quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

A bolsonarização das polícias no Brasil


Murilo Cleto

O que está havendo é um grave processo de bolsonarização das polícias no Brasil. Pode parecer que a eleição de 2018 tenha significado apenas a ascensão dessas corporações ao poder, mas o buraco é um pouco mais embaixo .

Em que pesem todos os problemas das PMs brasileiras -- e eles são muitos --, as corporações ainda estão vinculadas a órgãos de controle social que fiscalizam ao menos minimamente a sua atuação. Bolsonaro, por outro lado, fez carreira política justamente se amotinando no quartel .

Seus heróis não são grandes ditadores, mas torturadores que atuavam na sombra pra adulá-los. A bolsonarização, nesse caso, significa um processo de desinstitucionalização total das polícias em nome de um projeto capanguista de extermínio e, no limite, a extinção das corporações.

Nesse sentido, a relação da família Bolsonaro com as milícias é bem representativa. As milícias são simplesmente uma fase específica dos grupos de extermínio que surgiram no fim dos anos 60, com apoio da ditadura e financiamento de empresários, fornecendo matadores de aluguel. 

Cresce nos quartéis um ressentimento com sociedade e o que ela conseguiu construir através de consensos políticos. O discurso de "bandido bom é bandido morto" saiu das margens pra ocupar o centro do debate e os números estão aí pra demonstrar que não se trata apenas de retórica. 

O Bolsonaro apoiou todas as paralisações policiais que teve a oportunidade, mesmo sabendo -- e eu diria que sobretudo por saber -- que elas são ilegais. Gestos de achaque como os do Ceará estão encontrando respaldo no Planalto e o resultado disso só pode ser o mais absoluto caos .
Não condenaram e nem vão condenar. Porque esse é o projeto.

Mas se engana quem pensa que esse processo é consenso entre policiais. Muitos sabem o tamanho da conta que logo está por vir -- e que aliás já tem bastante gente pagando faz tempo.


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