sexta-feira, 2 de abril de 2021

Palavras banais de amor à democracia de quem votou em Bolsonaro

 
Ainda sobre o "manifesto dos presidenciáveis" - aquele que, como disse Gleisi Hoffmann, incluía um veto contra quem quer que tenha votado contra Bolsonaro em 2018.

Um documento inócuo, de palavras vagas, cuja única importância é  servir de declaração oficial do deslocamento de Ciro Gomes para o campo da centro-direita.

Todo mundo aplaude que esse pessoal esteja agora tão enamorado da democracia. Mas eles não carregam ônus nenhum por terem contribuído para sua derrocada?

Não se trata de buscar desforra. É que a história mostra que a democracia se mostra mais frágil e incerta quando construída sobre a amnésia, sobre a negação do passado.

No Brasil, as cúpulas militares continuaram reivindicando a ditadura como um feito do qual se orgulham. Os políticos que serviram a ela e os empresários que dela se serviram foram incorporados à nova ordem sem que se exigisse deles um mínimo de reflexão sobre seu comportamento anterior.
Parecia que, se a democracia não era aceita como valor, estava igualmente bom que fosse tolerada por senso de oportunidade.

Estamos vendo que essa fatura um dia é cobrada - e é alta.

Se e quando retomarmos um governo democrático no Brasil, os desafios que ele terá que enfrentar serão enormes. Não só pelo país devastado, mas pela ferocidade de uma extrema-direita "empoderada" e que relutará em aceitar a derrota.

Seria necessário construir um cordão sanitário em torno do bolsonarismo - tal como, na França, se fez em torno de Le Pen. Nenhuma força aceitaria compor com ele, os meios de comunicação se recusariam a aceitá-lo como parte legítima do debate público.

Alguém acredita que isso acontecerá no Brasil? Alguém duvida que, se o PT voltar ao governo, os signatários do manifesto e os bolsonaristas estarão todos abraçados na oposição de direita - tal como, com a exceção de Ciro, estiveram em 2016?

Sem uma autocrítica real de todos eles, incluindo Ciro, sobre seu comportamento em 2018, fica difícil acreditar em palavras banais de amor à democracia.

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