Em suas afirmações esdrúxulas, esse insano chanceler do Bolsonaro comete erro grave de semântica ao sustentar argumentos no conceito de “nacionalismo”.
Nacionalismo, de fato, reportava-se à origem – ao latim “natio”, de onde nascimento – e, pois, à etnia, já que as nações se constituíram a partir das trocas genéticas (na verdade, de mulheres) entre tribos de dada região, constituindo, em gestação milenar, padrão cultural e morfológico uniforme.
Ocorre, no entanto, que o conceito, com tal acepção, torna-se inservível no mundo atual, mesmo onde ele é mais frequentemente suscitado, na Europa – que já não é mais aquela. Tive uma visão nítida da transformação do Continente em duas visitas à França, em 1969 e em 2004: em ambas, sentei-me no mesmo bar, olhando o povo dos Champs Élysées. Eram assustadoramente brancos, aos meus olhos cariocas; humanizaram-se, ficaram morenos, variados, com a brancura dissolvida entre outras cores. Em três décadas!
Na América, conceituar “nacionalismo” daquela forma primitiva não faz sentido. Aqui se misturaram os povos, e essa é a nossa essência. No Sul, então, mais ainda, porque o colonizador não exterminou os índios e índias, como nos Estados Unidos, de matriz luterana; casou com elas e com as negras da África, dando origem a nós, que importamos outros colonizadores e nos estamos miscigenando com eles. O conceito de “nação”, então, não pode ser étnico, nem se confunde com o lácio da imaginária Roma de Virgílio; funda-se em território, em língua, em sentimento, em escolha, em partilha da variedade que é nossa riqueza cultural.
Nem a raiz cristã é aquela, exclusiva, de mau humor, a que se reporta o indigitado chanceler. O cristianismo, como o nome diz e seu Patrono pregou, é o do Novo Testamento, que espanta do Templo os exploradores da fé, estende a mão ao que se cobre de chagas, ama o estrangeiro e respeita a prostituta. Insere-se em um passado, mas toma dele o melhor.
O rancor dessa malta, o elitismo da mediocridade, o apego a lendas e a exclusão do outro são, exatamente, o anticristianismo ou o anti-humanismo.

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