quinta-feira, 25 de março de 2021

Molecagem reincidente

Luis Felipe Miguel 

Filipe Martins, o assessor do genocida que fez sinal supremacista ontem no Senado, está ameaçando processar todos que o chamarem de supremacista.

Garante que estava apenas ajeitando a lapela do terno. Quem viu o vídeo do que aconteceu sabe que essa desculpa é um novo deboche.

Depois postou fotos de Lula e Felipe Neto fazendo gestos semelhantes. Mas mesmo um despreparado como ele sabe que o significado depende do contexto.

Os supremacistas brancos dos Estados Unidos fazem uso deliberado de símbolos ambíguos exatamente para depois dizer que era tudo inocente.

Não é como alguém que faz um protesto - atletas negros com o punho cerrado no pódio, por exemplo. A força moral do protesto está em assumir a responsabilidade pelo gesto.

É o contrário da provocaçãozinha baixa e covarde, preocupada em ter sempre uma porta de saída, desses neonazistinhas criados a leite com pera, que se acham espertos porque deglutiram as pretensas lições do charlatão Olavo de Carvalho.

Filipe Martins, aliás, é reincidente. É ele que, também por mera "coincidência", tem, na foto de abertura do seu perfil no Twitter, um verso do poema de Dylan Thomas que se tornou associado ao extremismo de direita por abrir o manifesto do neonazista que matou 51 pessoas na Nova Zelândia.

O verso entrou no perfil de Martins no mês seguinte ao ataque terrorista na Nova Zelândia. Mas foi só "coincidência".

No dia em que for pego fazendo uma saudação nazista, Martins vai dizer que estava só alongando o braço.

É possível pensar que o objetivo primordial da performance de ontem tenha sido causar polêmica e desviar um pouco a atenção da marca oficial de 300 mil mortos que o combo vírus + negacionismo presidencial alcançou ontem.

Talvez.

Mas não é admissível que um assessor do presidente da República faça molecagem durante a fala do presidente do Senado.

E menos ainda que essa molecagem tome a forma de um aceno ao supremacismo branco.

É incrível que tenhamos chegado a esse ponto. Mas, antes tarde do que nunca, é preciso exigir a demissão de Martins e que ele seja devidamente responsabilizado pelo que fez.

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