domingo, 21 de março de 2021

Bolsonaro é protegido por fanáticos, cúmplices e, sem que tenham culpa, por pessoas de bom senso


Rejeição do presidente aumenta, mas ainda há gente demais que apoia seu projeto de mortes em massa

Luiz Fernando Vianna

Na pesquisa divulgada pelo Datafolha na semana que passou, destacou-se que a reprovação a Jair Bolsonaro por sua atuação no combate à pandemia subiu de 48% (em janeiro) para 54%. Mas, como sabemos, todo copo meio cheio está meio vazio.

A avaliação de que a atuação do presidente é boa ou ótima caiu de 26% para 22%. Ou seja, cerca de 22% da população ainda acredita que Bolsonaro esteja enfrentando bem o vírus!

A reprovação de seu governo subiu de 40% para 44%. Porém, 30% ainda veem a gestão como ótima ou boa. Para 43%, ele é o principal responsável pela tragédia que estamos vivendo em março. Logo, a maioria não acha que ele seja o culpado nº 1.

As interpretações acima, feitas pelo avesso do que os números nos apontam de imediato, nos provocam a pensar por que Bolsonaro balança um pouco, mas permanece longe de cair. O primeiro motivo para que ele não sofra um processo de impeachment é ter uma base popular não desprezível, embora em declínio.

Segundo artigo publicado pelos diretores do Datafolha, 14% da população é bolsonarista raiz, fiel a tudo o que o capitão prega. É gente que acredita em vírus chinês e cloroquina, rejeita máscara e vacina, pede intervenção militar – como se ainda precisasse com 6 mil militares ocupando cargos nos primeiros escalões do governo – e guerra a medidas baseadas na ciência. Sem meias palavras, são fanáticos.

Ainda que 14% pareça pouco, essa turma age com a bravura dos que não pensam. Espalha mentiras, persegue pessoas nas redes sociais, ecoa as palavras golpistas de seu líder. O presidente e seus filhos não deixam de dar carne para a matilha, mantendo-a assim com a raiva em dia. O alarido permanente é um dos pilares da sustentação de Bolsonaro.

O segundo pilar são as “instituições”, as tais que “estão funcionando”, como seus representantes gostam de dizer. No caso do Congresso Nacional, os parlamentares do Centrão aproveitam a queda de popularidade de Bolsonaro para sangrar o governo, abocanhar cargos e verbas, fazer negócios. Com tão ampla janela de oportunidade, quem vai querer impeachment?

Essa gente sabe que, se estamos chegando a 300 mil mortos, é fruto, em grande parte, do negacionismo criminoso de Bolsonaro, de seu trabalho incessante pela disseminação do vírus. Para alguém que sempre salivou com mortes em massa e seres humanos torturados, a pandemia é um sonho que se realiza. Competente à sua maneira, ele pôs no Ministério da Saúde o inepto general Eduardo Pazuello, que agora carrega dezenas de milhares de mortos nas costas. A maioria dos deputados e senadores é cúmplice no morticínio.

O terceiro pilar funciona à revelia de si mesmo. São as pessoas de bom senso, que não vão às ruas pedir o impeachment porque estariam, por conta das aglomerações, provocando mais mortes. Contribuiriam, de modo oblíquo, para o projeto bolsonarista de matar aos magotes.

Há quem escreva na imprensa que vivemos uma tragédia de dimensões tão gigantescas que não haverá saída a não ser protestar nas ruas. Não é desejável que isso aconteça. Ao contrário dos fanáticos de verde e amarelo, as pessoas de bom senso acreditam na ciência e não querem provocar as mortes de outras pessoas, a começar por seus parentes. Por ajuizadas, também sustentam Bolsonaro no poder.

Além de o Brasil ultrapassar a marca de 300 mil mortes pela Covid-19, veremos nos próximos dias mais cenas de gente morrendo sem atendimento. Se os insumos acabarem, muitos morrerão sufocados, como aconteceu em Manaus em janeiro, por clara omissão do governo federal – distribuiu cloroquina em vez de oxigênio. Vai ficando difícil arrumar palavras para definir Bolsonaro, já que “genocida” vem sendo cancelada pelos puristas. É uma pena, pois ele a merece.

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