"NOSSA", A JABUTICABA DO PENSAMENTO BRASUCA
Cristóvão Feil
A expressão "nossa" é uma interjeição e/ou também um pronome possessivo.
Hoje em dia, penso eu, é a expressão mais pronunciada na língua de Camões. Me refiro no sentido de interjeição.
(Porque no sentido de pronome possessivo cada vez menos coisas nossas - do Brasil -, são mesmos "nossas", mas passaram a ser apropriadas pelos USA.)
O sujeito diz: — Nossa! E não precisa complementar mais nada. "Nossa" é um discurso completo. Evita aquela chatice de formular a oração completa com sujeito-verbo-predicado.
"Nossa", e estamos conversados. Todos sabem o quanto estamos ficando cada vez mais inteligentes e safos. Basta a interjeição, o outro já captou o resto da intencional oração, mas sobretudo o próprio pensamento do emissor do "nossa".
Classifico o "nossa" como um avanço civilizatório, um avanço quântico mesmo. Uma genuína contribuição do Brasil ao pensamento ocidental. Há síntese, há economia de palavras, faz com que o pensamento se complete em um clic dos neurônios, e duas massas encefálicas se comunicam na velocidade do átomo. O "nossa" é uma jabuticaba do pensamento brasuca. O "nossa" é nosso, e nem mil milicianos nos tomam.
O "nossa" liberta, mesmo para aqueles que têm a língua presa e pronunciam "nofa". O sujeito pode ter a língua presa, mas o pensamento é mais liberto que um colibri.
O brasileiro que inventou o "nossa" deve ganhar o Nobel. Será o primeiro, com louvor e subida honra. Sem esquecer o caráter religioso do "nossa", uma contração de Nossa Senhora. Veja que o "nossa" também é uma forma de prece e um rogo à Mãe das mães. Não é lindo, não é piedoso, gente?
Ah, mas tem uma coisa: se você usar o "nossa" em texto, por favor, não esqueça a vírgula, logo depois do "nossa".
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