segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

O caso do estupro da blogueira Mariana Ferrer


Repressão palestina em alguns, garantias jurídicas norueguesas para outros. Tudo isso no país mais desigual no mundo.
Vinícius Carvalho

O caso do estupro ocorrido da blogueira Mariana Ferrer num famoso beach club aqui de Florianópolis, o Cafe de La Musique, que voltou ontem aos Trending Topics do Twitter, me lembrou daquela frase do Groucho Marx, "eu nunca faria parte de um clube que me aceitasse como sócio.”

Digo isso porque já frequentei tal local, muitos anos atrás.

E nem vou botar "alerta de gatilho" no texto, porque vocês já são grandinhos e essa palhaçada de militância importada e adoção de conceitos e termos como "trigger", não cabe aqui.

Mas o caso do estupro em si, é angustiante por vários motivos, mas principalmente pela repetição de fatos, pelo padrão dos envolvidos, pelo padrão cultural do arco de acontecimentos que permearam o caso, pelo padrão social de classe da forma como a imprensa trata o caso e a impunidade dos envolvidos.

Essa subcultura professada por essa playboyzada escrota e pérfida aqui de Florianópolis, essa Cacaumenezização da vida cotidiana que ajudam a fundamentar e normatizar casos como este.

Essa molecada que mistura good vibes, jack johnson, bob marley, namastê e nazismo. Potenciais maníacos do parque com fedor de parafina.

O criminoso, um empresário de São Paulo chamado André de Camargo Aranha, tem o nome devidamente abafado e, pior, sua empresa não é mencionada em nenhuma matéria. Apenas dizem "empresário do ramo de marketing esportivo". E aqui não tratamos um caso de justiçamento ou vingança penal. O inquérito detectou que, de fato, o empresário dopou e violentou sexualmente a menina que, por sinal, o corpo de delito confirmou que ainda era virgem.

Pesquisei qual era a empresa do criminoso e não descobri sequer o nome fantasia. Até pesquisar os seus processos e aí descobrir que o violentador é um dos donos da Energy Sports. Empresário de jogadores de futebol, alguns famosos como o Shaylon, Gabriel Jesus, Ricardo Goulart, Hernane Brocador, Roger Guedes e o Luan, ex-Grêmio.

A repetição de fatos começa com, olha que "coincidência", que as pessoas envolvidas são subcelebridades, frequentadores dos tais beach clubs, puxa-sacos e "parças" de jogadores de futebol e um velho conhecido estuprador da cidade de Florianópolis, o herdeiro de um império das comunicações local, que há cerca de 12 anos, ainda menor de idade, estuprou junto com o filho de um delegado local, uma menina de 13 anos (também virgem), sua colega de escola, destruindo todo o aparelho sexual da vítima pois até brinquedo introduziram na sua vagina.

Ambos ficaram impunes e o caso foi tratado, pasmem, pelo delegado que era pai de um dos acusados, e tratado como um simples ato de "conjunção carnal".

O "herdeiro" do império das comunicações foi mandado para morar fora do Brasil um tempo. Ao voltar, no ano passado, saindo também de um beach club no mesmo bairro, o Jurerê Internacional, dirigindo bêbado e cheirado num Audi, por volta de 7 horas da manhã, atropelou 3 pessoas num ponto de ônibus e matou um jovem que estava esperando a condução para ir trabalhar. Em seu carro foram encontrados centenas de micropontos de LSD, além de MD e outras imundices sintéticas consumidas e vendidas impunemente por playboys como se fosse queijo coalho na praia, e também por fodidos e desocupados que sonham em fazer cosplay de playboy.

Voltando ao estuprador deste texto, o tal de Andre de Camargo, além de amigo do estuprador e atropelador de outrora, tem inúmeras fotos também com o Ronaldo Fenômeno (inclusive de viagens juntinhos), Gabriel Jesus, dentro de campo no Allianz Parque em comemoração de títulos com os jogadores do Palmeiras e etc.

O padrão cultural, é que essa subgente, está sempre frequentando estes mesmos locais, sempre os mesmos tipos de música, sempre as mesmas roupas, os mesmos cortes de cabelo, e sempre rodeados com um séquito de arrivistas, de puxa-sacos e de "amigas" (e eu só não as chamo de vagabundas, senão vai ter cirandeiro desvirtuando todo o texto para outro lado, mas acreditem, para mim elas são isso aí mesmo), como as supostas "amigas" da vítima do caso, que ARMARAM a emboscada para a blogueira junto com o violentador. Ou seja, elas mandaram a vítima se dirigir a tal local, já dopada, grogue e não escrevendo coisa com coisa no WhatsApp, pedindo ajuda, chegando lá, disseram que estavam já em outro local para ajudar a formar o álibi.

Essas meninas hoje estão testemunhando em favor do violentador.

Amigas, cuidado com as amizades de vocês, aquelas "amigonas do peito". Papo reto. Os homens então nem se fala, só que o homem corre menos risco porque ele é, em vias de regra, o agente portador da violência.

Já, sobre o bairro do Jurerê Internacional em si, eu só consigo lembrar do "Refletindo sobre o Inferno" de Bertold Brecht.

"(...) acho, refletindo sobre o inferno,
que ele deve assemelhar-se mais ainda a Los Angeles.

Também no inferno existem, não tenho dúvidas,
esses jardins luxuriantes
Com as flores grandes como árvores,
que naturalmente fenecem
Sem demora, se não são molhadas com água muito cara.
E mercados de frutas com verdadeiros montes de frutos,
no entanto sem cheiro nem sabor.
E intermináveis filas de carros
Mais leves que suas próprias sombras, mais rápidos
Que pensamentos tolos, automóveis reluzentes,
nos quais gente rosada, vindo de lugar nenhum,
vai a nenhum lugar.
E casas construídas para pessoas felizes, portanto vazias
Mesmo quando habitadas.
Também as casas do inferno não são todas feias
Mas a preocupação de serem lançados na rua
Consome os moradores das mansões
não menos que os moradores dos barracos."

Já o outro padrão cultural contido na violência cotidiana da tragédia brasileira é: enquanto bailes funks na Favela de Paraisópolis (ou no Complexo da Penha) são reprimidos com força desproporcional (e não estou aqui dizendo que concordo com tais bailes que, no meu ponto de vista, são verdadeiros umbrais humanos), o banditismo deslavado, estupros, espancamentos, consumo e venda de drogas em locais como Jurerê Internacional ou o Vivendas da Barra, contam com uma leniência da justiça que acabam por perpetuar tais crimes.

Repressão palestina em alguns, garantias jurídicas norueguesas para outros. Tudo isso no país mais desigual no mundo. É óbvio que vai dar merda, é óbvio que vai dar em desastre, e é óbvio que vai dar em extrema-direita.

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