sábado, 21 de dezembro de 2019

Vidas intermitentes

Artur Araújo

QUE TAL COMER DIA SIM, DIA NÃO?

O higienicamente denominado "emprego intermitente" - que nada mais é do que a retomada de práticas de origem medieval, como a da "parede" de estivadores nos portos ou a contratação de garçons "morcegos" em alguma praça da cidade - já atinge 12% das novas vagas de trabalho formal abertas neste ano.

Foram 133 mil contratados sem jornada de trabalho determinada e sem salário fixo ou mínimo, mas que têm que estar totalmente disponíveis assim que chamados pelo patrão.

Como só raramente a "intermitência" excede 20 h/semana e, por óbvia consequência, o que o trabalhador recebe fica abaixo de metade do salário mensal típico da função, surge a "grande solução": para não virar, nas horas vagas, vítima de agiota, aviãozinho do tráfico ou corretor de gatonet para milícias, o "intermitente de bem" abolirá o mau hábito de refeições diárias, adequando sua fome e sua dieta à intermitência do dinheiro no bolso.

Marchamos aceleradamente para nos tornarmos um país em que o liga-desliga passa a reger as vidas, que terão que ser vividas intermitentemente, dia sim, dia não.
Link para reportagem da FSP com boas informações e avaliações sobre o tema.
11,8% das vagas criadas são de intermitentes

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