segunda-feira, 29 de março de 2021

No tocante a cuestão do golpe, o que seria pior do que isso tudo que está aí?




A demissão do "chanceler" Ernesto Araújo, nesta segunda-feira, 29 de março, motivou entre analistas da mídia reações diversas, da quase euforia a preocupações com eventuais movimentos do núcleo fascista do governo - entendo que a expressão "ala ideológica", usada por muitos jornalistas e intelectuais que acompanham os fatos, é genérica e não define o que seria essa organização.

Logo em seguida, a demissão do ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, ex-chefe do Estado-Maior do Exército, mudou o humor dos comentaristas. Passou a predominar a percepção de que o presidente Jair Bolsonaro estaria sendo abandonado pelas Forças Armadas, mesmo tendo se livrado do incômodo responsável pela desastrada política de relações exteriores.

A dois dias do aniversário do golpe militar de 1964, quando costuma se inquietar o Clube Militar, berço do vice-presidente Hamilton Mourão, há de fato motivos para uma observação mais cuidadosa dos eventos.

Um deles, o caso do soldado Wesley Soares Góes, da PM baiana. No domingo (28/3), ele entrou em surto no Farol da Barra, disparou contra colegas e foi morto com dez tiros. Imediatamente os oportunistas de sempre ameaçaram com uma  sedição contra o governador petista do Estado, Rui Costa. 

A ameaça foi afastada pelo comando da Polícia Militar, mas a paz durou pouco: em Brasília, o presidente da Fundação Palmares, Sergio Camargo, publicou numa rede social que poderá incluir Wesley Góes na lista de personalidades negras da instituição. O soldado estressado seria transformado em herói nacional.

Todo esse caldo faz parte do movimento de reação do núcleo do governo ao processo de desgaste contra o qual o presidente não demonstra ter muitos recursos. Até mesmo em alguns grupos das redes sociais que o apoiam circulam mensagens chamando-o de "frouxo" e "indeciso" - os insanos querem o fechamento do Congresso e do STF.

Sobre a hipótese de uma aventura golpista gestada no Palácio do Planalto, uma palavra: covardia. Jair Bolsonaro é um indivíduo pusilânime, cuja carreira nunca passou de bravatas que, ou foram ignoradas, ou relevadas pelas instituições.

De qualquer forma, se for tomado por um surto como o soldado baiano e se aventurar contra a ordem democrática formal (porque contra essa mesma ordem, metaforicamente, já cometeu uma coleção de barbaridades), ou as Forças Armadas o contêm imediatamente, ou veremos o caos instalado nas ruas das nossas cidades.

Voltando às análises da imprensa, é preciso fazer uma leitura muito criteriosa do que vem sendo escrito ou dito por aí. É necessário, principalmente, considerar o currículo de quem diz o que se diz. Muitos desses analistas não podem fugir à responsabilidade de ter contribuído concretamente para chegarmos a esta situação.

E quando falamos de analistas, não podemos esquecer também os economistas e palpiteiros que se deixaram iludir pela promessa se um governo "liberal". Nomes associados ao Instituto Von Mises, representantes do chamado mercado, que sonharam com uma chuva de investimentos advindos de privatizações em baciada, "filósofos" da linhagem cínico-fashion, cientistas com interesses conflituosos em patentes, jornalistas especializados em agradar a página dos editoriais, parecem atordoados com a sequência dos acontecimentos.

De modo geral, respaldados pelas manifestações recentes do PIB, revelam uma crescente preocupação com o destino das instituições que ajudaram a desestabilizar. Mas nenhum deles, até o momento, admitiu publicamente que a saída é cada vez mais estreita.

No limite, diante da montanha de mortos pela incúria do governo, um pensamento perverso começa a brotar nas redes sociais: o que seria mais catastrófico? Uma ruptura violenta ou a sangria lenta e inexorável do país, submetido à insanidade dos que deveriam governá-lo?

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