quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

O vira-lata Elio Gaspari

Claudio Guedes

Complexo de vira-lata

Elio Gaspari, hoje, 11/12, na sua crônica das quartas na Folha faz o obituário elogioso de Paul Volker, presidente do FED, banco central dos EUA, de 1979 a 1987.

Na sua gestão, Volker aumentou seguidamente as taxas de juros impostas pelo FED aos papéis americanos, que atingiram 21% ao ano. Como as dívidas dos países do Terceiro Mundo estavam atreladas a estas taxas, a dívida externa destes países explodiram. Os recursos extras drenados dos devedores para os credores salvaram os bancos americanos que passavam por uma situação difícil.

Segundo Elio, “em 1982 não houve a tal “Crise da Dívida do Terceiro Mundo”, houve uma crise da banca internacional que emprestou dinheiro a quem não devia, mas os credores, com a ajuda dos governos caloteiros e do Fundo Monetário Internacional, inverteram o jogo.”

Para Elio, “a grande proeza dele [Volker], da banca e do FMI foi conseguirem que todos os governos devedores contassem aos seus povos que a crise era deles.”

Claro que é um detalhe que conseguiram este grande feito (sic) chantageando os ditadores de plantão e seus submissos ministros responsáveis pelas áreas econômicas. Apenas o jogo tradicional do mais forte, do mais poderoso, contra os mais fracos. Enfraquecidos ainda mais pelos que, aqui e na América Latina à época, eram na verdade empregados da banca internacional ocupando cargos públicos, nos ministérios e no Banco Central, panorama que mudou muito pouco desde então.

Elio explica: “Volcker tinha dois caminhos: quebrava os endividados do Terceiro Mundo ou quebrava os grandes bancos americanos. Seu serviço como presidente do Fed era defender o sistema financeiro dos Estados Unidos.”

Paul Volcker defendeu os interesses dos grandes bancos americanos e quebrou os países do Terceiro Mundo. Para Elio Gaspari ele foi um servidor público exemplar. Até faz sentido, na lógica de um americano frio e admirador de quem exerce o poder de forma autocrática.

Mas um brasileiro? Tecer loas para seu algoz?
Paul Volcker só teve virtudes? Sei.

“Por ‘complexo de vira-lata’ entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. O brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem”, palavras sábias do dramaturgo - e jornalista também - Nelson Rodrigues.

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