sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

A Savanização da Amazônia

 

“Savanização da Amazônia já está ocorrendo”, diz Nobre

O processo de savanização da Amazônia iniciou em algumas regiões e precisa ser evitado com o fim imediato do desmatamento e reflorestamento, diz Carlos Nobre

Por Daniela Chiaretti 

Há 30 anos o climatologista Carlos Nobre alerta para o tipping-point da Amazônia: o momento em que o desmatamento causará tamanho dano que a Amazônia deixa de ser a maior floresta tropical úmida para virar savana. Quando este desastre acontecer, uma emissão gigante de gases-estufa irá para a atmosfera, a temperatura da região aumentará, as geleiras andinas encolherão mais, os rios amazônicos sofrerão, a produção de grãos ficará inviável no Cerrado. A lista de impactos assusta.

Ultrapassar o ponto de não retorno é como esbarrar em um castelo de cartas. O impacto local às populações e à biodiversidade irá muito além da floresta. “Estamos na beira do precipício”, diz o cientista, uma das maiores autoridades no tema, resumindo o cenário atual. “Estamos vendo a savanização da Amazônia acontecer.”

O processo de savanização da floresta já iniciou. Temos que parar o desmatamento já e começar a reflorestar”

Nobre cita dados que apontam o início do processo no Sul e Sudeste do bioma. A estação seca já está de três a quatro semanas mais longa, o que vai modificando a vegetação e a fauna. Em parte do norte de Mato Grosso e no sul do Pará, a floresta já não absorve carbono. Nesta região, a temperatura na estação seca é 3°C mais quente do que era na década de 80. Há um aumento da mortalidade de árvores típicas do clima úmido desde a Amazônia boliviana e peruana ao Sul da Amazônia brasileira e até o Amapá e a Guiana Francesa. Registros de lobos-guarás, animal símbolo do Cerrado, foram feitos dentro da floresta, um sinal de savanização da fauna.

“Se a savanização da floresta passar deste ponto de não retorno, aí não adianta nada”, diz Nobre. Nos anos 90 escreveu um célebre artigo científico sobre o que era, naquele momento, apenas uma hipótese. Se o desmatamento da Amazônia chegasse a 20% ou 25% da floresta, o limite em que a floresta consegue superar a agressão e se regenerar teria sido ultrapassado. “Temos que impedir isso. Temos que zerar o desmatamento em no máximo cinco anos. Zerar. Zerar. Zerar. E começar a restaurar pelo menos 300 mil km2.”

Nobre busca soluções e investidores. Desenvolve o projeto “Amazônia 4.0” para, a partir de laboratórios modernos, promover a bioeconomia da floresta.

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