quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Prefeitura de SP joga troféus e relíquias do Pacaembu no lixo antes da privatização

Revista Fórum

A prefeitura de São Paulo está jogando no lixo troféus e relíquias que contam a história do Estádio Paulo Machado de Carvalho, o Pacaembu, que será entregue à iniciativa privada, em um contrato de concessão de 35 anos, a partir deste sábado (25).

Segundo reportagem do jornal Agora, moradores da região flagraram duas pessoas vestidas com roupas de serviços de limpeza destruindo e jogando trofeús em uma caçamba ao lado do estádio.

O fotógrafo Edu Simões registrou uma caçamba cheia de relíquias do estádio. “Privatização do Estádio do Pacaembu ….. conquistas jogadas no lixo!! Literalmente”, escreveu Edu.

Segundo o jornal Agora, o presidente do conselho deliberativo da Associação Viva Pacaembu, Rodrigo Mauro, disse que a Concessionária Allegra Pacaembu não procurou a associação para fornecer um cronograma e dizer o que pretende fazer.

A principal preocupação diz respeito ao tobogã. “Se não fizer na marreta, como vai implodir com tantas casas antigas no entorno? Quantos mil caminhões vão sair dali? E o impacto no bairro? Tem estudo de impacto ambiental? Eles não se preocupam com isso”, diz.

Troféus e relíquias do Pacaembu são vistas em caçamba de entulhos que estava na pista de asfalto 
que circunda toda a parte interna do estádio, em frente ao vestiário masculino da piscina - Edu Simões

Jornal Agora

Taças e troféus que estavam no Pacaembu vão parar no lixo

Troféus que estavam guardados no estádio do Pacaembu (região central) foram encontrados no último fim de semana destruídos, em duas caçambas, ao lado do ginásio de esportes que fica atrás do tobogã. O complexo esportivo será entregue à iniciativa privada para concessão de 35 anos a partir do sábado (25).

O músico e professor Raphael Maureau, 37 anos, frequenta o complexo esportivo do Pacaembu e afirma que, por volta das 10h30 de sábado (19), duas pessoas vestidas com roupas do serviço de limpeza do estádio destruíam os troféus. A cena presenciada por ele aconteceu ao lado do ginásio. 

"Eles estavam pisoteando para jogar no lixo e eu não tinha entendido ainda o que estava acontecendo", diz. "A sensação foi bem ruim. Saber que está passando para a iniciativa privada e que tem um descaso com o patrimônio da cidade", afirma.

Maureau, que frequenta o local desde os 15 anos, diz que a cena, às vésperas da entrega para a concessão, o entristeceu. 

"É uma dor no coração. Passando para a iniciativa privada fica um receio, porque ela não tem compromisso com o bem estar social. Quando é o município, a gente ainda pode cobrar", diz.

Também no sábado, pouco antes de Maureau presenciar a destruição, o fotógrafo Edu Simões publicou em rede social foto com troféus jogados em caçamba justamente ao lado do ginásio. "É uma metáfora de conquistas sendo jogadas no lixo", afirma.

O fotógrafo critica a concessão. "Ao invés de investir em educação esportiva, vai se criar mais um shopping center. Ninguém precisa de mais um shopping na vida. Aqui precisava ser um verdadeiro centro de educação esportiva", diz.

Um funcionário do estádio, que não se identificou, afirmou nesta quarta-feira (22) que "o pessoal cresceu os olhos" sobre os troféus e que separou as partes metálicas para vender para a reciclagem, restando até a terça (21) apenas pedaços de madeira, plástico e pedra em duas caçambas colocadas no local.

Críticas
O presidente do conselho deliberativo da Associação Viva Pacaembu, Rodrigo Mauro, 38 anos, critica a forma como o patrimônio histórico foi abandonado e também lamenta a concessão do estádio. "É um absurdo [o que aconteceu com os troféus]. O brasileiro não tem memória, não tem uma cultura preservacionista", diz.

Segundo Mauro, a Concessionária Allegra Pacaembu não procurou a associação para fornecer um cronograma e prestar um esclarecimento sobre o que pretende fazer. A principal preocupação diz respeito ao tobogã. "Se não fizer na marreta, como vai implodir com tantas casas antigas no entorno? Quantos mil caminhões vão sair dali? E o impacto no bairro? Tem estudo de impacto ambiental? Eles não se preocupam com isso", diz.

Estacionamento
Além do estádio, a Allegra Pacaembu assume todo o complexo esportivo que fica atrás do tobogã e inclui piscina, quadras esportivas e ginásio. Também há um estacionamento até agora gratuito, com entrada pela rua Capivari. Mas começará a ser pago a partir de sábado (25). 

A gestão Bruno Covas (PSDB) concedeu o Pacaembu por 35 anos ao consórcio, por R$ 115 milhões.
Segundo a concessionária, o serviço será prestado pela Estapar e custará de R$ 5 até a primeira hora de uso a R$ 25 para até seis horas, entre outros valores intermediários.

A cobrança do estacionamento já preocupa frequentadores do complexo. "O pessoal vem para nadar e, de certa forma, cobrar pelo estacionamento já é uma forma de restringir o acesso", diz a professora de educação física Aline Lobo, 42 anos, que treina há dois anos na piscina.

Já o funcionário público Paulo Guimarães, 38, teme que as restrições cheguem a todas as atividades gratuitas para a população. "A piscina daqui é muito boa para treinar. Não tem nada garantido com a privatização", afirma.

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