sábado, 25 de janeiro de 2020

Discurso do Intercept Brasil é desonesto e reacionário


Luis Felipe Miguel

Preguiça absoluta de entrar na polêmica sobre o artigo cretino do Intercept Brasil que bate novamente na surrada tecla dos "totalitarismos" simétricos.

Comunismo e nazismo são duas correntes completamente diversas. Um liberal honesto deve ser capaz de admitir isso.

A utopia comunista é uma sociedade de igualdade, de liberdade plena e de cooperação. Já o nazi-fascismo prega abertamente a hierarquia, a violência e a submissão ou mesmo o extermínio daqueles apresentados como inferiores.

São esses os valores básicos que orientam cada projeto político, os afetos que eles buscam mobilizar. Não poderiam ser mais diversos.

Não é preciso negar o caráter assassino do regime stalinista para chegar a esta conclusão.

Sim, a experiência histórica do regime que se afirmava comunista foi marcada pela violência em larga escala - assim como, aliás, foi a experiência histórica das sociedades que se proclamam liberais, responsáveis, por exemplo, pelos crimes do colonialismo e pela pauperização da classe trabalhadora.

Mas o holocausto dos povos judeu e roma ("ciganos") é uma consequência lógica, uma derivação do mito hitlerista da raça ariana. Poderia não ter ocorrido, pelo menos não da forma que ocorreu; mas estava contido, em semente, em toda a pregação nazista, desde antes da conquista do poder.

Já o gulag, ao contrário, não está incluído no marxismo, no discurso comunista ou na Revolução de 1917: é uma degeneração, uma aberração ou, quando muito, uma virtualidade não necessária.

Querer igualar uma coisa e outra, com o desacreditado enquadramento do "totalitarismo", ou ao menos impedir que a esquerda reafirme seu compromisso com essa tradição é tentar impedir que as alternativas anticapitalistas se coloquem no debate e reduzir nosso horizonte à reprodução da ordem hoje em crise.

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