Ainda sobre o "manifesto dos presidenciáveis" - aquele que, como disse Gleisi Hoffmann, incluía um veto contra quem quer que tenha votado contra Bolsonaro em 2018.
Um documento inócuo, de palavras vagas, cuja única importância é servir de declaração oficial do deslocamento de Ciro Gomes para o campo da centro-direita.
Todo mundo aplaude que esse pessoal esteja agora tão enamorado da democracia. Mas eles não carregam ônus nenhum por terem contribuído para sua derrocada?
Não se trata de buscar desforra. É que a história mostra que a democracia se mostra mais frágil e incerta quando construída sobre a amnésia, sobre a negação do passado.
No Brasil, as cúpulas militares continuaram reivindicando a ditadura como um feito do qual se orgulham. Os políticos que serviram a ela e os empresários que dela se serviram foram incorporados à nova ordem sem que se exigisse deles um mínimo de reflexão sobre seu comportamento anterior.
Parecia que, se a democracia não era aceita como valor, estava igualmente bom que fosse tolerada por senso de oportunidade.
Estamos vendo que essa fatura um dia é cobrada - e é alta.
Se e quando retomarmos um governo democrático no Brasil, os desafios que ele terá que enfrentar serão enormes. Não só pelo país devastado, mas pela ferocidade de uma extrema-direita "empoderada" e que relutará em aceitar a derrota.
Seria necessário construir um cordão sanitário em torno do bolsonarismo - tal como, na França, se fez em torno de Le Pen. Nenhuma força aceitaria compor com ele, os meios de comunicação se recusariam a aceitá-lo como parte legítima do debate público.
Alguém acredita que isso acontecerá no Brasil? Alguém duvida que, se o PT voltar ao governo, os signatários do manifesto e os bolsonaristas estarão todos abraçados na oposição de direita - tal como, com a exceção de Ciro, estiveram em 2016?
Sem uma autocrítica real de todos eles, incluindo Ciro, sobre seu comportamento em 2018, fica difícil acreditar em palavras banais de amor à democracia.
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