sábado, 29 de fevereiro de 2020

A igreja evangélica é um clube de serviços e oportunidade de ascensão social em troca de 10% do que você ganha



O MACACO NU

Claudio Vigo

Nem nos meus maiores pesadelos, porres ou desesperos eu poderia imaginar que um dia fossem contestar a terra esférica e a teoria da evolução das espécies. Já tem gente relativizando até a lei da gravidade. Os crentes neopentecostais leem a Bíblia como se fosse um romance realista de Émile Zola, sem compreender.

Na época mais fechada da idade média tínhamos pendengas de altíssima complexidade e figuras como Santo Agostinho e Tomás de Aquino, todo um caldo de cultura que na atualidade é relativizado nesta suma teológica que se resume numa frase: O meu em dinheiro por favor. Obscurantismo de resultado.

Sempre conto a história de um almoço que tive com um eminente pastor de uma Igreja protestante tradicional, quando perguntei: “Não incomoda a vocês que são protestantes “históricos”, esse achaque aos pobres, com tabelinha de milagres e dizimo no cartão de débito?” obtive a resposta: “ Preferimos muito mais canalhas que levem a palavra de Deus que ateus bem intencionados como você”. Nada mais foi dito nem perguntado.

Já participei de conclaves e inúmeras reuniões com a alta cúpula de muitas destas igrejas e posso dizer que quando a porta fecha a coisa fica punk. Entre uma oração e outra, as coisas são colocadas com toda a clareza business e estratégia de poder. Parece a Cosa Nostra.

Nunca me senti pior de quando tive que explanar um projeto em um palco, entre sessões de exorcismo, milagres, duelo de bíblias e povo gritando Aleluia, revirando os olhos, falando línguas. Uma energia sinistra e carregada.

Na verdade a igreja hoje nada mais é que um clube de serviços e uma oportunidade de ascensão social em troca de apenas 10% da miséria que você ganha. Lá você vai se sentir protegido e ungido e terá a sensação de pertencimento a algo sólido . Bem diferente das políticas públicas, dos candidatos que só aparecem na eleição e que roubam bem mais que 10%, pelo menos na igreja o jogo é as claras. Terá lazer, se sentirá melhor que os outros, você conhece a palavra de Jesus. Um escolhido que receberá benesses financeiras e do além, quanto mais doar para a obra do Senhor. Muito sedutor e simples. Sem transcendência e complicações. O Diabo é o inimigo, tudo está na Bíblia e o pastor é o tradutor.

O projeto é substituir a Igreja Católica na estrutura de poder institucional. Quem antes também implicava com tudo, atormentava as consciências dos diferentes e trazia seus fiéis a ferro e fogo na culpa e danações. Os crentes são mais leves, só 10% e você ganha todo o pacote de preconceitos que vão te diferenciar, sem necessidade de mandar ninguém para a fogueira real, só na metafórica

Vivemos hoje uma Guerra Santa, o Estado está ocupado por um aparelho religioso que quer finalmente seu lugar ao sol. Tem sua bancada fiel, tomou conta do poder executivo e ruma para evangelizar qualquer coisa que passe na frente. Chegou a hora da gente direita se vingar de tudo aquilo que não compreende, ou sai fora do seu pacote comportamental.

Não se queima gente, mas todos os lugares onde se exerça a diferença. Me passa pela cabeça qual a reação futura se esses Talibãs de Cristo conseguirem formatar a sociedade sob este tacão e o que aconteceria com livros como a Função do Orgasmo de Reich ou mesmo Desmond Morris e seu Macaco Nu.

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