quinta-feira, 15 de novembro de 2018

O insano chanceler do Coiso

Nilson Lage

Em suas afirmações esdrúxulas, esse insano chanceler do Bolsonaro comete erro grave de semântica ao sustentar argumentos no conceito de “nacionalismo”.

Nacionalismo, de fato, reportava-se à origem – ao latim “natio”, de onde nascimento – e, pois, à etnia, já que as nações se constituíram a partir das trocas genéticas (na verdade, de mulheres) entre tribos de dada região, constituindo, em gestação milenar, padrão cultural e morfológico uniforme. 

Ocorre, no entanto, que o conceito, com tal acepção, torna-se inservível no mundo atual, mesmo onde ele é mais frequentemente suscitado, na Europa – que já não é mais aquela. Tive uma visão nítida da transformação do Continente em duas visitas à França, em 1969 e em 2004: em ambas, sentei-me no mesmo bar, olhando o povo dos Champs Élysées. Eram assustadoramente brancos, aos meus olhos cariocas; humanizaram-se, ficaram morenos, variados, com a brancura dissolvida entre outras cores. Em três décadas!

Na América, conceituar “nacionalismo” daquela forma primitiva não faz sentido. Aqui se misturaram os povos, e essa é a nossa essência. No Sul, então, mais ainda, porque o colonizador não exterminou os índios e índias, como nos Estados Unidos, de matriz luterana; casou com elas e com as negras da África, dando origem a nós, que importamos outros colonizadores e nos estamos miscigenando com eles. O conceito de “nação”, então, não pode ser étnico, nem se confunde com o lácio da imaginária Roma de Virgílio; funda-se em território, em língua, em sentimento, em escolha, em partilha da variedade que é nossa riqueza cultural.

Nem a raiz cristã é aquela, exclusiva, de mau humor, a que se reporta o indigitado chanceler. O cristianismo, como o nome diz e seu Patrono pregou, é o do Novo Testamento, que espanta do Templo os exploradores da fé, estende a mão ao que se cobre de chagas, ama o estrangeiro e respeita a prostituta. Insere-se em um passado, mas toma dele o melhor.

O rancor dessa malta, o elitismo da mediocridade, o apego a lendas e a exclusão do outro são, exatamente, o anticristianismo ou o anti-humanismo.

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