quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Direita elegeu ditador ensandecido, mas quer que ele governe como presidente constitucional


Bolsonaro aposta em estratégia de intimidação

Bernardo Mello Franco

Jair Bolsonaro foi eleito presidente, mas quer governar como ditador. Não aceita as regras da democracia, que estabelecem limites ao exercício do poder.

Ao completar um ano no Planalto, o capitão elevou o tom dos ataques à imprensa. Agora busca insuflar seus seguidores contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal.

Na semana passada, o general Augusto Heleno disse que era preciso “convocar o povo às ruas”. Foi a senha para os grupos de extrema direita organizarem novas marchas a favor do governo.

Bolsonaro gostou da ideia. Em pleno feriado, compartilhou dois vídeos que incitam as massas a mostrar “a força da família brasileira” e protestar contra os “inimigos do Brasil”.

Além de divulgar os filmetes que o definem como um líder “cristão”, “patriota” e “incorruptível”, o presidente sugeriu um mote para o ato chapa-branca. “O Brasil é nosso, não dos políticos de sempre”, escreveu, como se ele não fosse um político profissional que já pendurou três filhos no mesmo galho.

Não é a primeira vez que Bolsonaro usa o peso do cargo para atacar abertamente as instituições. Em maio de 2019, ele endossou um texto que o apresentava como refém de “conchavos”. Cinco meses depois, divulgou um vídeo que retratava o Supremo, os partidos políticos e os meios de comunicação como hienas ávidas para devorá-lo.

No carnaval de 2020, o capitão voltou a vestir a fantasia de outsider perseguido pelo sistema. A diferença é que agora ele parece mais animado a apostar suas fichas numa escalada autoritária.

Viciado em confrontos, Bolsonaro implodiu pontes com o Congresso, rompeu com o próprio partido e comprou briga com a maioria dos governadores. Agora tenta acuar setores que começam a articular uma frente para conter seus desvarios.

A militarização do Planalto e o uso de milícias virtuais para linchar jornalistas obedecem a essa estratégia de intimidação. A convocação de manifestações de teor antidemocrático faz parte do mesmo jogo.

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