sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

O que vem a ser o fenômeno das Milícias?


Celio Turino

GOLPE MILICIANO EM MARCHA

O Brasil está na iminência de sofrer um golpe miliciano, a partir das PMs e grupos paramilitares vinculados.

I - Compreendendo a lógica do poder miliciano.

O que vem a ser o fenômeno das Milícias?

Formadas e continuadas a partir do estado do Rio de Janeiro, as milícias são compostas por Policiais Militares trabalhando à paisana, ex-militares das Forças Armadas, por vezes soldados que receberam treinamento especial, policiais aposentados, policiais expulsos da corporação e pessoas vinculadas. Inicialmente se constituíram para oferecer segurança ao comércio e moradores de determinada região, suprindo deficiências da segurança pública. No caso do RJ, com forte presença na zona oeste, mas não só, as pessoas se cotizam, pagam uma mensalidade e assim se sentem seguras. Como resultado, há uma redução nos pequenos crimes e um ordenamento na ordem local. Com isso as milícias vão se estabilizando e consolidando poder. É nesse momento que acontece o desarranjo.

Para atuarem, as Milícias precisam da conivência da hierarquia policial, pois não faz sentido capitães e coronéis, de repente, se verem ganhando menos que seus subordinados, via arrecadação com serviço de segurança privada. Com isso, boa parte, ou a totalidade, desses serviços acabam controlados pela alta hierarquia da segurança pública, seja de forma legal ou via prepostos. Essa promiscuidade é sustentada pelo pagamento de pedágio (suborno) que, em muitos casos se estendem a corporações inteiras, envolvendo delegacias e quartéis. Há os que não se submetem a este jogo, que, ou acabam perseguidos, ou colocados de escanteio, em funções inofensivas ao negócio da milícia. Toda essa engrenagem custa, e muito, aumentando a demanda por arrecadação.

A maneira para aumento da arrecadação é simples: quanto mais ineficiente a segurança pública, mais os empresários e famílias estarão propensos a pagar pela segurança miliciana. O fato é que pessoas ainda não se deram conta da perversidade dessa engrenagem (ou se deram conta, acomodando-se ou até mesmo criando formas de benefícios, como a intimidação e extermínio de pequenos e recorrentes assaltantes). A lógica é a seguinte: agentes públicos da segurança se veem estimulados a oferecer serviço cada vez mais precário para, na outra ponta, elevarem seus rendimentos via negócio privado da segurança.

Quanto mais ineficientes forem no trabalho fardado, mais irão engordar o próprio faturamento quando paisanos. Para que esta lógica funcione, a engrenagem de arrecadação precisa se movimentar de forma mais azeitada, não só dentro da corporação da segurança pública, mas também na Justiça e Política. E isso custo muito! São bocas e bocas cada vez mais gulosas. Isso faz surgir novos negócios: Gatonet; monopólio na venda de gás, com botijão pela metade (lembram-se da proposta do Bolsonaro, para venda de botijões com menor quantidade de gás?); loteamentos ilegais em áreas de mananciais, encostas, matas, desde favelas, e todos pagando por isso, por mais precário que seja o barraco (vide tio da primeira Dama, sargento da PM de Brasília, preso por extorquir favelados), até a construção de edifícios fora das especificações (vide edifícios que desabaram em Rio das Pedras, reduto eleitoral da familícia); venda ilegal de armas; serviço de guarda-costas para bicheiros e demais criminosos; transporte de valores oriundos do crime; assassinatos de aluguel (vide Escritório do Crime, com comando aparente do ex-Bope, capitão Adriano, com fortes vínculos com a família presidencial, recentemente morto na Bahia). Com o tempo também vão se acertando com outras facções do crime, seja em acordos de convivência/proteção, ou substituindo-os.

É toda uma engrenagem que movimenta bilhões e tem muito poder político (controlando eleitorados inteiros e elegendo muitos parlamentares, todos, cinicamente, com discurso da segurança pública e combate ao crime) e institucional. Esse poder foi ainda mais potencializado quando se associou ao fundamentalismo neopentecostal. A partir daí alçaram voo maior, disputando e ganhando o poder executivo em alguns estados e na república.

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