domingo, 27 de outubro de 2019

Horas no cinema


Ruy Castro
Um método infalível para decidir quanto um filme deve durar 
"Psicose" (1960), de Alfred Hitchcock, tinha 1h48m de duração. "Cantando na Chuva" (1952), de Gene Kelly e Stanley Donen, 1h43m. E "Casablanca" (1942), de Michael Curtiz, 1h22m. Terá faltado alguma coisa nesses filmes? Não ficariam ainda melhores se tivessem 20 ou 30 minutos a mais? Ou sua perfeição está justamente no fato de que seus roteiristas e diretores conseguiram mostrar tudo o que queriam naquele tempo tão curto?

Em meados do século 20, quan do, só nos EUA, o cinema atraía 90 milhões de espectadores por semana, a duração normal de um filme era de uma hora e meia. Com os chamados complementos --um cinejornal, um ou dois trailers, talvez um desenho animado--, completava-se uma sessão de duas horas, o que permitia ao exibidor fazer cinco sessões por dia: às 14h, 16h, 18h, 20h e 22h. As exceções --e, por isso, chamadas de longas-metragens-- eram mesmo exceções, como "E o Vento Levou" (1939), com 3h58m, "Os Dez Mandamentos" (1956), com 3h51m, e "Ben-Hur" (1959), com 3h44m. Sem contar o intervalo para o xixi.

Harry Cohn, o grossíssimo magnata da Columbia Pictures, tinha um critério para decidir o tempo que um filme devia durar: "Minha bunda. Quando começa a arder, está na hora de acabar". Foi o que regulou a metragem de obras-primas de seu estúdio, como "A Mulher Faz o Homem" (1939), de Frank Capra, "Nascida Ontem" (1950), de George Cukor, e "Férias de Amor" (1955), de Joshua Logan. Devia funcionar.

Mas seus sucessores na Hollywood de hoje não têm esse problema. Os filmes que eles estão fazendo, mesmo os mais vagabundos, de terror ou de super-heróis, duram um mínimo de três horas. Como se explica que lotem as salas e rendam bilhões?

Talvez porque permitam ao espectador se levantar no meio para ir lá fora a fim de comprar mais pipoca, ou mesmo sair para jantar, e voltar a tempo de pegar o final --sem prejuízo do que deixou de assistir.

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