A atuação do general Villas-Bôas não destoa da atuação histórica das Forças Armadas no Brasil
Passou quase em branco informação importante publicada nesta Folha para a reconstituição dos bastidores do golpe parlamentar que derrubou Dilma Rousseff (ou alguém aqui ainda acredita em pedaladas fiscais?). A colunista Camila Mattoso, no Painel, informou que, um ano antes do impeachment, o vice, Michel Temer, teve um encontro sigiloso com o então comandante do Exército, Eduardo Villas-Bôas, e o chefe do Estado Maior, Sérgio Etchegoyen.
A revelação foi feita pelo filósofo e amigo de Temer, Denis Rosenfield, que intermediou o encontro. Segundo ele, o comandante o procurou porque os militares estavam "preocupados com o país". Etche-goyen foi nomeado ministro da Segurança Institucional de Temer. Villas-Bôas é o general tuiteiro que se tornou uma espécie de tutor-geral da República, com desenvoltura suficiente para postar ameaças ao STF quando bem entende.
No exercício de tutela danosa para a democracia, o general não destoa da atuação histórica das Forças Armadas no Brasil: da origem da República (com um golpe militar), ao longo de todo o século 20, culminando com os 21 anos de ditadura. Os militares, ora no poder em trajes civis, têm como herói o bestial Brilhante Ustra, que, entre outras atrocidades, levou crianças para ver os pais sendo torturados. "Um homem de honra", disse Mourão, em vexaminosa entrevista.
O governo de extrema direita reúne um arranjo de interesses que degrada e perverte o país. Além dos generais embalsamados na Guerra Fria, fundamentalistas religiosos, defensores do ultraliberalismo econômico, o agronegócio do "correntão", milícias e a família do chefe, de braços dados sob a regência do centrão. Todos fazem de conta que Bolsonaro aprendeu as virtudes da moderação, que a corrupção acabou e a vida segue. Aí, aparece um senador, vice-líder do governo, com dinheiro enfiado no bumbum para nos lembrar que estamos trancafiados num labirinto e que alguém jogou a chave fora.
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