quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

No fundo, todo liberal é um canalha


Vinícius Carvalho

Eu sabia que me arrependeria do dia em que saí em defesa do Porta dos Fundos contra os ataques que eles sofreram.

E este dia chegou. Eu só achava que ia demorar um pouco mais...

No fundo, esse novo humor brasileiro (que por sinal não tem graça, se vocês me mostrarem um vídeo engraçado do Porta dos Fundos, eu lhes provo que galinha tem dentes e, mais ainda, corro pelado toda a Avenida Rio Branco), mesmo tentando limpar a biografia, é diretamente co-responsável pelo neofascismo tupiniquim. Vocês podem me achar chato, arrogante e insuportável, mas é que quem cresceu ouvindo Gangrena Gasosa, Moreira da Silva, assistindo Hermes e Renato e morando mal, no meio de um monte de fodido hilário, não consegue achar graça em humor de branco do Leblon, de porto alegrense do Moinhos de Vento e de paulistano de Higienópolis. É humor de otário, de paga lanche, de piá de apartamento.

É igual botar o Foo Fighters, rock que mamãe gosta, pra competir contra o Suicidal Tendencies. É óbvio que o Suicidal Tendencies vai botar o Foo Fighters pra mamar. Foi que nem o UFC que rolou no Aeroporto do Galeão entre o Chorão e o Marcelo Camelo, é lógico que o CHEROLAINE da Baixada Santista vai dar um socão no mendigo chic da PUC-Rio.

Você pega o Pânico, o Pretinho Básico e o Porta dos Fundos e tem a certeza que aquilo é humor para cachorros paralíticos e com microcefalia.

Pois bem, dito isto, foi curioso ver aquele rapaz carioca rosado, mimoso e afetado, que atende pela alcunha de Fabio Porchat, no programa de outro jornalista medíocre, um rato de esgoto, emocionado, fracassado e de extrema-direita, Rica Perrone, equiparando e formando uma simetria entre Lula e Bolsonaro, e, pior, vendo saldo positivo no governo Bolsonaro por este ter tirado o PT do poder.

É burro, masoquista e merecedor de toda a violência ideológica que ele a sua horda de humoristas frustrados e sem graças sofrem. E eles só tem relativo sucesso por serem filhos de bacanas do RJ, porque talento não possuem, e pelo fato de nossa sociedade beirar a demência de dar views para aquele lixo.

Aí toma-lhe papai bancando as aventuras dos pimpolhos pra lá e pra cá.

Inclusive, um dos participantes do Porta dos Fundos, é um ex-dirigente do Flamengo, do continuísmo dessa mesma diretoria de extrema-direita e bolsonarista que está aí. Essa mesma que homenageia ditadores, militares e os deputados que quebram a placa da Marielle, e recusam homenagens ao Stuart Angel, ex-atleta do mesmo Flamengo, assassinado "na ponta da praia" pela ditadura militar após dias de tortura e asfixiado por fumaça de diesel com a boca introduzida no cano de descarga de um jipe. Esse mesmo participante é um notório reacionário, entusiasta do Partido Novo e Instituo Milenium e dono de um site de "humor" conhecido por plagiar os outros. Seus plágios inclusive viraram verbo, "kibar".

Não obstante, quando bandidos de sua torcida mataram um torcedor do Botafogo com um espeto de churrasco, ele foi correndo para o twitter contemporizar os assassinos, e, após uma passada de pano homérica e vergonhosa sobre um assassinato oriundo de uma briga de torcida estúpida, ele termina com a frase, "Flamengo, somos todos menos alguns". De fato, naquele dia, foi menos um torcedor do Botafogo.

Olhem como o Partido Democrata do Leblon e o Partido Nazista do Morumbi, no frigir dos ovos, se tocam. Um dos roteiristas e participantes do Porta dos Fundos, que sofreu ataque da extrema-direita integralista é, também, um entusiasta do extremismo direitista e inclusive divide a cama no seu clube de coração, o Flamengo, com homenageadores de gente que fuzilou a Marielle.

O 69 que deve rolar entre o Gregório Duvivier e o Antonio Tabet, virando menáge quando o Fábio Porchat entra no quarto, deve ser uma coisa dantesca, de dar inveja ao cineasta italiano Pier Paolo Pasolini quando o filmou o clássico "Saló - 120 dias em Sodoma". O problema é que a cropofagia aqui, ou seja, o ato de comer fezes por prazer, fica sob responsabilidade dos telespectadores.

É curiosa a lógica de preconceito de classe, de raça (contra nordestinos) e de ódio gratuito de Porchat. Mesmo após seu séquito de arrombados sofrerem ataques motivados por uma ideologia que prega o extermínio, ele, sentado no sofá de um neofacista, traça uma simetria entre um democrata nato de centro-esquerda, com um ex-militar terrorista e de extrema-direita.

No fundo, todo liberal é um canalha. Não é a toa que Mises defendeu Mussolini e Hitler contra a União Soviética. E aqui, Porchat e esses progressistas da Praça São Salvador fariam o mesmo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário