domingo, 16 de fevereiro de 2020

Bolsa de Valores não é indicativo de sucesso ou fracasso da política econômica

Fernando Horta

Muita gente que não entende nada de economia acha que o valor acumulado na bolsa é indicativo para "medir" o sucesso ou fracasso da política econômica de um país.

E gente que entende de Bolsa de Valores não tem o mínimo interesse em desfazer esta percepção.

Quer saber por quê?
A Bolsa de Valores foi pensada para ser uma forma de financiamento alheio ao capital dos banqueiros. As primeiras bolsas surgiram no século XVII, com a Companhia das Índias Orientais. A ideia era obter dinheiro para investir na companhia sem ter que pagar os altos juros bancários 

De lá para cá, sociedades altamente financeirizadas ou sociedades com enormes quantidades de riqueza (normalmente extrativas) são normalmente parasitadas pelas "bolsas". A ideia é que o dinheiro circulante no mundo precisa achar um meio de se ligar à produção para virar "capital" 

Daí a bolsa pode servir para alavancar a produção captando dinheiro, ou pode servir para enganar grande parte dos investidores através dos movimentos de compra e venda e dos valores de cada título. As fraudes, legalizadas ou não, são parte da história comum das bolsas. 

O exemplo mais claro, embora nem de longe o único, é o Crash de 1929. O negócio das bolsas se tornou como um grande jogo de apostas só que normalmente além da sorte uma série de informações privilegiadas acaba definindo o vencedor. 

Em 1929, uma série de companhias inexistentes ou muito pequenas passaram a se vender na Bolsa, captando dinheiro com a promessa de crescimento por supostamente estarem atendendo o mercado europeu do pós-primeira guerra. 

O jogo de "enganar o investidor" com falsas empresas ou falso crescimento assustou tanto que praticamente todas as bolsas do mundo passaram a exigir inúmeros documentos e provas para empresas participarem da captação e não raro ocorrem punições para fraudadores e especuladores. 

Mas e quando o "jogo de enganar" ocorre de forma supostamente lícita? Ou seja, e quando os valores de compra e venda são jogados para cima ou para baixo propositadamente sem que haja uma correlação com a produção efetiva na atividade econômica? Aí os jogadores chamam de "bolha". 

Veja o link abaixo. Um dos jogadores mais ricos do país avisa que o Brasil pode estar entrando numa "bolha". A bolha é feita através de ações que aumentam os preços de determinados ativos de forma irreal para, em determinado momento, vendê-los com lucro.


Imagine que eu saiba que a China, de repente, descobriu que açaí tem um componente que cura o câncer (informação fictícia). E ela passa a comprar toda a produção de açaí do mundo. As empresas de açaí têm ações na bolsa e certamente as ações vão subir.

Eu como um operador do sistema financeiro vejo o movimento e compro junto as ações. Na curva de oferta e demanda o preço vai levando a ação para cima na esperança de que realmente haja uma correlação entre o preço da ação e a atividade econômica real. Todos vamos ficar ricos!

Mas e se a informação não for correta? Ou se tiver sido apenas "plantada" por alguém que queria lucrar com a disparada do preço das ações? Se eu tenho ações das empresas de açaí, faço o movimento mentiroso do aumento dos preços e vendo as ações com preço lá em cima. Realizo lucro.

Veja: se eu comprei as ações a 2 reais e o movimento especulativo faz estas ações chegarem a 20 reais, eu as vendo por 20. Quando os "apostadores" se derem conta da especulação o preço cai e volta para, digamos, 3 reais a ação. Daí eu compro de volta. Ganhei 15 reais por ação.

O mesmo pode ser feito ao inverso. Ou seja, gente com muita grana ganha com a bolsa em alta ou em baixa. Imagina uma ação que custe 50 reais. Eu as consegui quando eram 40. Então eu vendo a 35 (tomando prejuízo) e crio um boato de que a empresa vai ser atacada pela Lava a Jato.

A ação despenca. O medo das pessoas de que a empresa fique inabilitada faz o preço da ação chegar a 12. Então eu compro a ação de volta. Ganhei 18 reais sem produzir nada, sem fazer um emprego nem coisa alguma.

O problema é que grandes capitalistas podem apenas pela compra em grandes quantidades de um determinado ativo fazer o preço subir ou descer. Então o jogo da bolsa PRECISA SER ENTENDIDO sempre em consonância com a atividade econômica real. Lembra do aviso do banqueiro sobre a bolha?

Pois veja que estamos com atividade econômica contraída, desemprego, PIB em queda, informalidade, cenário internacional de crise e um bando de incompetentes gerindo o governo.
Agora olha a curva para cima da BOVESPA ...
Se você calcular o ângulo da subida da linha vai ver que é mais acentuado do que nos anos em que nossa economia estava efetivamente crescendo, com cenário internacional positivo e um processo de distribuição de renda que ativava o mercado interno. Dá para entender?

Ou seja, há um movimento especulativo de pessoas querendo tirar dinheiro de outras pessoas de forma "legal" na bolsa. Ela vem "crescendo" sem nenhum respaldo na atividade econômica do país ou mesmo mundial. Isto é a "bolha".

A tal "bolha" (roubo institucionalizado) vai carrear uma enorme quantidade de dinheiro de desavisados para gente que não produz um parafuso e vai ficar rica da noite para o dia. E isto ninguém que "trabalha" na Bolsa quer explicar para você, exatamente porque eles ganham na ignorância.

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