sexta-feira, 26 de março de 2021

O genocídio que está em curso vai muito além das vítimas diretas do vírus


João Ximenes Braga

Quando Etchegoyen e Temer se abraçaram, enfiaram suas línguas secas e bifurcadas na boca um do outro e com esse beijo selaram a PEC da Morte, congelando orçamento de Saúde e Educação, eu achei que era o fim do Brasil. Tolinho.

Era só o início do fim. O fim está sendo lento, doloroso e com requintes de crueldade.

Lendo agora sobre o orçamento 2021, vejo que o filho que saiu daquele beijo é ainda mais cruel. Quatrocentos e dez mil mortos depois (número de vítimas de Síndrome Respiratória Aguda Grave), as verbas para Saúde são quatro vezes menor que as destinada às Forças Armadas. 

Educação, Censo, Previdência, Seguro-Desemprego, fiscalização do desmatamento, está tudo sendo esquartejado em praça pública. Além do aumento garantido para os militares, única categoria do serviço público preservada do congelamento de salários, vai uma grana para obras realizadas por  emendas parlamentares, garantindo a reeleição dos congressistas que acreditam que os poucos sobreviventes desse morticínio votarão neles por causa de uma rua asfaltada ou uma bica d'água suja. E provavelmente estão certos. É a única lembrança de Estado que essas pessoas terão.

O genocídio que está em curso vai muito além das vítimas diretas do vírus. É uma perversão tamanha que condena uma ou duas gerações ao analfabetismo. Os que sobreviverem, claro.

O resultado disso será imediato: aos que sobreviverem, queda no consumo, queda da Economia, queda brutal na arrecadação e um arrocho maior em 2022.

No início desse governo eu falava que vivíamos a uberização da ditadura, já que a repressão era descentralizada. Chegamos na etapa da uberização da tortura. O retorno dos militares ao poder executivo no século XXI os vê mais sofisticados na guerra contra seu maior e único inimigo, o povo brasileiro.

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