A pose é conhecida. Modelo “Rambo”, anos 80. Pernas abertas, para que não se duvide de que são machos. O rifle automático em evidência, atravessado na frente do corpo. Há outras armas, semiescondidas. Pistola, punhal, granadas — e tudo dentro da lei. Eles podem se deixar fotografar prontos para ser o Sylvester Stallone dos seus sonhos porque nada do que carregam, inclusive lança-foguetes, é proibido. Tudo pode ser comprado em qualquer loja de armas dos Estados Unidos, onde o único limite é a validade dos cartões de crédito.
Grupos de extrema-direita estão se preparando para o confronto, que dizem inevitável, com seus inimigos esquerdistas, judeus e negros, estes mobilizados por repetidos exemplos de violência racista da polícia sob pretexto de manter a ordem. O grupo que pretendia sequestrar uma governadora progressista e ocupar a sede do seu governo anunciou que seu objetivo era provocar uma guerra civil. Não ajudou o presidente Trump pedir, paternalmente, paciência para os extremistas da direita, deixando claro com que lado simpatiza. O que torna a atual situação nos Estados Unidos mais grave do que jamais foi são estas duas novidades: pela primeira vez a ameaça de uma guerra civil moderna sai da retórica para a ação — mesmo que anunciada e iniciada por Rambos de fantasia —, e um presidente americano moderno não disfarça por quem torceria na nova guerra.
Enquanto isso, a mosca que passeou pelo cabelo do Pence no debate dos dois candidatos a vice-presidente teve seus cinco minutos de fama e desapareceu sem deixar nome e endereço, o que permitiria que se desenvolvesse alguma tese a seu respeito, ou apenas a conhecêssemos melhor. Ela simbolizaria a pretensão humana reduzida ao absurdo de um ínfimo detalhe — o binômio mosca preta/cabelo branco— atrair mais atenção do que o próprio debate ou apenas uma falha na dedetização do local? A mosca acabou sendo a estrela do evento. Voltou para seu anonimato. Mas pelo menos voltou com uma aventura para contar.
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