TI e finança se viram na crise e vida nas cidades continua crítica
Tecnologias de informação estão no azul e vida urbana está longe de se recuperar
As empresas de tecnologia de informação faturaram mais em agosto do que logo antes do início da epidemia, em fevereiro. É alta pequena, algo mais do que 2%, e esse tipo de serviço era o que crescia mais rápido antes da calamidade, mostram os dados do IBGE.
Dada a devastação na média do setor de serviços, é um alívio, compartilhado com o mercado financeiro, aliás. Não por acaso, volta a se ouvir das firmas de TI que falta gente para contratar.
Para voltar ao nível de faturamento de fevereiro, o conjunto dos serviços precisa ainda crescer quase 11%. No caso dos ditos “serviços às famílias”, terríveis 72%. No rótulo “serviços às famílias” estão hotéis, restaurantes e similares, cultura, recreação, lazer, esportes, cursos, academias, lavanderias, salões de beleza e afins.
Em um resumo muito estilizado, dá para dizer que a transformação tecnológica é prioridade e continua; a vida nas cidades, nas ruas, continua muito abaixo do que se chamava de normal, no início do ano.
Para o IBGE, a categoria “serviços de tecnologia de informação” inclui desenvolvimento de programas de computador, consultoria em TI, tratamento de dados, provedores de conteúdo, portais e hospedagem na internet. É intuitivo que a demanda desses serviços tenha resistido. A mudança tecnológica é forte, empresas tiveram de reforçar ou expandir sua infraestrutura de TI para trabalhar durante o distanciamento e devem ter experimentado meios de poupar custos por causa do choque do vírus.
Empresas talvez tenham descoberto que podem manter parte de seus empregados em teletrabalho permanente, que podem contratar empregados em outra região ou até país, contratar por empreitada (por horas ou tarefa), substituir trabalho por automação ou terceirizar. Parte do trabalho no “home office” pode ser uberizado.
Em um primeiro momento, pelo menos, pode haver impacto negativo no número de posto de trabalho, embora cortes em um setor não impliquem necessariamente redução geral do nível de emprego. A vida nas cidades pode mudar, no entanto, se não houver alternativas à vitalidade urbana dessas aglomerações de trabalhadores que são as empresas tradicionais, digamos. Pode ser que a queda de preços de escritórios, por exemplo, estimule o surgimento de ocupações desses espaços por outros negócios ou finalidades. Mas não sabemos.
Sabemos que a vida nas cidades ainda está em situação crítica. O movimento de passageiros no Metrô de São Paulo em setembro ainda era 43% inferior ao do mesmo mês do ano passado (em abril, fundo do poço, fora 80% menor). Em agosto, na CPTM, a empresa de trens metropolitanos, 47% menor em relação a 2019. A venda de gasolina no país em agosto era 10% menor que em agosto do ano passado, dado da ANP.
Em outubro, as vendas nos postos de gasolina com cartão, dados da Cielo, ainda estavam 13% abaixo do registrado em fevereiro. Em bares e restaurantes, 26% abaixo. O tráfego de veículos leves pelas estradas privatizadas em setembro era 8% menor que em 2019, dado da ABCR.
A cidade ainda está travada, sete meses depois do paradão da praga do vírus. Menos viagens de metrô ou carro, escolas fechadas e teletrabalho resultam em menos gente a comprar nas lojas de rua e dos ambulantes, a comer nos restaurantes (majoritariamente “quilos”, lanchonetes e similares), a ir ao barbeiro, ao cinema, ao curso, à lavandeira ou a fazer qualquer atividade corriqueira dessas que põem sangue para circular na vida das cidades e na economia. Não dá para todo mundo ser entregador de aplicativo.
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