quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Pequeno deslize


Bolsonaro, o cafajeste

Ascânio Seleme

São muitos os adjetivos que se pode usar para designar Jair Bolsonaro em razão da mais nova agressão a jornalista. Claro que o presidente atentou outra vez contra a imprensa ao atacar a repórter Patrícia Campos Mello, da “Folha de S. Paulo”. Por isso, cabe chamá-lo de autoritário e antidemocrático. É evidente que o chefe do Executivo gostaria de calar os jornalistas, e nesse caso é apropriado afirmar que ele defende a censura. Nenhuma dúvida que o capitão falava para a sua claque, o que lhe garante a designação de populista.

Bolsonaro desrespeita sistematicamente a imprensa. Se pudesse, fecharia veículos como a “Folha” ou como a TV Globo, que mereceram ataques diretos do presidente em acessos de cólera por causa de reportagens que lhe desagradaram. Também já deu inúmeros sinais de que seria capaz de empastelar um jornal, como gente igual a ele fazia num passado não muito remoto. Por essas razões, pode-se chamar Jair Bolsonaro de truculento e intolerante.

Sua ira insana contra jornais e jornalistas também estimula seguidores digitais. Seus arroubos ofensivos são multiplicados na internet e tem gente, muita gente, que aplaude e acha graça das asneiras expelidas por sua excelência. Nas redes sociais fez o sucesso rotineiro entre os mais desmiolados, que imediatamente reproduziram a estultice. Cabe, então, acusar o indigitado de incitar grosserias e ataques.

Do alto da sua prepotência, designação que também se adapta ao presidente, insultou a jornalista e assumiu para si uma ofensa mentirosa contra a sua reputação feita por testemunha de um crime eleitoral em depoimento a uma Comissão Parlamentar de Inquérito do Congresso Nacional. Por isso, Bolsonaro pode ser chamado de difamador. E também pode e deve ser processado criminal e politicamente por esse abuso.

O ataque a Patrícia Campos Mello torna Jair Bolsonaro um outro elemento tão nocivo quanto difamador, populista, prepotente, truculento, intolerante, autoritário e antidemocrático. Chamá-lo de biltre, ou classificá-lo como um indivíduo infame, desprezível e vulgar poderia parecer exagero. Mas não parece incorreto se for usado apenas o melhor sinônimo para estas palavras. Cafajeste. Somente um cafajeste teria coragem de fazer o que ele fez diante das câmeras de TV.

Em casa, seria como se um sobrinho entrasse na sala, com a tia e a avó sentadas tricotando, e proferisse uma obscenidade daquele tamanho. Cafajeste é aquele tipo de homem que se dirige às mulheres sempre de um ponto de vista de dominância sexual, como se elas fossem simples coadjuvantes do seu prazer. Um cafajeste tem na sua natureza a malícia. Faz gracinhas de caráter erótico e dá risadinhas. Algumas vezes convence. Sobretudo quando é poderoso. Na porta do Alvorada, Jair Bolsonaro arrancou vergonhosas gargalhadas de algumas das mulheres da sua claque.

Bolsonaro já fez outras. Não se esqueçam da ex-deputada Maria do Rosário (PT-RS), que ele disse que não estupraria por achá-la feia. Não se esqueçam de Brigitte, mulher do presidente Emmanuel Macron, de quem o capitão zombou pela sua idade e aparência. Não se esqueçam da sua filha Laura, que nasceu, segundo o presidente, porque ele fraquejou e não conseguiu produzir mais um homem. Não se esqueçam da deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), que segundo Bolsonaro seria mais magra se mentisse menos. Não se esqueçam da pirralha Greta.

Cafajeste não ataca homens, só mulheres, porque equivocadamente as julga mais frágeis. Patrícia Campos Mello é uma mulher muito mais forte do que o homem Bolsonaro. Tem um currículo cem vezes melhor e mais rico do que o de seu detrator. Patrícia busca a verdade. Bolsonaro foge da realidade. Na quarta, ao defender Paulo Guedes de suas gafes, disse que o ministro cometeu pequenos deslizes, como ele próprio admitiu já os ter cometido, no passado.

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