O UOL hoje traz mais uma matéria da série que está fazendo sobre o crime de peculato cometido por ex-assessores do ex-deputado que elogiava torturador no plenário, e que foram herdados pelos gabinetes de seus filhos. É um escândalo chocante de corrupção que em qualquer lugar do mundo derrubaria o presidente. Mas aqui nem 300 mil mortes derrubam o presidente. Nem as acusações claras e embasadas de que ele está cometendo um genocídio em tempo real. Nem as sucessivas e incríveis coincidências que fazem parecer que seu círculo íntimo é formado por apoiadores daquele apavorante genocídio do século XX. Parece que estamos do outro lado do espelho, um universo onde quanto mais coisa acontece, menos acontece.
Mas esse nem é o assunto deste post, o nariz de cera aí em cima é só pra lembrar porque não consigo ser ativo no microblog de 140 caracteres.
O que eu queria mesmo falar é de um detalhe perdido na matéria do UOL. Uma das envolvidas no esquema de peculato é prima da mãe dos 00. Até aí, normal. Juro, já tô achando isso normal. O que me espantou é que ela é casada com um coronel que está lotado, vejam vocês, no gabinete do Comandante do Exército.
Não que o coronel possa ser culpado por um possível crime cometido por sua esposa, mas não era pra rolar algum constrangimento?
Notem que semana passada, o blog de Andrea Sadi, insuspeita de qualquer isenção, deu um furo bomba: militares lotados no GSI haviam sido presos pela própria Justiça Militar por usar aviões da FAB para tráfico de droga mundo afora. Uma bomba. Repercutiu? Não.
Sabe o que deveria acontecer esta noite? No telejornal das 20h30, uma arte de um quartel com dutos jorrando dinheiro, mostrando todas as irregularidades cometidas por militares que vieram à tona desde que voltaram ao poder executiva. Todas. Não uma notícia aqui outra acolá, o conjunto da obra: a fabricação de cloroquina, o uso de aviões da FAB para transportar drogas, os gastos excessivos com cerveja, picanha, leite condensado e bonecos do Rambo, os gastos da Casa Civil que na verdade é militar para comprar a eleição dos presidentes da Câmara e do Senado. Tudo. No mesmo estilo editorial com que se cobriu a incrível orcrim que deu a seu líder um apartamentinho cafona de cômodos apertados e que na verdade não era dele. E claro, uma prensa no comandante do Exército e outra no Braga Netto pra perguntar o que ele sabe das milícias no Rio e não conta. Pro brasileiro poder ter uma noção real do que está acontecendo.
Mas estamos do outro lado do espelho, um universo onde quanto mais coisa acontece, menos acontece.
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