sábado, 22 de fevereiro de 2020

A elite liberal brasileira anda muito desunida


Moisés Mendes

OS LIBERAIS E A MÃE DO PAI DE HITLER

A elite liberal brasileira se reuniu esta semana na casa de praia. Estavam lá todos os representantes da elite, os liberais conservadores, os conservadores liberais, os reacionários liberais, os fascistas liberais, os nazistas liberais e outros grupos que não se identificam até porque estavam usando máscaras.

Um dos representantes da elite que se diz liberal à antiga reclamou que é preciso reagir, que terminou o pacto com Bolsonaro. Que Bolsonaro passou dos limites.

Um dos representantes da elite liberal reacionária disse que esses limites ainda são amplos. Que o importante é preservar a estrutura de governo, para que Paulo Guedes complete o serviço.

Um banqueiro liberal observou que de fato Guedes ainda não entregou o serviço, que ainda falta o grande plano, o plano de capitalização da previdência, nos mesmos moldes do chileno. Porque tudo do que foi feito até agora não significa quase nada diante do plano de capitalização, que vai dobrar os lucros dos bancos.

Os liberais que se dizem produtivos, que não gostam muitos dos bancos, só escutavam, até que um liberal latifundiário, grileiro e incendiário entrou na conversa.

Esse liberal, que odeia índios, afirmou que Guedes chegou ao esgotamento. Não porque não consegue avançar no seu projeto de reformas, mas porque entrou na área da Damares, do Araújo, do Olavo, do Carluxo e do Weintraub.

Guedes era da área operacional, da imposição racional do governo, e passou a se comportar como se fosse da ala fundamentalista e terraplanista, aproximando-se até da ala milicianista.

E aí o liberal observou. Guedes foi mal quando pediu a volta do AI-5, porque não se fica pedindo a volta do Ai-5 desse jeito. Simplesmente se aplica o novo AI-5 e pronto.

Depois, Guedes errou ao falar mal das empregadas que viajavam para a Disney. E mais recentemente disse que a mãe do pai dele foi doméstica.

Um cara que não consegue chamar a avó de vovó não pode merecer confiança, nem mesmo da extrema direita, disse esse liberal.

Porque a família, continuou ele, é o mais importante numa nação. Hitler era filho de Alois, que era filho de Maria Anna. Nem Hitler iria se referir à dona Maria Anna como a mãe do meu pai.

Hitler a chamava de vovó. Mesmo que Maria Anna já tivesse Alois, quando se casou com Johann Georg. O que significa que não se sabe ao certo quem teria sido o pai de Alois.

Se não se sabe quem é o pai do pai de Hitler, não se sabe quem é seu avô. E mesmo assim Hitler se referia a Johann Georg como vovô.

Por isso, disse esse liberal, com a concordância de outros liberais, não era possível continuar confiando em quem não citava a própria avó.

A reunião ficou tumultuada, porque os liberais nazistas não gostaram da referência solta a Hitler, e o encontro foi encerrado sem uma conclusão.

Alguém sugeriu que se dê mais um tempo a Paulo Guedes, para ver como ele se refere aos irmãos. Se ele disser que são os filhos do pai dele, aí a coisa vai ficar feia.

Mas o certo é que os liberais brasileiros andam muito desunidos.

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