca Ferreira

Dois dias depois de a presidenta Dilma ter sido reeleita pela maioria de votos dos brasileiros e brasileiras, o presidente do principal partido de oposição, o PSDB, convocou os que perderam, as instituições da República e os meios de comunicação para inviabilizarem o governo e infernizarem a vida pública a tal ponto que a eleita não pudesse governar.

Naquele momento, Aécio Neves não estava apenas rompendo os princípios básicos da convivência democrática entre governo e oposição e atacando o governo da presidenta Dilma e o PT.

A democracia brasileira estava sendo questionada, o processo de construção da vida e de normas democráticas que o país experimentava desde o fim da ditadura militar estava sendo ameaçado e o pacto político que permitiu o fim da ditadura e possibilitou esse longo período —para os padrões históricos do Brasil— de vida democrática estava sendo roto.

Ainda está por ser melhor analisado como o PSDB pode tão facilmente ter deixado de ser o principal fiador da nossa democracia e ter se transformado em um partido adepto do golpismo. O certo é que tudo que aconteceu depois teve seu início nessa atitude do tucano mineiro e que acabou se tornando o ponto de mutação da nossa democracia.

Não tenho dúvida de que os que participaram da ruptura da ordem democrática abriram a porta do inferno e não sabem com fechá-la novamente.

Não sei como alguém que acompanha a vida política brasileira faz tanto tempo e escreve sobre ela pode ignorar toda essa história recente.

Estou me referindo a Luiz Felipe Pondé e a seu artigo “Papai Noel do PT”.

O artigo é muito ruim! Nem como ficção serve. Arrogante, irresponsável em suas afirmações, desrespeitoso com os que pensam diferente.

O artigo é um verdadeiro delírio paranoico, um amontoado de acusações gratuitas ao PT, sem pé nem cabeça. A impressão que tive com o artigo de Pondé era que ele havia lido um artigo recente escrito por dois ex-ministros dos governos petistas onde eles fazem uma análise crítica dos planos econômicos do atual governo.

Pelo artigo de Pondé, me pareceu que ele ficou “tocado”, com medo. Como se tivesse percebido que a ideia de austeridade —que lhe parece inquestionável— não é uma ideia tão forte assim.

A verdade é que economistas orgânicos do PT —expressão usada por ele— estão começando a demolir a lógica que sustenta as principais medidas econômicas do governo.

Guedes certamente é o lado do governo de que Pondé mais gosta. Não diz, mas fica explícito que não
gostaria que Bolsonaro e os seus auxiliares mais caricaturais falassem tanta bobagem para deixar o governo fazer seu trabalho “sério”.

Pelo que pude perceber, Pondé manifesta como subtexto um mal-estar e um desconforto em ter expectativas positivas com o governo Bolsonaro.

Mas, mesmo assim, quer dar uma ajuda aos que estão no poder, atacando os que fazem frente a esse projeto neoliberal e autoritário do atual governo.

Pondé, pela pose, sempre me pareceu que se pensa como um intelectual complexo😂, acima das contradições políticas que dividem a sociedade, mas politicamente nunca deixou de ser linha auxiliar dos tucanos paulistas. E, agora, ataca gratuitamente os que fazem oposição ao atual governo.

Politicamente, Bolsonaro é um outro projeto político, se comparamos com os tucanos. Mas o projeto econômico é mais ou menos o mesmo.

Por isso, Pondé e outros que viam no PSDB uma alternativa política podem continuar como linha auxiliar desse governo, mesmo experimentando um certo constrangimento.

Nesse artigo, ele não chega a ter uma linha de raciocínio e não se sente na obrigação de dizer por que acha que o PT é uma ameaça à democracia, de onde tirou que “quanto pior melhor” orienta o PT e essas outras bobagens que afirma categoricamente.

Típica atitude autoritária, bem adaptada ao momento político que estamos vivendo: diz categoricamente e dita como os outros pensam, sem respeitar as verdades e convicções alheias nem dizer de onde tira essas acusações. O artigo é uma versão intelectualizada das fake news. Não passa disso.

Juca Ferreira é sociólogo e foi ministro da Cultura nos governos Lula e Dilma e secretário de Cultura em São Paulo e Belo Horizonte

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