segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Dois papas


Luis Felipe Miguel

Logo depois que Ratzinger foi eleito, encontrei com uma amiga católica, que estava revoltada com a escolha. Provoquei: "Uai, mas o Espírito Santo não diz aos cardeais quem deve ser papa?" Ela respondeu: "Sim, mas nem sempre os cardeais escutam".

Lembrei disso porque, com a férias em ritmo mais caseiro do que o esperado, graças ao braço quebrado da Regina, assisti aos Dois papas, de Fernando Meirelles.

Quem diria que aquele cardeal ultra-reacionário era, na verdade, um velhinho inofensivo, um pouco fanático e ranzinza, talvez, mas com bom coração e sedento por calor humano?

Na qualidade de anticinéfilo, não me cabe fazer crítica cinematográfica. Também não teria algo de novo a dizer sobre Dois papas - atores magníficos em interpretações soberbas, boa fotografia, roteiro competente, mas raso e previsível, com excesso de didatismo em algumas passagens.

O que me incomodou, mais ainda do que a humanização convencional de Ratzinger e a contundência insuficiente na discussão da relação de Bergoglio com a ditadura argentina, é como o filme anula a política interna (e externa) da Igreja, reduzindo-a inteiramente a um embate entre duas visões diferentes do sacerdócio.

É um filme que começa e termina na interpretação oficial da Igreja Católica sobre seu papel no mundo.

Para mim, um filme político fracassado, que evitou enfrentar seu tema.

Um comentário:

  1. Olá.
    Grata pelo comentário, já estava na dúvida e agora decidi, não perderei meu tempo assistindo esse filme. Apoio o Papa Francisco e suas idéias.
    Feliz Natal...

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