quinta-feira, 6 de agosto de 2020

A convivência pacífica com o imperialismo é impossível




O imperialismo norte-americano realiza determinismo histórico (chamado, entre outros nomes, de “excepcionalismo”) que está na essência da cultura dominante nas elites – antes rurais e industriais, hoje bancárias – dos Estados Unidos.

Esse determinismo motivou a decisão do Presidente Harwood Wilson de habilitar o país a substituir a Inglaterra na gestão do império sobre o qual “o sol jamais se punha”. Foi para isso que, em 1917, uma campanha de propaganda de novo tipo convenceu o povo norte-americano a aceitar o envolvimento na distante guerra europeia.

A coroa logo passaria da City a Wall Street.

A campanha patriótica e belicista -- baseada na construção de uma “realidade” ou representação verossímil, porém enviesada, do real -- foi logo incorporada e adaptada à práxis industrial e ao estilo de jornalismo objetivo que se desenvolvera no país como reação ao sensacionalismo.

Trata-se de uma variante exclusiva do nacionalismo fanático: sua essência consiste na convicção de que, sendo os Estados Unidos uma exceção virtuosa no mundo, todas as sociedades que não forem exatamente iguais a eles estarão erradas e é seu dever corrigi-las. A xenofobia implicada nessa atitude manifesta-se, ora como paranoia, no cultivo do medo, ora como desprezo pelo outro.

O processo de consolidação do excepcionalismo imperial gerou técnicas e tecnologias que se desenvolveram em paralelo às estratégias de outro nacionalismo, de matiz étnica, cultivado na Alemanha, primeiro pelo Partido Nazista, depois pelo Ministério da Informação que comandava toda a produção de sentido no III Reich.

Houve intensa troca de ideias, métodos e proposições filosóficas. Boa parte dos quadros acadêmicos e gestores da propaganda do período nazista foram incorporados a centros de estudos e estruturas de marketing norte-americanos, seja por dissidência política, ao longo dos anos 1930, seja por cooptação, no pós-guerra.

A crítica da retórica nazista efetuada por autores como Wilhelm Reich, Jean-Marie Domenach ou Serge Tchakotine aplica-se, em regra, à propaganda americana que, no entanto, inventa novas estratégias que vêm sendo descritas à medida que surgem em processos de falsificação de informações ou mobilização subversiva.

Em sua adaptação ao modelo político norte-americano, o conteúdo autoritário do regime nazista foi compensado pela extensão hegemônica do discurso publicitário a todas as áreas do conhecimento, sugerindo unanimidade; e pelo confinamento dos discursos desviantes em guetos protegidos da opinião pública – imprensa alternativa de circulação contida, alguns centros universitários, uma faixa etária de “rebeldia” etc – cercados por permanente e insuperável pressão social dirigida e minados pela promoção de divisões internas.

Essa é a “democracia” americana. Ela esconde, sob artifícios como o “inimigo único” ou o “perigo iminente”, a máquina imperial mais cínica da história da humanidade, que, premiada pela tolerância e cumplicidade alheias, acumula crimes sem registro antecedentes comparáveis em dimensão e crueldade.

Tenho velha e impopular tese com relação ao imperialismo americano. Pensava, na época, e penso hoje que, se ele tivesse sido confrontado seriamente nos anos 1950 -- ou no episódio dos foguetes instalados em Cuba, na década seguinte --, milhões de pessoas poderiam ter morrido, mas o próprio povo norte-americano nos teria livrado das desgraças que o desvario dessa pouca gente vem provocando ou ainda provocará.

Não creio que seja possível negociar com os plutocratas que dominam os Estados Unidos. Manterão obstinadamente seu objetivo de dominar o Continente, a Terra e o Universo, destruindo tudo que for diferente da própria mediocridade, até que alguém os derrote e sepulte em cova bem funda.

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