Moro e Aras entram mal no caso ao desqualificar testemunho
Kennedy Alencar
É enorme a pressão sobre o porteiro que citou o nome do presidente Jair Bolsonaro no caso Marielle. O porteiro precisa ser protegido, não pressionado. Se ele mentiu, como diz o Ministério Público do Rio de Janeiro, claro que é preciso apurar. Também é claro que o presidente da República tem direito a uma defesa plena e ampla, mas isso tem de ser feito dentro da lei.
É estranho Bolsonaro e o ministro da Justiça, Sergio Moro, quererem usar a Polícia Federal como polícia política. O objetivo seria investigar o porteiro e a circunstâncias do depoimento dele.
A Polícia Federal é uma polícia de Estado, não é uma polícia de governo. Uma investigação tem de obedecer aos requisitos legais e não à vontade do presidente da República ou do ministro da Justiça.
Nesse contexto, entraram mal no caso duas autoridades que têm muita responsabilidade: Moro e o procurador-geral da República, Augusto Aras. Moro desqualificou depoimento do caseiro. Aras o chamou de “factoide”. O procurador-geral da República considerou Bolsonaro uma vítima. Ora, isso é atitude de engavetador-geral da República.
A investigação do caso Marielle tem quase 600 dias. Polícia Civil e Ministério Público até hoje não deram solução satisfatória. Pelo contrário, há diversas frentes abertas, inclusive com diferença de opinião em relação ao que pensava a antecessor de Aras, Raquel Dodge. Portanto, é preciso cautela para aguardar os desdobramentos.
O que ganharia um porteiro ao inventar uma história contra o presidente? Por que anotaria que Élcio Queiroz, um dos acusados de matar Marielle Franco e Anderson Gomes, entrou para visitar a casa de Bolsonaro?
O cuidado com o tema demanda que Moro e Aras tenham mais lealdade à Constituição do que ao presidente da República.
Nenhum comentário:
Postar um comentário