domingo, 22 de dezembro de 2019

O mal que a imprensa faz ao Flamengo


Mario Marona

1. A Fla Press causa enormes prejuízos ao Flamengo. Inventa, forja, exacerba, esconde defeitos e fez a torcida acreditar num time imbatível que não existe. Em parte porque torce mesmo pelo Flamengo, em parte porque acha que dá audiência adotar o time de 30% dos brasileiros e aborrecer 70% dos demais torcedores. Mesmo tendo sido, disparado, o melhor time brasileiro deste ano, o Flamengo não pode ganhar imunidade a críticas e análises rigorosas que a imprensa dedica, com razão, aos demais clubes.

2. Como eu disse ontem, em sincero reconhecimento, o Flamengo fez um jogo digno e de igual para igual, o que está longe de significar que está, ou esteve, no mesmo nível do Liverpool. Se estivesse, não haveria motivo para falar em dignidade. Seria apenas um clássico entre times que se equivalem. O Grêmio, que citei, foi digno ao perder nos pênaltis para o Ajax em 1995, justamente porque o Ajax era muito melhor (chegou a Tóquio invicto havia 46 jogos); foi digno ao perder para o Real Madri em gol de falta em 2017 porque o Real Madri era infinitamente superior e, mesmo assim, não nos empurrou uma previsível goleada. Foi mais ou menos assim, ontem,

3. A data e o formato dos mundiais de clubes continuarão tornando a competição desinteressante para os europeus. É claro que, uma vez participando, eles querem ganhar e se esforçam para isto. Vale taça e história. Mas desconfio que o Liverpool teria mais gana num jogo contra Leicester pelo campeonato inglês, desde que valesse a liderança da Premier League.

4. O Liverpool não é um pouco melhor do que o Flamengo. É muitíssimo melhor. Não há no Flamengo um único jogador que tenha mais qualidade do que algum jogador do Liverpool, embora eles tenham lá as suas babas. A vitória do time inglês, ainda que magra e apenas na prorrogação, mesmo assim foi natural e não exigiu grande esforço ou épicas superações. Os lances de gol criados pelos ingleses foram em maior número e muito mais perigosos.

5. O Liverpool só não venceu por 3 a 0, pelo menos, porque tem um atacante brasileiro que se caracteriza pela enorme dificuldade de fazer gols. Perdeu dois, ontem, que até o André Balada faria. Firmino é um camisa nove que joga ainda pior quando veste a camisa da seleção, e que a mídia esportiva brasileira protege e, quando comenta estatísticas de seu desempenho medíocre, sempre o desculpa com argumentos do tipo: “na verdade, ele sempre foi atacante de lado e não centroavante”.

6. O Flamengo tem o melhor técnico do Brasil, mas não tem um técnico do nível dos melhores da Europa. Aliás, nenhum treinador brasileiro (portanto, não me refiro a Jesus e Sampaoli) teria condições de comandar um time de segunda divisão da Inglaterra, Espanha, Alemanha ou Itália. Jorge Jesus, um dos fortes motivos do ótimo desempenho do Flamengo este ano, é bom técnico e pode até assumir algum time europeu de segunda linha, com chances de vaga na Liga Europa ou até na Champions, mas deve ser comparado, no máximo, a José Mourinho, outro português que de vez em quando acerta por lá.

7. Se não perder Jesus e muitos titulares, o Flamengo continuará sendo o melhor time brasileiro e um dos favoritos a vencer a Libertadores - e a uma provável nova derrota digna para o campeão europeu do ano que vem.

8. O Flamengo entrará 2020 com uma divida moral imensa com a sua torcida: solucionar de maneira generosa e sem manobras jurídicas e mesquinhas o litígio com as famílias dos dez meninos que morreram no incêndio do Ninho do Urubu, causado por incúria do clube. Isto vale muito para a história do Flamengo e deve custar menos do que um contrato de um ano com Gabigol.     

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