sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Os evanjegues têm que ser combatidos, não entendidos

Qual deles você quer na tua casa?

Vinícius Carvalho

As condições políticas do país me transformaram naquilo que eu jamais imaginei: na pessoa que se vê na obrigação de defender o Porta dos Fundos.

Nunca achei a menor graça no Porta dos Fundos, de todos os episódios que eu vi, não existe um sequer que eu goste. Acho o Fabio Porchat um bosta, o Antonio Tabet um merda e o Gregório Duvivier um pela saco, se eu tivesse doidão um dia na Praça São Salvador, eu acho que sairia no soco com os três ao mesmo tempo sem motivo nenhum, apenas por esporte, apenas por não gostar de gente que tem cara de paga-lanche.

Sou da geração do Bullying do Bem da Baixada Fluminense, advento que era um recurso de reparação histórica você ser um adolescente fodido e mal diagramado dar uns catiripapos nos playboys dotadões. Era justiça socrática.

Éramos feios, magrelos, não tinha internet, jogávamos futebol em ruas de paralelepípedo, era um dedo arrebentado por dia, a porrada comia por pipa e bola de gude, mas sadiamente, rolava sim brincadeira de mal gosto, como Garrafão e Carniça, o Maracanã ainda era de concreto armado, na Rádio Cidade tocava Alice in Chains e o Zeca Pagodinho ainda gravava músicas de macumba. Morávamos em lugares como Campos Elísios, Pantanal, Corte 8, Lote XV, Belford Roxo, Favela do Papel Cagado, Morro do Rato Molhado, Lixão, Vila Ideal, Kelson, Batan e etc. E na Baixada Fluminense, playboys não queimariam mendigos e índios.

Foi a minha geração que levou o Lula à presidência em 2002, que deu ao mundo o Hermes e Renato, o Funk Proibido e o Planet Hemp e, assim, limpamos com ácido e aguarrás a reputação do país dos jovens almofadinhas fãs de vôleibol da geração de prata e de filmes como Curtindo a Vida Adoidado dos anos 80, que elegeu o Collor, e ao mesmo tempo mantivemos a primazia moral sobre a geração posterior, criada a leite com pêra, já no bem-bom econômico do governo Lula e que queria ser gourmet e deu ao país lixos como Pânico na TV, Sertanejo Universitário, CQC e o Funk Ostentação.

Deu no que deu.

Por isso, venho por meio desta dizer que, mesmo odiando o Porta dos Fundos, é simplesmente vergonhoso ver gente relativizando o ataque terrorista que a sede da produtora deles sofreu por conta de um vídeo que eles fizeram debochando de Jesus Cristo.

É prerrogativa de uma sociedade que tenta ser democrática e um Estado Laico que se DEBOCHE SIM de toda e qualquer religião. A religião só é sagrada para quem a professa. Achar que existem preceitos religiosos intocáveis e incriticáveis é mais do que apenas medo e covardia, é assimilar que vivemos num Estado pré-teocrático e radical, nos moldes da Arábia Saudita.

Qual é o próximo passo quando esses cristãos malditos começarem a querer aplicar leis similares às leis de sharia? Falar que "Ahhh mas a maioria da sociedade é cristã, não podemos debochar disso".

O que o cristão ou qualquer outro militante ou sacerdote de outra religião, apenas eles, tem que SABER, nem que seja na base da marra e da mão pesada do Estado, é que a sociedade civil PODE SIM E TEM A LIBERDADE de debochar de qualquer religião, mas NENHUMA RELIGIÃO pode ameaçar a sociedade civil e a laicidade do Estado.

São eles que vivem num Estado de Direito e não o Estado de Direito que deve viver de baixo de preceitos bíblicos.

Só que é ainda pior. O ataque aparentemente partiu de um grupo integralista, de extrema direita, usando a bandeira do Anauê e da Monarquia. Há poucas semanas um grupo de jovens barbudinhos e crossfiteiros de Botafogo apareceram como representantes do novo integralismo no Brasil. Coincidência? Devem ser aqueles filhos da puta que ficam bebendo cerveja no Bar Bukowski.

Por isso é importante falar em choque de gerações, a minha não ia admitir isso. Já hoje, mesmo os marxistas, se cagam nas calças.

Eu acho que se necessário, não é mais momento de respeitar esses cristãos aí não, chegou o momento mesmo de afrontar e encarar sim.

E antes que falem que não podemos generalizar, é o seguinte: OU OS EVANGÉLICOS QUE DISCORDAM DESTE RADICALISMO PASSAM A SE POSICIONAR PUBLICAMENTE CONTRA ESTES ABSURDOS, OU, SE CONTINUAREM QUIETOS, VAI TER GENERALIZAÇÃO SIM.

Ou melhor, o respeito que eu tenho pelos neopentecostais é diretamente proporcional pelo respeito que os neopentecostais possuem pela macumba e pelos comunistas.

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