No calendário do governo federal, o Brasil teria 48,287 milhões de doses de vacina contra a Covid-19 em abril. Pelo menos 20 milhões dessas doses não vão chegar. O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse nesta quarta-feira na Câmara que a coisa vai ser ainda pior: cerca de 22,8 milhões de doses vão desaparecer do cronograma do mês que vem. Seria o bastante para vacinar pelo menos 10,8 milhões de pessoas, quase dois de cada três idosos de 60 a 69 anos, o grupo de idade em que morrem 23% das vítimas da Covid-19 no Brasil.
Parte dessas vacinas agendadas para abril era fantasia do general Pesadello, o ex-nunca-ministro da Saúde. Eram as 8 milhões de doses da Covaxin da Índia e as 400 mil da Sputnik russa, que ainda não foram aprovadas pela Anvisa.
Tem mais problema.
O governo chinês decidiu acelerar a vacinação no país. Foi ao mercado local e comprou o que havia de vacina. Assim, as empresas chinesas ficaram sem sobras para adiantar entregas de insumos para outros países, segundo explicações que este jornalista ouviu no governo de São Paulo e no governo federal.
O Butantan não recebeu na segunda quinzena deste mês a matéria prima para fazer as vacinas que previa entregar em abril. A Sinovac, que produz o insumo da Coronavac, cumpre os prazos de entrega contratados, mas pelo menos por ora parou de fazer os adiantamentos solicitados pelo Brasil. A situação vai ficar apertada até pelo menos na primeira quinzena de maio. Em tese, a próxima remessa de insumos chega no dia 9 de abril.
No calendário do governo, haveria cerca de 15,8 milhões de doses da Coronavac disponíveis em abril. Agora, o instituto do governo paulista prevê entregar 9,8 milhões de doses, cumprindo o contratado com o governo federal até o final do mês que vem (46 milhões de doses).
Até a semana passada, o calendário do governo federal previa 21,1 milhões de doses da AstraZeneca/Oxford para abril. Também na semana passada, a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, disse ao Senado que espera entregar por volta de 18 milhões de doses (18,8 milhões, no cronograma divulgado pela Fiocruz). Apenas em junho a instituição espera chegar a sua capacidade de produção plena. Para maio, também estão previstas menos doses que as registradas no calendário do governo federal (21,5 milhões, não 25 milhões).
Mesmo descontados esses desastres, a conta pessimista do ministro Queiroga ainda não fecha, nem tirando de abril as doses do consórcio internacional Covax (quase 1 milhão) e aquelas que seriam importadas da Índia, prontas, pela AstraZeneca (2 milhões). Tem mais desastre?
Pelo calendário federal da semana passada, em parte fictício, até o final de abril o país teria doses suficientes para vacinar mais de 31% da população vacinável (de 18 anos ou mais) e mais de 63% dos grupos prioritários. Pelas novas contas do ministro Queiroga, não deve imunizar mais do que 24% dos vacináveis e algo menos que a metade dos grupos prioritários.
Com atraso maior na vacinação, a situação continuará desesperadora. Não resta alternativa a não ser distanciamento social e máscaras.
Enquanto isso, Jair Bolsonaro continua a fazer campanha contra o distanciamento social. O “pacto nacional”, o “comitê nacional” é em parte a farsa prevista. Algo vai se fazer no Congresso e no ministério. Bolsonaro quem sabe se aproveite de alguma despiora devido à ação do restante do país, de parte dos governadores, dos prefeitos, do Congresso, enquanto faz propaganda criminosa para suas falanges. É um parasita.
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