Rejeição do presidente aumenta, mas ainda há gente demais que apoia seu projeto de mortes em massa
Na pesquisa divulgada pelo Datafolha na semana que passou, destacou-se que a reprovação a Jair Bolsonaro por sua atuação no combate à pandemia subiu de 48% (em janeiro) para 54%. Mas, como sabemos, todo copo meio cheio está meio vazio.
A avaliação de que a atuação do presidente é boa ou ótima caiu de 26% para 22%. Ou seja, cerca de 22% da população ainda acredita que Bolsonaro esteja enfrentando bem o vírus!
A reprovação de seu governo subiu de 40% para 44%. Porém, 30% ainda veem a gestão como ótima ou boa. Para 43%, ele é o principal responsável pela tragédia que estamos vivendo em março. Logo, a maioria não acha que ele seja o culpado nº 1.
As interpretações acima, feitas pelo avesso do que os números nos apontam de imediato, nos provocam a pensar por que Bolsonaro balança um pouco, mas permanece longe de cair. O primeiro motivo para que ele não sofra um processo de impeachment é ter uma base popular não desprezível, embora em declínio.
Segundo artigo publicado pelos diretores do Datafolha, 14% da população é bolsonarista raiz, fiel a tudo o que o capitão prega. É gente que acredita em vírus chinês e cloroquina, rejeita máscara e vacina, pede intervenção militar – como se ainda precisasse com 6 mil militares ocupando cargos nos primeiros escalões do governo – e guerra a medidas baseadas na ciência. Sem meias palavras, são fanáticos.
Ainda que 14% pareça pouco, essa turma age com a bravura dos que não pensam. Espalha mentiras, persegue pessoas nas redes sociais, ecoa as palavras golpistas de seu líder. O presidente e seus filhos não deixam de dar carne para a matilha, mantendo-a assim com a raiva em dia. O alarido permanente é um dos pilares da sustentação de Bolsonaro.
O segundo pilar são as “instituições”, as tais que “estão funcionando”, como seus representantes gostam de dizer. No caso do Congresso Nacional, os parlamentares do Centrão aproveitam a queda de popularidade de Bolsonaro para sangrar o governo, abocanhar cargos e verbas, fazer negócios. Com tão ampla janela de oportunidade, quem vai querer impeachment?
Essa gente sabe que, se estamos chegando a 300 mil mortos, é fruto, em grande parte, do negacionismo criminoso de Bolsonaro, de seu trabalho incessante pela disseminação do vírus. Para alguém que sempre salivou com mortes em massa e seres humanos torturados, a pandemia é um sonho que se realiza. Competente à sua maneira, ele pôs no Ministério da Saúde o inepto general Eduardo Pazuello, que agora carrega dezenas de milhares de mortos nas costas. A maioria dos deputados e senadores é cúmplice no morticínio.
O terceiro pilar funciona à revelia de si mesmo. São as pessoas de bom senso, que não vão às ruas pedir o impeachment porque estariam, por conta das aglomerações, provocando mais mortes. Contribuiriam, de modo oblíquo, para o projeto bolsonarista de matar aos magotes.
Há quem escreva na imprensa que vivemos uma tragédia de dimensões tão gigantescas que não haverá saída a não ser protestar nas ruas. Não é desejável que isso aconteça. Ao contrário dos fanáticos de verde e amarelo, as pessoas de bom senso acreditam na ciência e não querem provocar as mortes de outras pessoas, a começar por seus parentes. Por ajuizadas, também sustentam Bolsonaro no poder.
Além de o Brasil ultrapassar a marca de 300 mil mortes pela Covid-19, veremos nos próximos dias mais cenas de gente morrendo sem atendimento. Se os insumos acabarem, muitos morrerão sufocados, como aconteceu em Manaus em janeiro, por clara omissão do governo federal – distribuiu cloroquina em vez de oxigênio. Vai ficando difícil arrumar palavras para definir Bolsonaro, já que “genocida” vem sendo cancelada pelos puristas. É uma pena, pois ele a merece.
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